Raquel Baracat

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Síndrome do pânico: o medo de ter medo

Nos últimos anos muito se têm falado sobre uma alteração na saúde, precipitada principalmente pelo ritmo desestabilizador da chamada “vida moderna” (leia-se: vida sem freio).  Trata-se da Síndrome ou Transtorno do Pânico. Eu particularmente, me deparo no consultório com duas situações principais sobre este quadro: aquelas pessoas que, ao terem sintomas fisiológicos de ansiedade (vamos listar os principais abaixo) já constatam precipitadamente que sofrem da doença ou, por outro lado, aqueles que mesmo sentindo com frequência tais sintomas, ainda cismam que têm mesmo são hipoglicemia, pressão baixa e quadros afins.

Vamos lá. Primeiro precisamos entender o que é um episódio de pânico ou crise de ansiedade aguda: trata-se de um estado intenso de medo e/ou angústia, muitas vezes abrupto e espontâneo (ou seja, não associados diretamente com estímulos estressantes e não vêm em seguida necessariamente a eles) que são acompanhados de sintomas físicos tais como taquicardia, sudorese, “tremedeira”, sensação de falta de ar, formigamento, alterações do intestino, dentre outras e, quase sempre, a certeza de que “estou tendo um treco, vou morrer!”.

Tal estado, apesar de ser composto por sintomas clínicos, é sempre ligado a uma “causa emocional”. Desta forma, temos que a crise de pânico é sempre uma maneira de reagir do organismo, frente a condições difíceis que se apresentam no momento ou vêm sendo acumuladas e “aguentadas” por algum tempo. Estas reações podem ser pontuais, ou, se acontecerem com frequência e seguidamente por pelo menos um mês, caracteriza-se então a Síndrome do Pânico. É importante dizer que, a partir da ocorrência das crises, desenvolve-se também a preocupação/medo persistente acerca de ter outra crise de pânico. Na maioria das vezes, o que mantém a Síndrome é este medo, de sentir tudo aquilo de novo.

Os tratamentos que têm oferecido maior sucesso na redução e administração dos casos são uma combinação de tratamento medicamentoso com terapia comportamental. O remédio (usualmente os antidepressivos) estabiliza os neurotransmissores que se desequilibram durante a fase aguda da doença (ajeitam a pequena confusão química que se instalou no cérebro) e, a terapia comportamental ajuda no remanejo da nossa capacidade de reagir. As chances de tudo voltar ao normal com essa combinação é enorme, em um tempo bem razoável, de acordo claro com cada organismo.

Sempre importante dizer que, diante de qualquer sintoma físico, as hipóteses de causa orgânica devem ser sempre afastadas em primeiro lugar. Portanto, antes de tudo, procure um médico para certificar-se de que não há outro quadro físico responsável pelos sintomas.

Procure sempre um especialista em caso de achar que pode estar passando por isso. Os mais indicados são o psicólogo e o psiquiatra. De qualquer forma, seguem algumas dicas práticas:

- se você teve estes sintomas desagradáveis e acha que pode ter sido hipoglicemia ou algo do tipo se pergunte: no local que ocorreu o mal-estar, você conseguiu voltar depois ou teve dificuldade/medo/angústia de retornar? Se a resposta é sim, grande chance de ter sido uma crise de pânico, pois a preocupação em ter de novo a crise já está instalada e voltar ao local que ocorreram os sintomas é sempre difícil;

- você sente o “mal-estar” muitas vezes de madrugada, acorda com ele ”do nada”? Se sim, a chance é grande também, são as crises espontâneas noturnas.

- está sentindo cada vez mais dificuldade de sair de casa, ir a lugares sozinho, engajar-se em compromissos porque tem medo de passar mal? Está na hora de procurar ajuda. Está instalando-se o medo do medo!

Não espere você com este texto fazer diagnóstico, mas, da minha parte, espero que sirva para nortear um caminho de ajuda a quem por ventura possa estar perdido.

Até a próxima!

Dúvidas: fbvpsicologa@gmail.com

 

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos é Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.

Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.

Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.