Raquel Baracat

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Viajar é preciso

Tenho um conceito terapêutico sobre viajar, conhecer outros lugares, meus clientes sabem bem porque digo o tempo todo.

Viajar é uma ação usualmente associada a lazer, distração, esquecer de tudo, mudar de ares, sair da rotina. Eu vejo como possibilidade de enfrentamentos, treino de habilidades, reorganização de percepções.

Sem perceber, transformamos nosso dia a dia em um mundo particular, fechado e, devo dizer pequeno, bem pequeno. Gradualmente vamos diminuindo nossas fronteiras ao que podemos ver e ao que estamos passando, sem mais enxergar outras praças.

Sei que a vida pede que concentremos muito de nosso tempo em temas específicos como trabalho e família, mas cabe a nossa percepção não deixar que a vida diminua nossa capacidade de enxergar horizontes mais longínquos.

Planejar uma viagem não é somente um evento lúdico para alguns e trabalhoso para outros, é também um exercício de exploração de possibilidades, de organização e compilação de ideias e dados. Transformar desejo em realidade dá trabalho. Dizem que o planejamento é ainda melhor que estar lá, isso acontece porque o planejar insere o sonhar, encerra o esperar-para-comer-a-cereja-do-bolo.

 A gente começa a sair do próprio mundinho quando passa a colher informações sobre um lugar que não é o seu, que não possui fronteiras tangíveis. O planejar sair da “Flavialândia” é tão importante quanto, de fato, conhecer outro lugar, talvez outra cultura. É aí que mora o conceito terapêutico da coisa: estar em outro lugar, vivenciando situações novas ou diferentes das usuais, permite que possamos novamente colocar as nossas coisas nos seus devidos lugares, sem a absorção e abdução automáticas e diárias.

Ao retornar de sua viagem, pode escrever que, seus problemas continuam lá, suas conquistas também, mas provavelmente você verá a ambos com a amplitude de quem viu que o horizonte não termina ali na esquina. Diante da vastidão do mundo, o seu (mundo) toma outras proporções. As soluções, que antes só poderiam estar dentro daquele baú, agora podem estar em outros mil cantos da alma, as prioridades podem emergir de outras províncias, as certezas se fortalecem ou se relativizam. A “Flavialândia” começa a fazer fronteira com outros reinos.

Viajar desperta os sentidos, a capacidade de adaptação, de enfrentamento do novo e desacomoda. É isso, precisamos definitivamente desacomodar nossos limites. Vamos lá olhar o mundo, depois voltamos e decidimos como resolver as coisas, mas só depois, ok?

 

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos é Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.

Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.

Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.  Email: fbvpsicologa@gmail.com