Raquel Baracat

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Sobre um Futuro Movimento de Vanguarda?

O que é linguagem? O que é a palavra? Imagine all the people, imagine um mundo que não fala, balbucia, inventa cada um seu jeito de falar. Não seria essa uma explicação melhor do que seria o mundo? Essa reciclagem de linguagem basicamente travou por aí, no Dada (ismo?).

A Rússia, depois do Cubismo, contesta de uma maneira tão radical e maluca - e pouco conhecida, que dá a impressão de que hoje em dia somos literalmente robôs. Somos robôs incorruptíveis! De tanto sonho gasto nessa época da Rússia, ou inventamos um ser humano dentro da gente ou continuamos robôs crentes que criam, crentes que têm memória, crentes que sabem alguma coisa. Tudo é muito penetrado para o saber hoje em dia, muito programado - até Osho é programado pra entrar em você, programar-te (nunca seduzir-te, temos a impressão de ser seduzidos por alguma coisa) a ler, a saber, a entender. Citei Osho pois qual exemplo mais voltado a libertação do que a filosofia hindu?  Mesmo assim, mesmo que a gente saiba do tamanho da concepção hindu, somos programados tecnicamente, em forma, a aceitá-la a e consumi-la.

A coisa quase parou na Rússia. O espetacular artista Kassimir Malevitch inventou a mais absurda corrosão da linguagem, se tudo estava despirocando pros ares no mundo (e por consequencia, nas artes), ele acabou com o conceito normal de pintura e deixou a idéia tão livre que o homem finalmente poderia se libertar! O homem estava livre com a pintura de Malevitch! Por que? Por que ele não pintou mais uma madona com os peitos de fora, não pintou mais um espaço, não pintou mais o tempo. Decompõe espaço/tempo, desencana de representar! Representa o nada! E que coisa mais próxima da realidade (e do retirar o véu de Maya) senão ver ao vivo a decomposição do espaço e do tempo e a representação do nada! E conseguir deixar o homem livre e conseguir fazer a gente não existir mais! não há nada mais tangível, natural, do mundo objetivo. Agora a proposta é ir além, ultrapassar a realidade objetiva/natural. Para eu encontrar um universo (pictórico, no caso de Malevitch, mas existencial, no caso do ser humano pós-véu-de-Maya) objetivo, mas independente!

Por que Malevitch fez tudo isso? Por que ele, pela primeira vez na história, pinta um quadrado preto sobre um fundo branco. O Obelisco de 2001, ali, ao vivo, existencial. Num espaço Branco, o Nada, o quadrado preto, a forma livre de culturas pra você interpretar da maneira como quiser. não explicada, não sentida. É o movimento de Vanguarda "Suprematista". não há sentido, não há significado. O sentido é libertador (como se vê a filosofia hindu, da qual minha memória-chip crê ser mais sábio como Sócrates) Olhamos para a imagem e que seja a possibilidade de modelos, linguagem (não é esse o nascer?) Não é discussão formal. é mudar a relação das pessoas com o mundo. Significa, asism, que ninguém precisa de regra. É (na Rússia, atenção, Rússia) o processo de SOCIALIZAÇÃO = LIBERDADE (pelo menos, a proncípio, no mundo visual, através de Malevitch).

Sentido libertador/revolucionário, provocar e desestabilizar as pessoas para outras possibilidades.

A proposta de um mundo novo.

"Socialista"

A libertação cultural da pintura tira a Santa e o Cristo bebê do quadro e o que sobra? A auréola (o círculo, simbolo universal) boiando num fundo branco. Isso foi o que Malevitch fez. Transformou a pintura numa possibilidade universal. tem tribos africanas que enxergam só duas cores do arco-íris. Os Tupy-Guarany não enxergaram direito as caravelas chegando. Mas no arquétipo do inconsciente coletivo, todos enxergam um círculo. Sem cristo, a auréola, no quadro branco, vazio - espaço libertador.

Título desse quadro de Malevitch: "Quadrado Negro sobre fundo Branco".

Questão Homérica: "Isso é arte?"

Materialização do É.

Se o "Demoiselle D'Avignon" de Picasso quebrou com tudo, Malevitch quebrou com o tudo do tudo. Vanguardas: 50 anos depois de Malevitch, os minimalistas descobrem o potencial dessa noção de representação e pintam tudo "flutuando no ar". 50 anos depois! Já eram objetificados, robotizados.

Foi tal o nível de radicalização que chegou no Grau Zero da pintura: tirou tudo,até a cor. Título do quadro de Malevitch: "Quadro Branco".

Então, dando um forward, passando até a Torre Magnífica de Tatline (que dá um livro de descrição), o artista se enxergou a um ponto que ou ele mudava totalmente a si ou não poderia mais ser feito um novo movimento. Dada chegou.

O Dada é estado de espírito, não é arte, nem movimento. Que podemos fazer hoje? Tomar LSD é a grande obra de arte? Desistir? Negar-nos? Meditação transcendental... a coisa é mostrar que ninguém aqui é robô. Entao não foca seu filme no comercial, mas no reflexo da alma que é sua humana.

Tremor agora. Depois continuo. 

Todos os movimentos artísticos (inclusive as vanguardas Russas), buscam a Renovação: um fascínio pelo novo, pelo moderno, pela industrialização. Fascínio mesmo que recluso. O que foi "contra", era por muito amor ao ser, ao novo. A renovação, a mudança, a transformação decorrente da Revolução Industrial.

Olhando os movimentos e Vanguardas, são movimentos dialéticos de razão e emoção, subjetividade e objetividade. Força que produz reação contrária fazendo o desenvolvimento do novo e da produção. É a Produção do Novo que se focava a alma (inclusive no radicalismo de Malevitch) que - evidentemente - atrairá a atenção pelo caráter de originalidade. Mas atrair a atenção para o original é um mecanismo relacionado à intensificação de consumo! O I-Phone é uma atração pelo original.

Nesse sentido, produzir o novo nessas propostas artísticas, atende as demandas sociais de "produzir o novo" ("avidez de novidades" como diz Heidegger) e isso é, vendo bem, capitalista.

Após a Iª Guerra Mundial, os artistas viram que as máquinas, até então vistas no discurso de colaborar com a humanidade, trucidaram as pessoas, pela primeira vez na história, em massa. Pela primeira vez na história o homem não lutou só com espadas, pistolas e lanças. Mas com tanques! Com granada! a máquina serve para matar!

A justificativa da máquina era que ela traria o bem: ajudaria as pessoas. Salvaria o mundo. Mas em 1914, começou um processo bastante diferente do que as pessoas estavam acostumadas. "Vamos vencer pois temos ARMAS MODERNAS e poderosas" - Slogan inglês da época.

Mas os homens não voltavam para casa. E, se voltavam para a mulher ansiosa, estavam dilacerados. Sem braço, olho, perna, mão, pé. Isso inspirou os surrealistas.

Não era mais possível acreditar em nada. A palavra não vale mais nada e ninguém poderia acreditar nos discursos, Solução: ou morrer na luta ou se refugiar em algum lugar.

Marcel Duchamp foi a NYC. Outro monte de artista foi à Zurique, na Suíça. Escaparam, encontraram abrigo, mas se sentiam presos: não seria possível sair de lá, atravessar fronteiras.

Zurique, em 1916: pacata ciadezinha com vaquinhas e chocolate!

E inventam isso lá:

Em 1916, propõ-se em Zurique atividades que significariam uma espécie de reação e provoação ao comportamento das pessoas: cria-se num bar boêmio (cheio de putas e ratos) no centro da cidade uma ação, O CABARÉ VOLTAIRE - cabaré: espaço para desenvolver todas as expressões artísticas possíveis e livres com Voltaire: filósofo iluminista suíço, interessado na moral e na educação. Em seu livro "Emílio", faz um tratado sobre a educação, o que significa educar e como a sociedade educa ou corrompe o indivíduo livre.

O Cabaré Voltaire não se interessa em "produzir algo" (renovação), mas gerar um Questionamento (filosofia hindu) dos mecanismos do homem e do sistema: desetabilizar as certezas (budismo, Osho) Espanto! Incapacidade de compreensão se se usar mecanismos racionais do pensamento (Hare Krishna, Buda, Osho, Maharaji) O Iluminismo, o Racional: mundo pensado como "ordem e progresso" (frase na bandeira do país da ginga!) com linha objetiva, definida, que leva a guerra e a destruição.

Ser contrário a isso, resta-me a irracionalidade: ser oposto a esse pensamento.

Portanto, DADA (1 de Março de 1916) traduz esse Estado de Espírito (que nem é mais postura artística, mas postura de vida) com o mundo. Jogam-se.

"É irracional ser racional"

Então, agem de modo totalmente diferente.

Não produzem nada mais relacionado ao sistema.

Pessoas (não artistas) que não querem mais trabalhar na Inovação. Inovar é ideologia que leva, produz guerra.

Para os Dadaístas, não faz sentido produzir arte no modelo que se faz até ali: para comprar. Compra I-Phone também ué! Pra por na parede? Enquadrar, enquadrar-se no sistema.

Agem do modo mais radical que qualquer artista havia desenvolvido até aquele momento. Esse estado de espírito de contrariedade vaza pelo mundo, e o Vazio do Discurso, como a própria mídia, cria focos de resistência.

Não admitem ser chamados de Dadaístas! Só DADA. Pois não se enquadram a nada.

"Oi, o que você faz?"

"Eu sou dadá e faço dadá"

1916! Isso foi em 1916!

Hoje em dia as empresas que mais crescem são as de serviço de segurança!Que máquina bárbara age para todos almejaram mais e mais segurança, mais e mais isolamento, mais e mais minas, perigo, arame farpado, armas arams armas marams aramas armas armas armas amrs rams maramsmamrmamsmamrmsmamamrmsmammrms!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O que nos resta, robôs?

Ténica e forma? Digo, estranhamente digo, suspeito de tudo que creio, que arte é experimentar a energia! o além-matéria, além-forma e técnica: expugnada do programa científico. Arte é o Desconhecido. Temos, no fundo, uma verdadeira fragilidade perante tanta técnica: mas a promessa da técnica, como canto da serei, não pode cumprir. Leva o pensamento a descofiar do pensamento.

Entrar em si pra fazer todo utópico de novo, mas novo! Em si, meditação transcendental com foco público! Foco de verdade, não já fazer arte com mentalidade programada.

Dadá é o primeiro som da criança antes de aprender a falar. Representa a fala o controle e censura sobre o ser humano livre. Pré-razão é balubuciar, é INVENTAR SONS LIVREMENTE, o dadá.

O que é a Palavra?

É infantil, sem controle, irracional, sem controle.

Dadá é Budismo.

a fina flor da malandragem... quero que o senhor me dê um pouco de sua malandragem. a filosofia dele está no corpo, na forma dele andar, se comportar. Tá nele. A Utopia está dentro de Nós!

A Utopia está na Nova Nova Loucura Coletiva!

Só a Antropicalifagia nos une!

Índio com Europeu, com Iorubá: com Buda! com Dada! com Dalí!

Avisteia seringueira do Inconsiga-te

Nadú vidavem tilevá

Ouça a onça a rugir a honra

Missin Tutão!

Umassí Labá Sóssom

Ah, se do som

Ácido som

Há sedução

Há, sido, som

 

Vitor Steinberg é formado em cinema e história das artes pela FAAP, foi convidado por José Celso Martinêz Correia para trabalhar no Teat(r)o Oficina enquanto lia Paul Valéry em uma praia no sul da Bahia. Permaneceu na associação por três anos operando como editor de vídeo, dramaturgo e fotógrafo.