Raquel Baracat

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Falando em psicoterapia, vamos por os pingos nos is?

De vez em quando, ouço ao final de algumas sessões a seguinte frase: “puxa, olha só, falamos tanto e eu vim pra cá sem saber o que falaria para você hoje!”.

Acho interessante porque, quando a gente é recém-formada, tem por um bom tempo essa preocupação de “ficar sem assunto” com o cliente (um outro dia conto por que minha abordagem psicológica chama o paciente de cliente e não de paciente). E, não muito tempo depois, você aprende que psicoterapia trata de VIDA e esta é uma fonte de assunto inesgotável, basta você estar sensível à pessoa que está à sua frente, basta que você responda totalmente e a cada detalhe que vier dela.

A psicoterapia costuma iniciar com uma queixa específica, quase sempre já em um nível de sofrimento grande para quem procura. A verdade é: quem não está neste ponto, dificilmente busca ajuda. Temos uma cultura de saúde que privilegia o tratamento (quando já tem algo errado) e não a prevenção, em todas as instâncias.

É assim que funciona e, tudo bem começar desta forma, já que o melhor da psicoterapia vem depois que a queixa inicial é diluída ou resolvida: a pessoa aprende que se preparar para os próximos “perrengues” é muito mais interessante do que ter que correr atrás deles.

Eu costumo chamar de amadurecimento da terapia, é onde paramos de apagar fogo e começamos a construir pontes. É também onde o vínculo com seu terapeuta  favorece sua autoconfiança, e as conquistas que começam a aparecer dão uma sensação de “time que está ganhando”.

Por essas e outras, está claro que psicoterapia não é para “loucos”? Está claro que não é vergonha ser encaminhado a um psicólogo ou psiquiatra ou pedir ajuda a um deles?

Gente, o conceito de loucura prevê a baixa ou nenhuma capacidade do indivíduo de colaborar com o mundo através de uma consciência de si mesmo, de seus comportamentos e consequências dele. Quem infelizmente desenvolve este estado, nem consegue ser tratado por psicoterapia, pois não tem capacidade de envolver-se no processo, ou porque o pensamento não está intacto, ora porque a afetividade está comprometida. Sem esses elos não há terapia. A maioria de nós, apesar dos problemas, tem essas capacidades preservadas ou pelos menos o suficiente para conseguirmos nos beneficiar de uma ajuda psicológica.

E aí, sempre teve curiosidade ou acha que precisa de um help? Encha o peito de coragem e procure um profissional! Prefira as indicações de pessoas confiáveis que já passaram pelo processo e, se não houver empatia com o terapeuta na consulta, procure outro, não há problema nisso. São várias abordagens e, em cada uma delas o profissional tem posturas diferentes em relação ao seu cliente e vínculo. Encontre o modelo que mais o deixa à vontade, sempre lembrando que, numa primeira sessão ninguém fica à vontade, tenha sempre um pouco de paciência!

Tem uma frase de um psicanalista famoso chamado Carl Jung que explica bem o que é a psicoterapia e diz o seguinte: “o principal objetivo da terapia psicológica não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor.”.

E gente, cá pra nós, é claro que podemos passar pelos sofrimentos da vida sozinhos e sobreviveremos, mesmo sem ajuda. Mas a questão é: a que custo? Se a dor existe de qualquer forma (e a terapia não nos livra disso), não podemos pelo menos tentar passar por isso com o menor custo possível? É isso que a psicoterapia deve fazer pelo mundo.

Anima?

Pessoal, fico à disposição para responder dúvidas através do e-mail:  fbvpsicologa@gmail.com

Até a próxima!

 

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos é Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.