Raquel Baracat

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Parece tão fácil!

Me perguntam o que é o mais difícil para o ator no cinema “O duro é decorar o texto, né?”,  “Deve dar uma vergonha toda aquela equipe em volta.” , “Tem que fazer laboratório?”. E já ouvi várias vezes “Parece tão fácil!”. Muitos atores se incomodam com esse comentário, alguns se irritam de verdade. Eu vejo de outra forma.

O trabalho do ator é bastante árduo sim, demanda muita pesquisa, estudo, ensaios, entrega tudo para construir um personagem verdadeiro. O instrumento que um ator tem para fazer isso é ele mesmo, seu corpo, sua voz, sua fisionomia. O ator tem que expor seus sentimentos, sua raiva ou alegria, sua sexualidade, seu amor e os quais forem solicitados pelo personagem. Por mais que haja a entrega ao personagem o ator também está ali, exposto para todos verem. Isso não é nada fácil!

Mas é justamente quando todo esse trabalho desaparece e vemos apenas o personagem vivendo aquela estória que identificamos um ator de talento. Muitos atores geralmente trabalham no “piloto automático”, conseguem reproduzir de modo brilhante uma determinada ação ou reação à uma situação da cena, mas por algum motivo não funciona, pois está faltando o mais importante. O personagem não tem vida.

Para conseguir dar vida a um personagem você precisa acreditar nele, conhecer sua história, seus problemas, suas virtudes. Para atingir esse estado alguns atores imergem em seus personagens de tal forma que realmente leva um tempo para sair dele depois do trabalho finalizado. Um exemplo recente foi Daniel Day Lewis que moldou o personagem Lincoln de forma até obsessiva, se isolando e se aprofundando em pesquisas em documentos da época do Presidente.

 

Daniel Day Lewis pesquisou discursos e anotações feitas pelo seu personagem para montar o que vimos na tela. Como não havia registros de voz do Presidente ele se baseou em relatos contemporâneos e conseguiu achar aquela voz enfraquecida e nasal. Também se apoiou em diagnósticos médicos que apontavam em Lincoln certa depressão e melancolia, optando assim por aquela postura curvada e olhar neutro.

O cinema é uma arte que exige repetição. Eu mesmo já passei por experiências de cenas que conseguimos finalizar em apenas 3 ou 4 takes, mas também já tive situações em que foram necessárias mais que 10. Um avião passa atrapalhando o áudio, alguém erra a fala, o boom (microfone) entra em quadro ou simplesmente a cena não atingiu o que o diretor gostaria. São muitos os problemas que exigem que uma cena seja filmada novamente e se o ator não tiver o personagem vivo dentro de si, não conseguira atuar no take 34 com o mesmo instinto e estimulo pessoal que nas primeiros takes.

Então, se no futuro, depois de ver algum filme em que eu atuei, você me encontrar e me disser, talvez com ar irônico “André vi seu filme, mas posso falar? Até eu faria igual”. Acredite, vou me sentir lisonjeado!

Beijos e abraços e bons filmes a todos!

André Luis Camargo é ator em projetos de cinema desde 2010, participou de quatro curtas e pequenas participações em dois longas metragens. Em 2012 protagonizou seu primeiro longa metragem ainda a estrear. Está participando de dois longas como coadjuvante e um curta metragem ainda é pré-produção e também tem projetos de estrear peças de teatro.

 

 

Email:  andre@adiant.com.br e Fan page: www.facebook.com/AndreCamargoAtor