Por que sempre remediamos, ao invés de prevenir? Semana 19-01
É melhor prevenir, que remediar. Quantas vezes você já ouviu esta frase desde a infância? Sim, eu também, zilhões de vezes.
E então, você tem a impressão de que mesmo que o ideal seja esse, é tão difícil fazer acontecer o tal do prevenir, certo? Quantas vezes você obedeceu a sua mãe e estudou um pouco por dia para não acumular para a prova? Quantas vezes economizou um pouco por mês para pagar IPVA no início do ano despreocupadamente ou, fazer aquela viagem de férias com tudo já pago ou com o dinheiro guardadinho? Se respondeu “sim, eu faço isso!” a todas as minhas perguntas, você é uma exceção.
O ser humano tem como característica primária o engajamento comportamental (basicamente: eu faço algo), quando existe uma conseqüência perceptível e temporalmente presente nas redondezas (basicamente: se eu ganhar algo ou se eu fugir de me dar mal). É essa a relação simples e básica que rege o comportamento. Toda vez que as conseqüências não estão presentes ou percebidas pelo caboclo, o comportamento dificilmente sai, a não ser que esteja regido por uma regra bem estabelecida e tão forte quanto o próprio ambiente externo (estes são, provavelmente, as exceções que citei no parágrafo anterior). As pessoas que, pela aprendizagem de vida são do tipo mais rígido, podem apresentar um perfil mais preventivo e menos procrastinador (hã?). Sim, a procrastinação é o nome dado ao ato de postergar tarefas.
O fato é que na prevenção, a consequência está usualmente looooonge, distaaaaante: eu faço agora para me beneficiar não sei quando, ou ano que vem. Isso desanima a maioria das pessoas que, acaba sendo regida por situações mais imediatas do tipo: ao invés de guardar o dinheiro para o IPVA do ano que vem, está longe né? Eu compro aquela calça que está em promoção HOJE!
A maneira mais salutar de viver seria misturar as duas formas. Responder às situações atuais, bem como treinar o engajamento em circunstâncias de longo prazo. Veja, eu disse treinar. Estas dependem muito de treino consciente porque dificilmente são instaladas desde a infância e se tornam naturalmente praticadas. A criança é altamente imediatista e os pais sem perceber e por facilidade de vida acabam não promovendo a cultura do “um pouco por dia” ou “não faremos isso porque será melhor pra você mais tarde”.
O duro de priorizar o imediato é que a médio e longo prazo, as consequências da falta de prevenção aparecem e, a gente tem que correr atrás do prejuízo.
Talvez as melhores estratégias para mesclar as duas formas de viver, sejam tentar diminuir o longo prazo da prevenção, estabelecendo metas mais curtas: se o IPVA é só ano que vem (afinal, o desse ano não dá mais tempo, já estourou por aqui), que tal pensar nele mês a mês, como se fosse só hoje o seu esforço? E, a cada mês se renova a dedicação, sem projetar que seu esforço só acabará daqui a 12 meses. É um “jeitinho brasileiro” de tornar o treino mais eficiente, diante das nossas tendências imediatistas e pode ser aplicado na maioria das situações de longos períodos.
“É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê.”
(Marcelo Camelo)
Boa sorte e boa dedicação!
Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.
Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.
Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado. Email: fbvpsicologa@gmail.com