Eleições, Copa do Mundo e Carnaval - Coluna Psicologia e Comportamento por Flavia Bertuzzo
Vamos falar de eleições, mas não de política.
Vamos falar do aspecto comportamental deste processo de escolha que, a meu ver, teve um sabor diferente neste fim de semana, em relação pelo menos aos últimos anos.
Senti de novo desde as Diretas Já, um imenso clima de patriotismo, envolvimento emocional e engajamento. Era uma criança na época da eleição de Tancredo Neves para presidente, mas me lembro perfeitamente da atmosfera de revolução, mudança e “brasileirismo” na veia.
Há uma semelhança de contingências daquela época e nesta eleição. Ambas ocorreram em situações de comoção nacional e necessidade de libertação do atual sistema ou governo vigente. O povo clama.
O que comove, une e fortalece as escolhas. Não quer dizer que as melhores decisões sejam tomadas, mas a dúvida desaparece, o envolvimento emocional encoraja o caboclo.
A eleição de um governante, por outro lado, deveria ser pautada na escolha consciente do melhor programa de governo e/ou do candidato mais preparado para a gestão, mas observa-se que o aspecto que influencia historicamente tal processo é prioritariamente emocional, que expressa ou a necessidade pessoal, ou a necessidade nacional:
“eu voto em quem me tira da miséria com o bolsa-família”
“eu voto em quem me tira da miséria com o bolsa-família”
ou
“votamos para tirar a corrupção instituída no poder. Muda Brasil!”
Há claro, eleições mais discretas, de manutenção de governos já instalados e funcionais, por exemplo, e nestes casos o fator emocional fica mantido, mas sem característica de virar a mesa.
Neste domingo foi diferente. Teve clima de Copa do Mundo e torcida na apuração feito escola de samba do Rio de Janeiro.
Toda decisão que é invadida por um sentimento mais intenso, seja ele na forma de necessidade ou reação, tende a desviar ou nublar o encadeamento racional das idéias. Ontem, ao final da apuração para o governo de Pernambuco, quem o povo queria ver, ouvir e tocar era a família do extinto Eduardo Campos. A viúva e seus filhos viraram uma espécie de Igreja por lá. O novo governador, que por sinal foi apoiado pelo clã do ex-candidato à presidência ficou em segundo plano.
O brasileiro então vota errado? Não sabe escolher?
Difícil uma análise imparcial entre o bem e o mal.
O brasileiro vota assim como torce por seu time, ele adota, ele adora.
Collor, (re) eleito para o senado, só pode ser um time de futebol, que joga mal, cai para a terceira divisão, é mal administrado e o fulano continua lá, apoiando, comparecendo e pagando a mensalidade de sócio-torcedor.
Por outro lado, se ele não tem um time de coração, ele é capaz de se unir a tantos outros e lutar por uma mudança real, porque aí, a comoção vem de outro lugar, da indignação dos iguais a ele.
Esse é o povo brasileiro.
Educá-lo a escolher o melhor seria educá-lo a entender sua emocionalidade e o quanto esta atua em suas decisões.
Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental de adultos e famílias, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil e proprietária da Villa Saúde – Psicologia & Cia, uma proposta multidisciplinar e inovadora de fazer saúde íntegra. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado. Contato: villasaudepsicologia@gmail.com e Facebook: Villa Saúde - Psicologia & Cia