Raquel Baracat

View Original

Uvas viníferas – Cabernet Sauvignon

 

No post de 09/12/13 foi dito que, para um conhecimento básico sobre vinho, é essencial alguma noção de uvas, tipos de vinhos e harmonização. Ali se falou sobre os tipos de vinhos e, nos posts de 15 e 22 e 28/12/13, sobre harmonização, ainda que superficialmente.

É hora de falar um pouco, e o farei de forma intercalada com outros temas daqui por diante, sobre algumas uvas principais, tintas e brancas, as chamadas uvas internacionais, que, radicadas na frança, de lá saíram para ganhar o mundo. Mas, oportunamente, falaremos também de uvas da Itália, Espanha, Portugal, Alemana, Hungria, Grécia etc.

De uns cinquenta tipos de uva com importância comercial, umas trinta são realmente relevantes, de modo que conhecê-las aos poucos, para fixar suas características, ajudará a compor um banco de dados de aromas e sabores na memória, útil nas mais variadas situações.

Hoje, sob foco, a Cabernet Sauvignon (ou simplesmente CS), uma das principais uvas do planeta, dada a facilidade com que se adapta a solos variados devido à sua resistência a pragas, daí ter se espalhado pelo mundo, originando ótimos varietais e desempenhando papel fundamental em vinhos de corte (assemblages).

A CS decorreu do cruzamento da Cabernet Franc com a Sauvignon Blanc, daí o nome Cabernet Sauvignon.

É oriunda de Bordeaux, onde entra nos cortes clássicos do Médoc (apelação na margem esquerda do rio Gironde, Bordeaux) em percentual predominante, com complemento de Merlot, Carbernet Franc e Petit Verdot (e, mais raramente, com Carmenère e Malbec, que praticamente foram banidas do corte após a devastação dos vinhedos europeus pela filoxera no fim do séc. XIX).

Entre os aromas que a caracterizam há cassis, pimentão, ameixas, violeta, amoras, cravo, dentres outros. Com casca grossa, é rica em taninos, dando origem a fermentados um tanto duros quando jovens, mas que amaciam com o tempo.

Pode-se dizer que uma baga de CS tem características únicas e reconhecíveis que a diferenciam de uma uva Pinot noir (PN), de uma Cabernet Franc (CF) etc. Por exemplo, a CS é mais escura e tem casca mais grossa que a PN.

Mas é no vinho que essas diferenças se acentuam: um vinho de CS jovem, em condições normais, deveria ser rubi escuro, às vezes bem encorpado, e, no aroma e nos sabores, lembrando frutos negros, enquanto que um vinho de PN deveria ser de um vermelho mais claro, de corpo bem mais leve que o CS, com menos taninos e remetendo a aromas e sabores de frutos vermelhos e silvestres.

Portanto, um bom e divertido exercício que já se propõe é primeiramente comparar, por exemplo, vinhos de cepas diferentes, para, posteriormente, comparar vinhos de mesma cepa, mas de lugares diferentes. Mas por que vinhos de mesma cepa e de lugares distintos?

Na verdade, há diferenças entre vinhos feitos com a mesma uva, a depender da região onde foram produzidos, dos terroirs (que diferem um do outro), do produtor, do uso de madeira, do uso de fermenentação mololática (que transforma ácido málico em ácido lático, tornando a bebida mais macia, mais redonda), da safra, do regime pluviométrico, se choveu durante a safra etc. Esses fatores podem dar identidades totalmente distintas a vinhos feitos com um mesmo tipo de uva.

Já se disse, por exemplo, que um CS de Bordeaux está mais próximo de um Merlot de Bordeaux do que de um CS do Chile. Razão: em Bordeaux as condições de clima, o savoir-faire (a técnica tradicional dos vinhadeteiros locais), a adaptação das uvas ao terroir local, dão aos vinhos certas características, certo modo de expressão, mesmo que feitos de uvas diferentes, por paradoxal que possa parecer.

Essa expressão da terra num CS bordalês o torna difetente de um CS chileno, a ponto de estar mais próximo de um merlot bordalês.

Mas, para a finalidade dessa experiência com objetivos didáticos, melhor que, pelo menos inicialmente, as comparações se façam entre vinhos de uvas diferentes.

Procure por vinhos de mesmo nível de qualidade, mesma faixa de preço, e de mesma safra ou safras próximas, para uma comparação que não se contamine por critérios que possam interferir de forma negativa para a finalidade da experiência.

Vinhos de guarda, envelhecidos e caros, não devem ser comparados com bons vinhos de preço médio, de safras recentes e que devam ser tomados já nessa fase de juventude, sob pena de declinarem, aliás, precocemente, se comparados aos vinhos de guarda.

Isso porque o vinho simples – aliás, como a grande maioria - já sai pronto da vinícola; um vinho melhor pode estar palatável quando colocado à venda, mas terá seus taninos amaciados aos dois ou três anos a partir da safra, alcançando seu apogeu com essa idade; e um vinho de guarda, nessa mesma idade, estará apenas engatinhando, ainda tânico e sem aromas, longe de sua maturidade.

E como só posso concordar com a feliz frase atribuída a Benjamin Franklin, de que “O Vinho é a prova viva de que Deus nos ama e deseja nos ver felizes”, só me cabe desejar a vocês que desarrolhem uma boa garrafa e celebrem a vida, sempre em boa companhia.

Bons brindes!

Miguel Cordeiro Nunes

Advogado graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, com especialização em direito Processual Civil PUC-COGEAE e LLM – Direito do Mercado Financeiro e de Capitais, pelo IBMEC. Atua no setor financeiro e bancário em instituição financeira. Contato: miguelcn@terra.com.br