A ditadura da vítima
Sei que corro o risco de parecer repetitivo ou ‘puxa saco’. Mas confesso que nos últimos anos aprendi muita coisa com meu amigo e mestre José Orlando. Uma delas, que na realidade não apenas aprendi, mas comecei a reparar o quão comum é, foi algo que ele chamou de ‘a ditadura da vítima’.
A primeira vez que mencionou isso para mim, foi em um papo informal, há alguns anos, onde eu perguntava sobre uma pessoa que supostamente vivia ciclos de sofrimento intermináveis. Foi quando meu amigo e xará José me disse: “Zé, que sofrimento nada. Ela (a pessoa) é que pega as coisas e coloca nas costas. Com isso vive cheia de problemas e se vitimiza. Os outros, por sua vez, vivem com pena dela, acham que é uma sofredora. Ela então, se enche de auto piedade, aquele sentimento de coitadinho de mim, o que faz com que as pessoas prestem mais atenção nela e vejam o quanto as coisas dão errado e o quanto o mundo é injusto com ela. Para reter a atenção e justificar possíveis falhas, ela novamente se enche de problemas e afazeres. E então o ciclo recomeça”
Bingo! Já havia reparado que algumas pessoas mantém constantemente esse padrão, mas não tinha percebido a quantidade de pessoas que vivem isso. Não podem estar livres de problemas, que arrumam alguns. Conhece alguém assim? Confesso que conheço ao menos uma dúzia, em diferentes graus. Algumas, vez ou outra entram nesse ciclo. Outras simplesmente não conseguem sair.
Ou estão sem dinheiro, ou estão com problemas no trabalho, ou estão doentes, ou com problemas na família. E se não tiverem nada disso... arranjam qualquer coisa que possa colocá-las com esse sentimento ou pegam os problemas dos outros, só para depois de um tempo dizerem o quanto estão sobrecarregadas.
Alguns usam isso para receber atenção, outros para ganharem carinho, outros para reforçarem sua sensação de importância perante os demais. Só que como qualquer comportamento, isso se torna um padrão e depois de um tempo a pessoa não consegue mais agir diferente. Repete insistentemente isso sem perceber, como um disco (ou CD) riscado. E o pior. Não entendem porque a vida não muda, não melhora.
A carta do Dez de paus no tarô (cuidado com o preconceito, o tarô é um estudo profundo do comportamento humano) representa bem isso. Mostra um homem carregando 10 bastões, com muito sofrimento, injúria, quase sucumbindo ante tantas provações. A carta, no entanto, não mostra o que o levou a isso. Não mostra se os ‘fardos’ lhe foram dados ou se ele foi apanhando os ‘problemas’, que não eram seus, pelo caminho. E pessoas que vivenciam isso, às vezes não percebem também.
Porém, outras vezes percebem e criam uma espécie de ditadura aos que a cercam para que sintam pelo sofrimento que passam. Controlam os outros não pela força, mas pela culpa e a piedade que os fazem sentir.
Infelizmente, não percebem que só atraem para si coisas negativas e que ao fazerem isso, perdem o foco no que realmente precisa ser feito. Confundem as coisas, acreditando que para haver conquista e merecimento, antes deve haver sofrimento. Errado. Antes da conquista deve haver sim esforço, trabalho e foco. Simples assim. Não confunda as coisas.
Dr. José Carlos Carturan Filho
Head Trainer da Elleven Desenvolvimento Humano, especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP/EPM (Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina) e manter Practitioner em PNL formado pela International Trainers Academy - Londres.
MBA em Gestão de Saúde e Marketing, professor do MBA de Gestão em Vendas da Universidade Paulista – Disciplina: "Comportamento do consumidor" e Cirurgião Dentista.
Formação em Hipnose Ericksoniana e Hipnose Clássica pela UNIFESP/EPM (Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina).