Raquel Baracat

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Premiado ator Eduardo Okamoto mergulha no universo do escritor japonês Kenzaburo Oe e apresenta “Oe”, com pré-estreia no Sesc Campinas, dias 5 e 6 de setembro

Os ingressos, já à venda, custam entre R$ 2,00 e R$10,00  

 

O ator Eduardo Okamoto – Prêmio APCA  e duas vezes indicado ao Prêmio Shell de Melhor Ator - apresenta em Campinas seu mais recente trabalho, “Oe”. O espetáculo é inspirado na obra de um dos mais populares romancistas do Japão, Kenzaburo Oe (Prêmio Nobel de Literatura/1994). Com direção de Marcio Aurelio e dramaturgia de Cássio Pires, a montagem tem sua pré-estreia no Sesc Campinas, nos dias 5 e 6 de setembro, às 20h.

Para realizar “Oe”, Okamoto mergulhou no vasto universo do escritor japonês, estabelecendo relações entre a obra de Oe e a cena propriamente dita, com destaque ao romance "Jovens de um novo tempo, despertai!". A obra aborda as interações entre o autor e seu filho mais velho, Hikare Oe, nascido com hérnia cerebral que resultou num forte autismo.

Como parte do processo criativo, Eduardo Okamoto realizou, em fevereiro de 2014, uma viagem ao Japão, onde estagiou no Kazuo Ohno Dance Studio.

A estreia oficial do trabalho está programada para março de 2015. 

 

Ficção e biografia

Em "Jovens de um novo tempo, despertai!", livro de Kenzaburo Oe que é a principal referência para a peça, o autor procura definições sobre a sociedade e a vida (morte, sonho etc.) para o seu filho mais velho, deficiente intelectual. Como em muitas produções deste escritor, o livro sintetiza ficção, ensaio literário, mitologia e dados autobiográficos (com o autor explicitando o relacionamento familiar com o seu primogênito autista).  

A enfermidade do filho é recorrente na obra de Kenzaburo Oe. O filho viveu até os seis anos de idade sem desenvolver a capacidade da fala. “Não parece humano”, declara o personagem Bird, de Uma Questão Pessoal , sobre o bebê que, no nascimento, aparentava ter duas cabeças, com parte do cérebro expandindo-se por uma fenda no crânio. Demonstrando grande sensibilidade auditiva e aprendendo a falar ao reconhecer o som dos pássaros, o menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor e pianista respeitado no Japão e fora dele. 

 

Encenação

No espetáculo, porém, a obra do escritor nipônico não é lida meramente como uma narrativa deautosuperação. Primeiro, porque seus criadores reconhecem que não  limites claros entre asingularidade de um único homem e a universalidade do conjunto plural dos homens. Assim, apartir de uma narrativa pessoal, o espetáculo propõe um chamado para novas formas decidadania, baseadas na responsabilidade intransferível de cada ser sobre suas ações: “[há uma]conexão existente entre a violência em escala mundial, representada por artefatos nucleares, e aviolência existente no interior de um único ser humano”, escreve Kenzaburo Oe. 

Além disso, o autor nipônico  na ficção e no ofício do escritor uma forma, comparável aouniverso simbólico dos sonhos, de significar as experiências. O mundo  faz sentido quandocontado, reinventado pela história. Assim, “na obra de Oe, definiu a Academia Sueca que lheconcedeu o Nobel, mito e vida convergem sob a forma de um panorama desconcertante dacondição humana atual.   

Para dar conta desta ampla leitura da obra do escritor, a dramaturgia do espetáculo não dramatiza passagens da obra do escritor japonês. “Narra-a”, observa o diretor Marcio Aurelio.Assim, mais que encontrar situações dramáticas que traduzam a literatura, o espetáculo apresenta uma espécie de leitura pública da obra. Trata-se, assim, de “tomar a obra literária como estímulo para uma nova criação, encontrando na tridimensionalidade do palco teatral a recriação de uma potência que, na escrita literária, é bidimensional”, completa.

O espetáculo usa pouquíssimos recursos materiais, concentrando a sua expressividade na tríade: espaço, ator, palavra. Num espaço praticamente vazio, o diretor encontra substrato para a abertura de imaginários do espectador. Neste espaço, o ator experiência e partilhas narrativas físicas, vocais e literárias. Os criadores, através destes procedimentos, procuram encontrar suporte para uma expressão precisa (tal qual a partitura musical) e aberta (como se vê na literatura, impulso para a imaginação). Há de se ver a peça, portanto, como quem lê um bom livro.  

 

Eduardo Okamoto, ator

Eduardo Okamoto é ator, bacharel em Artes Cênicas, Mestre e Doutor em Artes pelaUniversidade Estadual de Campinas – Unicamp, onde atualmente é docente. Apresentouespetáculos e atividades formativas em diversos estados brasileiros e no exterior: Espanha,Suíça, Alemanha, Marrocos, Kosovo, Escócia e Polônia. É autor do livro “Hora de Nossa Hora: omenino de rua e o brinquedo circense” (Editora Hucitec, 2007). Em 2009, foi indicado ao PrêmioShell na categoria de Melhor Ator sua atuação em “Eldorado” (direção de Marcelo Lazzaratto edramaturgia de Santiago Serrano). Em 2012, foi indicado novamente ao Shell de Melhor Atorpor sua atuação no espetáculo “Recusa, da Cia. Teatro Balagan, com direção de Maria Thais edramaturgia de Luis Alberto de Abreu. No mesmo ano, recebeu o Prêmio APCA de Melhor Atorpor sua atuação neste espetáculo que obteve mas de 11 indicações para importantes premiações no panorama nacional das Artes Cênicas.

 

Marcio Aurelio, diretor

Marcio Aurelio é um dos mais premiados e reconhecidos diretores do teatro brasileiro. Trêsanos após o início da carreira  recebia, em 1977, o prêmio APCA de Melhor Espetáculo. Desdeentão, Marcio vem recebendo diversos prêmios, como o Mambenbe de Melhor Espetáculo pornada menos que cinco peças: Lua de Cetim, Édipo Rei, Pássaro do Poente, Hamletmachine eÓpera Joyce. Senhorita Else e Édipo rei foram premiadas também pela APCA, enquanto Pássarodo Poente e Hamletmachine receberam o Prêmio Molière na categoria Direção, além de váriosoutros prêmios.

Recorre, com frequência, à montagem de clássicos, integrais ou adaptados, recuperandoexperiências ligadas aos procedimentos dramatúrgicos e aos aspectos estilísticos, na busca deuma nova forma de expressão. Marcio Aurelio assina, frequentemente, a cenografia e figurinosde suas direções. Paralelamente à carreira de encenador, é professor de Interpretação naUniversidade Estadual de Campinas (Unicamp), sendo um dos poucos artistas que possui livredocência no país. Como tradutor, assina as traduções de Baal, de Bertolt Brecht, em 1983, eFiloctetes, de Heiner Müller, em parceria com Willi Bolle, em 1986.

 

Cássio Pires, dramaturgo

Cássio Pires é mestre em Artes Cênicas e Bacharel em Letras pela USP e integrante fundador doColetivo Teatral Filme Bê. Escreveu, entre outras: Verbo, criação de Isso não é um grupo e ondetambém assina a direção; Ifigênia, encenada pela Cia Elevador de Teatro Panorâmico (textoindicado ao Prêmio CPT 2012); Os Amigos dos Amigos, criação do Coletivo Teatral Filme Bê apartir da obra de Henry James (Prêmio de Melhor Espetáculo do Cultura Inglesa Festival 2011);Teseu, texto escrito à convite do Projeto Conexões 2011, promovido pelo National Theatre epelo Conselho Britânico; A Carne Exausta, encenada por Paulo Azevedo no Teatro João Caetano;Vigília, encenada no Intercity Festival 2007 (Teatro della Limonaia, Florença, Itália); entreoutras.

Assinou ainda as adaptações de: “A Sonata Kreutzer, de Tolstoi, dirigida por Marcello Airoldi;A Chuva Pasmada, de Mia Couto, encenada por Eduardo Okamoto em parceria com MatulaTeatro, sob direção de Marcelo Lazzaratto; e “O Rouxinol, de Andersen, encenada pela Cia daRevista (Teatros Alfa, Promon e Sérgio Cardoso).


Kenzaburo Oe,