Crueldade vergonhosa - Proteção Animal por Agnes Nääs
“Serei afetado pelo que vi até o fim da minha vida”, diz investigador secreto que trabalhou em fazendas industriais
“Serei afetado pelo que vi até o fim da minha vida”, conta Tumasse. Foto: Reddit
Não tem sido incomum a publicação de matérias internacionais revelando o que ocorre em fazendas ou indústrias onde animais são explorados para consumo humano, com informações obtidas por investigadores infiltrados secretamente. Mas pouca gente sabe como é a vida de alguém que faz esse tipo de trabalho.
T.J. Tumasse, que realizou 15 investigações secretas de 2007 a 2013, decidiu contar, e não só para ativistas que o conhecem e conhecem o seu trabalho, mas para uma multidão maior. Tumasse começou com uma sessão “Ask Me Anything” (“Pergunte-me qualquer coisa”) na rede social Reddit, permitindo que questões sobre o seu trabalho entrassem e recebessem respostas honestas de volta.
Não foi uma surpresa a conclusão de que o seu trabalho não foi fácil. As informações são da Ecorazzi.
Tumasse, cujos esforços foram em grande parte para a organização de direitos animais sem fins lucrativos Mercy for Animals, nunca foi descoberto durante os seis anos em que atuou disfarçado. Ele admitiu que sentia medo, pois se fosse descoberto, acreditava que sua punição poderia variar “de algo como agressão física até ser jogado na prisão por crime de falsa identidade”.
Enquanto trabalhou em uma fazenda produtora de ovos em Iowa e Minnesota, e em uma de criação de perus na Carolina do Norte, entre muitas outras missões, Tumasse conta que viu poucas mulheres trabalhando nesses locais. Viu também alguns funcionários que se opunham ao tratamento cruel aos animais, e conheceu também outros que sentiam prazer na tortura. Trabalhar disfarçado colocou-o em uma posição difícil.
“Quando nós trabalhamos disfarçados, nós temos que fazer o trabalho na empresa com o máximo de nossa habilidade, e ao mesmo tempo manter um trabalho ético e livre de crueldade para com os animais tanto quanto possível”, explicou o ativista quando questionado se ele já teve que torturar um animal para se misturar aos colegas. “O problema é que a crueldade é frequentemente inerente no padrão das práticas da pecuária. Isso faz o trabalho dos investigadores extremamente difícil”.
Essa cultura da crueldade que Tumasse expôs é o que ele afirma que as leis “Ag-Gag” estão tentando proteger.
“Eu atuei em estados que agora têm leis ‘ag-gag’ como Iowa, antes delas terem sido aprovadas”, disse ele com relação às leis que incriminam a filmagem secreta de empresas e fazendas de produção pecuarista. “Esta é uma tentativa flagrante de silenciar o nosso direito à livre expressão. Essas fazendas e empresas têm tudo a ocultar pois as pessoas não iriam continuar comprando das mesmas se soubessem o que acontece dentro delas. O fato de irem tão longe para tentar manter suas ações escondidas mostra que a crueldade do que eles fazem é algo que causa vergonha”.
Tumasse segue uma “dieta compassiva à base de vegetais” há 10 anos e já encorajou muitas pessoas a fazerem o mesmo, inclusive pequenas famílias de fazendeiros, de acordo com ele.
“Falar em carne produzida eticamente é, na minha opinião, uma contradição. Não existe nenhuma forma de explorar e matar alguém bondosamente, não importa se for um ser humano ou outra espécies”, disse ele. “Eu tenho visto todos os tipos de animais sendo criados, usados e mortos para satisfazer a desejos humanos; nós estamos explorando-os e não há meios de se explorar moralmente um outro ser senciente”.
Os anos de trabalho como investigador secreto trouxeram consequências permanentes para Tumasse, que afirma ter pesadelos constantes e sofrer de estresse pós-traumático das imagens que ele viu.
“Toda vez que eu via uma tortura, isso partia o meu coração. Eu odiei ter visto tudo aquilo que vi”, admitiu ele. “Eu me tornei muito sensível à violência. Não posso assistir a filmes violentos nunca mais, e não gosto de vê-los. Eu abraço a Ghandi e ao Doutor Martin Luther King. Eu acredito na revolução não-violenta e na paz. Também lido com o estresse pós-traumático e alguns problemas físicos dolorosos. Enquanto os animais sofrerem por caprichos humanos, eu vou sofrer com eles. A exploração animal é algo horrível. Serei afetado pelo que vi até o fim da minha vida”.
É um trabalho extremamente difícil, mas alguém tem de fazê-lo. Para qualquer pessoa que queria seguir os seus passos, ele sugere que entre em contato com uma organização de direitos animais, pois “há lugar para investigadores de todas as formas e tamanhos”.
E para os que querem ajudar mas não suportariam uma missão assim, ele disse que há muitas outras formas de fazer a diferença.
“As melhores formas para as pessoas se envolverem e se voluntariarem localmente são pelo compartilhamento de informações nas mídias sociais e pela ajuda a organizações como a Mercy For Animals, a Compassion Over Killing e outras que realizam trabalhos secretos”, disse ele, acrescentando que “a melhor coisa que qualquer indivíduo pode fazer é abraçar uma dieta compassiva baseada em vegetais e sem derivados de animais”.
Agnes Nääs
Servidora Pública Federal. Autora da fan page Amor de Bicho-MS. Ex radialista da Rádio Ataláia de Campo Grande-MS, na qual era responsável pelas matérias destinadas à saúde animal, prevenções de doenças e posse responsável.
Desde criança é apaixonada por animais, mas somente quando se mudou para Campo Grande-MS teve contato com outros protetores, veterinários e autoridades do ramo da saúde animal.