Raquel Baracat

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Impulso e autocontrole - Coluna Psicologia e Comportamento por Flavia Bertuzzo

Caracterizamos comumente o impulso como aquela vontade sem controle que dá e, geralmente, vem acompanhada de comportamentos exagerados e compulsivos.

Hoje em dia, muitas pessoas se dizem portadoras dessa dificuldade, tendo em vista até o aumento de ofertas, variabilidade e facilidade em satisfazer em grande escala estes “desejos”. Temos internet, compras online, culto ao corpo de tantas maneiras, alimentação saudável à porta de casa, brigadeiro gourmet de limão siciliano, etc, etc etc.

Muito bem, vamos por partes. O problema está exatamente aí, no excesso e diversidade de estimulação ambiental.

Para entender, precisamos refazer nosso conceito de “impulso”.

 

Em sua opinião, o impulso está dentro ou fora do corpo? É uma manifestação interna ou do ambiente?

Se eu conheço um pouquinho de gente nestes anos trabalhando com isso, posso apostar que você respondeu: _ Claro que está dentro de nós, Flávia!

 

Tomo a liberdade de discordar e explicar: o chamado impulso é uma organização de aspectos que está fora do organismo, é uma condição especial e momentânea do ambiente que aí sim, promove na gente uma reação modificada. Muitas vezes essa reação é exagerada, compulsiva e muitas vezes tais condições anulam alguns comportamentos. É claro que, uma maneira compulsiva de agir (e não somente exagerada) requer uma história de vida peculiar, que tenha promovido a aprendizagem da “super-reação” como padrão para aquele indivíduo.

 Descrevo um exemplo: Vamos supor que uma pessoa descubra um site na internet que entregue em sua casa comida feitinha e saudável, com ingredientes orgânicos e funcionais (na mosca e na moda!). A descoberta do site, a comida feitinha, os ingredientes orgânicos e funcionais, sua falta de tempo e paciência para fazer em casa, sua necessidade de emagrecer, a facilidade da entrega (entre outras possíveis) constituem essa “condição especial” do ambiente que citei acima (para nós, analistas do comportamento tem outro nome: operações estabelecedoras, mas não vamos complicar). A reação de comprar uma vez, duas ou 50 ao mês é que caracteriza se essas condições terão um efeito reforçador (me faz aderir finalmente a alimentação saudável) ou, um efeito evocativo (aumenta muito e muito a minha frequência em aderir a essa prática). O segundo caso, quando a situação do ambiente evoca a frequência maior do comportamento, aí estamos começando a falar em compulsão e falta de controle.

 O auto-controle por sua vez, é algo que adquirimos durante nossa história de vida e educação. A partir dele, ao passarmos por essas “condições especiais” que a vida nos prega, será definido se você agirá compulsivamente ou, na maioria das vezes, apenas exageradamente.

 E qual a diferença entre compulsão e exagero? Está na consequência da ação. O exagero pode prejudica-lo momentaneamente e isoladamente, mas o comportamento compulsivo passa a prejudica-lo na vida porque se torna um hábito.

 Querem dicas para promover o autocontrole e tentar evitar o exagero e compulsão? (Claro que querem! Todo mundo quer dicas, o mundo hoje vive de dicas! Tem gente que tem como trabalho dar dicas! #ficaadicasucks)

 Dica 1: o melhor caminho para evitar o exagero ainda é  fugir. Run, Forrest, run!

Evitar entrar em contato principalmente com situações inéditas, desconhecidas e potencialmente geradoras de ansiedade:

Vamos degustar um brigadeiro gourmet novo que saiu naquela doceria?

_Não.

Vamos conhecer aquela loja nova xing-ling que inaugurou no centro?

_Não mesmo!

Vamos na liquidação da loja da fulana, está tudo com 50% de desconto?

_ Sai daqui!

 Não tomar contato com as condições, tem efeito melhor do que entrar em contato e tentar controlar-se. Acredite, uma vez aberta a porteira, fica mais difícil segurar o gado.

Isso não quer dizer que não poderá experimentar mais nada na vida ou evitar qualquer experiência tentadora, mas aquilo que promove a maior possibilidade do descontrole deve ser evitado, temporariamente, até você desenvolver recursos de comportamento para controlar-se ou as vezes até permanentemente, dependendo da pessoa.

 Falando em permanentemente:

 Dica 2: se você sofre de episódios frequentes de exagero, é possível que estejamos falando de compulsão. Pode ser por um tema específico (comprar por exemplo) ou generalizada. Aí é importante procurar ajuda especializada para diagnóstico e tratamento que, muitas vezes, implica também em uso de medicação além da psicoterapia. Tudo vai depender do tamanho do prejuízo e sofrimento causado à pessoa e aos que estão ao seu redor.

 O autocontrole está intimamente ligado a como você aprendeu a reagir aos desejos, ao quanto conseguiu ao longo da vida apreender a capacidade de privar-se, frustrar-se e seguir em frente.

 Não ser escravo do desejo é liberdade.

Mas liberdade também tem preço e precisa de estratégia.

 Engraçado né? Vida zombeteira!

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos

 

Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental  de adultos e famílias, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil e proprietária da Villa Saúde – Psicologia & Cia, uma proposta multidisciplinar e inovadora de fazer saúde íntegra. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.  Contato:  villasaudepsicologia@gmail.com e Facebook: Villa Saúde - Psicologia & Cia