Raquel Baracat

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O Tecelão, o Camponês e o Pregador - Coluna Liderança por João Marcelo Furlan

Um diário fotográfico das lições de minha peregrinação pelos 3 maiores líderes inspiradores da não-violência, por João Marcelo Furlan

 

“Eu quero que vocês falem que eu tentei amar e servir a humanidade.”
- Martin Luther King Jr, 2 de Fevereiro de 1968

No último mês de Novembro, passei por um dos momentos mais emocionantes de minha vida: cheguei ao fim de minha peregrinação em 2014 para conhecer meus ídolos, os 3 maiores líderes da não violência de todos os tempos. Eu comecei esta saga, com uma grande vontade de entender o que seria a essência que transforma uma pessoa em um líder, um líder em uma lenda. 

Livraria ao lado do local de nascimento do Dr. King em Atlanta. Os 3 líderes sempre aparecem juntos.
 

Em Janeiro, comecei as viagens visitando a casa e túmulo de Gandhi na belíssima Nova Delhi, Índia. Em Abril, tive a oportunidade de conhecer com minha esposa a ilha de Robben, próximo à cidade do Cabo, África do Sul, em que Mandela ficou aprisionado por 18 dos 27 anos de seu encarceramento. Finalmente, atingi na primeira semana de Novembro e véspera de meu 33º aniversário, à casa onde Martin Luther King nasceu, seu túmulo e a igreja de Ebenezer em que ele pregava, na cidade de Atlanta, GA.

Ao estudar suas vidas e conquistas, consegui finalmente estabelecer alguns pontos em comum entre eles –1) Uma grande visão de mudança, 2) Perseverança e 3) Integridade

Antes de discorrer sobre estes 3 pontos, gostaria de trazer a você uma pequena introdução e contexto sobre a vida de cada um deles, para explicar inclusive o apelido que dei neste artigo a cada um deles. 

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O Tecelão - Mohandas Karam Chand Ghandi – visitado em Janeiro de 2014
 

Mahatma,  que quer dizer  “Grande Alma”, nasceu em uma família de classe média na Índia. Após estudar Direito na Inglaterra -  teve a oportunidade de trabalhar na África do Sul. Ele ficou totalmente desesperado quando viu que seus conterrâneos Indianos enfrentavam o Apartheid naquele país e começou a lutar pacificamente, utilizando os ensinamentos do conceito hindu de Satyagraha – a verdade consistente – contra o regime. Após 20 anos na África do Sul, ele se mudou para a Índia, onde começou, dentre tantas outras iniciativas para se libertarem , o movimento para restaurar a “roda de tecer” de forma que os indianos voltassem a produzir seus tecidos novamente e se liberassem economicamente da necessidade de importar tecido manufaturado da Inglaterra. Para inspirar o povo indiano a recuperar o hábito de utilizar a Charka (roda de tecer tradicional) para produzir fios de lã tornou-se o treinador em workshops que estabeleceu ao redor do país para ensinar a técnica. Ele foi também o exemplo ao usar somente roupas feitas com fios originários deste processo. Por este motivo, o nomeei afetivamente de o Tecelão.

O quarto de Gandhi até o final de sua vida, demonstrando seu total desapego com conforto e consumismo. 

O Camponês – Nelson Rolihlahla Mandela – visitado em Abril de 2014

O Madiba (nome do clan que ele fazia parte) ou Tata (pai) cresceu em tribos Xhosa em diferentes regiões da Africa do Sul. Como membro de uma família nobre e protegido pelo rei após a morte de seu pai, ele teve a oportunidade para estudar direito (assim como Gandhi) e advogar.Quando ele se juntou ao partido ANC (African National Congress), começou sua vida na política, ganhando grande popularidade em lutar contra o apartheid. Como um resultado, ele experimentou 27 anos na prisão. Ele é o camponês, já que valorizou e honrou durante toda a vida suas origens na África nativa, o que lhe deu força para lutar pelos direitos civis. Nelson Mandela recebeu o prêmio nobel em 1993.

Dede, nosso guia durante a visita ao museu da prisão de Roben Island. Ele disse a mim que suas maiores lições durante o tempo na prisão foram disciplina e paciência.

Foto tirada na prisão de Robben Island

O Pregador – Martin Luther King, Jr – Visitado em Novembro de 2014

Dr. King herdou o gospel de seu pai, um ministro da igreja batista e sofreu preconceito e segregação durante sua infância e juventude. Quando cresceu, teve a oportunidade de estudar teologia sistemática na Universidade de Boston. Influenciado pelo ativista afro-americano Bayard Rustin, ele acabou conhecendo do Satyagraha de Gandhi e visitou a Índia para estudar mais sobre o movimento em 1959.

Ele voltou determinado a implementar Técnicas de Não Violência como a única forma contra a segregação nos Estados Unidos, de forma oposta a muitos outros líderes afro-americanos naquela ocasião, que sugeriam formas violentas para opor a hegemonia política e econômica dos euro-americanos.

Ele voltou para Atlanta para assumir a liderança da Conferência Nacional de Liderança do Sul (SNLC) como sua principal plataforma na política. Honrosamente, o chamo de Pregador, já que ele usava o Gospel em todos os seus discursos, até seu assassinato em Memphis, em 1968.

Dr. King ganhou o prêmio Nobel de 1964. 

O último sermão de Martin Luther King
https://www.youtube.com/watch?v=lQbLW9mDdbI

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Como mencionei anteriormente, estudando suas vidas e conquistas, consegui finalmente estabelecer os 3 pontos em comum que os levou a inspirar pessoas ao longo das décadas

1. Uma grande Visão de Mudanças

Todos os 3, em algum momento, ganharam um nível de consciência social.

Isso os levou a ver e acima de tudo acreditar em uma imagem de um futuro melhor para eles e seu povo dentro de um novo paradigma, onde liberdade e mais especificamente, um tratamento justo como cidadãos iguais como sua maior demanda.

Por exemplo, a visão de Mandela de que o Apartheid poderia realmente acabar de forma pacífica, o fez mobilizar 2 ou 3 gerações de Sul Africanos em direção à mudança, assim como forneceu a ele combustível tanto mental quando fisicamente durante seus anos na prisão. 

Em nosso ambiente de negócios, uma comparação com estes grandes líderes inspiradores seria o Jack Welch na GE, já que ele realmente acreditou que poderia mudar a cultura de um conglomerado centenário... e o fez. 

LIÇÃO CHAVE– Acredite em grandes mudanças que afetarão para melhor as pessoas em sua organização. Elas irão segui-lo.

[Martin Luther King´s birth house taken at National MLK Historic site in Atlanta]
 

2. Perseverança – comprometimento total com a Visão

Gandhi iniciou em 1906 com o uso do termo SATYAGRAHA ou “insistência na verdade” para definir sua crença e abordagem da não violência para superar a ocupação Britânica. Tanto Mandela quanto Dr. King foram na verdade inspirados por ele a um ponto que ambos visitaram a Índia para conhecer melhor seus métodos. 

As técnicas de não violência requereram que as pessoas se submetessem a todos os tipos de humilhação possíveis a um ser humano. Milhões de manifestantes foram mortos e os 3 líderes foram presos, sendo que dois deles foram assassinados. Perseverança significa ter um enorme comprometimento como metas de longo prazo, ou com esta visão.

Uma analogia com nosso ambiente atual de negócios seria a crença de Steve Jobs em fazer algo realmente focado em uma experiência para o cliente, independentemente de qualquer outra coisa. Ele continuou fazendo isto, mesmo nos anos em que foi forçado a deixar a presidência da Apple (1986-1995), inovando em outras companhias como Pixar e NeXT. 

LIÇÃO CHAVE– persista na Visão. Grandes mudanças podem levar a grandes dificuldades mas mantenha-se firme.Você ganha respeito das pessoas mostrando que você é determinado e perseverante.

Gandhi utilizing the Charka: picture taken at Ghandi´s house in New Delhi
 

3. Integridade e Humildade

Todos os 3 são pessoas que se voltavam muito para seus valores e princípios, como liberdade e fraternidade. Gandhi baseou suas crenças no Hinduísmo, apesar de ter sido sempre curioso sobre diferentes religiões, especialmente durante seu tempo em Londres. 

As crenças de Mandela vieram sobretudo de sua infância tribal, como o conceito de Ubuntu (algo como generosidade, as pessoas existem a partir da ajuda que dão uns aos outros) e ele também era um Metodista. Mas de todos os 3, o mais proeminente em religião por si foi o PhD em Teologia, Dr. Martin Luther King, um ministro da Igreja Batista, que comumente usava Deus em seus discursos. 

Além disso, eles eram pessoas que demonstravam humildade, o que lhes permitia ser muito próximos de seus seguidores. Gandhi chegou a um nível tão alto de desapego, que ele chegou inclusive a diversas vezes a massagear as pernas de portadores de lepra.

Trazendo este ponto também de volta para nosso ambiente de negócios, eu tenho gostado muito de ver o comprometimento e discurso de Richard Branson, fundador do grupo Virgin, com Ética empresarial, inclusive criando uma competição entre “Empreendedores Éticos”.

LIÇÃO CHAVE – Pessoas seguem o que parece ser “o certo” para elas. Se elas sentem que você as representa, humildade irá assegurar a proximidade com seus seguidores de forma que estejam abertos para que sejam influenciados e inspirados por você. 

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Um dos trabalhos mais difíceis dos líderes atualmente é implementar grandes mudanças nas organizações. Espero que estes 3 princípios o apoie muito em seus desafios e que, promova grandes mudanças junto ao time, de forma inspiradora e transformadora.

Um forte abraço e sucesso nesta jornada!
J.M. Furlan

Foto tirada com minha esposa na casa de Mahatma Gandhi em Nova Deli.

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João Marcelo Furlan

 

Enora Leaders, empresa de consultoria em desenvolvimento organizacional, Vice- Presidente de Desenvolvimento  e  Expansão  Regional  da  Associação Brasileira de Recursos Humanos para o estado de São Paulo (ABRH-SP) e criador do blog “Liderama”. linkedin: br.linkedin.com/in/joaofurlan. site: www.enora.com.br Fone: 19 3365-0080.