Raquel Baracat

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África - Tanzânia - O que a Tribo Maasai me ensinou - Coluna Volunturismo por Tatiana Garcia

 

  Escolhi, entre todos os países da África, a Tanzânia. Minha sede de aprender novas culturas e sentir o cheiro de uma terra tão sofrida acabaram me levando até Moshi. A maioria dos meus dias eram tomados pelo trabalho voluntário numa ONG de crianças com deficiências físicas e mentais. Até que em um dia recebemos a visita de um padre. A figura do padre na África representava imenso respeito e autoridade. Sabendo da minha ânsia por aprender, a dona da escola comentou com ele o meu interesse em visitar a tribo Maasai. O padre, encantado com a minha coragem, me convidou para participar da cerimônia de batismo na tribo. Os Maasai, com relatos de sua existência na Bíblia, levam uma a vida independente das outras tribos, sem perderem suas raízes. Eles são cristãos e de acordo com sua crença, todos já nascem com o pecado do nascimento. Este pecado só pode ser eliminado com o sacrifício de um animal, onde o mais comum é o carneiro. O batismo na tribo ocorre aos 15 anos de idade, tanto para meninos quanto para meninas. Fui convidada para o batismo dos meninos, uma celebração pública, onde eles são circuncidados como símbolo de libertação dos pecados.

 

A comunidade ficava bastante afastava do centro de Moshi. Ao chegar próximo ao local da cerimônia, o padre com muita humildade, me mostrou sua igreja, sua casa, seus familiares e ainda me ofereceu comida. Deixamos o carro e fomos a pé em direção à tribo. Eu era a única branca e estrangeira entre todos, mas isso não foi motivo para ser tão bem recebida. No meio de tantos olhares curiosos, eu fui recebida por lindos sorrisos e gestos de “seja bem-vinda”. Fomos então convidados a nos sentar na maior casa da tribo. Eu vestia minha roupa mais simples, mas ainda estava muito diferente de todos dali. Uma hora depois começou a cerimônia...

 

Tudo se iniciou aos cantos e danças das mulheres da tribo, eles vestiam roupas muito coloridas e alegres. Sentamos ao chão para escutar o líder, uma figura de maior autoridade que o padre, e foi ele que deu todo o discurso. Eu podia ficar horas ali apreciando a beleza daquele ritual. Depois do discurso veio o coroamento dos meninos de 15 anos, e logo em seguida, eles sumiram para serem circuncisados em privacidade. Voltaram ao som principal da tribo, que representava a vitória e início de uma nova fase. Esse momento foi o mais importante da cerimônia, todos rezavam e algumas mães choravam muito. Foi então que houve o sacrifício do carneiro, onde agradecemos pela comida e após os aplausos começamos o banquete e a grande festa. Eu pude sentir uma enorme paz naquele momento, todos tinham um semblante tranquilo e festivo. Os meninos agora já passavam a serem vistos como grandes homens, elegíveis de grandes tarefas.

 

        Ao observar todo aquele turbilhão de emoções, envoltos por suas roupas coloridas, pude de fato ter a certeza do real significado Maasai, que em Inglês significa: ‘I don’t do anything’; em português: ‘Eu não faço nada’. Essa é uma das principais filosofias da tribo e sua maneira de viver. Em seu lado mais profundo significa a aceitação da cultura, de seus rituais e de tudo que a vida lhes oferece. Mas além de aceitar, o segredo era ser feliz com tudo isso e amar a vida mesmo assim, sem relutar. Ao aceitar a sua própria realidade, com muita resiliência e força, nos tornamos mais íntegros; e por consequência, conseguimos sentir a felicidade em seu estágio mais puro. O sorriso sincero de cada um deles, desde o momento que cheguei até o meu último segundo na tribo, expressava o amor deles ao próximo. Esse foi meu maior aprendizado com a tribo, o de saber ser feliz e amar a todos come se tudo fosse um grande presente da vida.

Tatiana Garcia

Coluna Volunturismo

Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada.  Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br