Quem está roubando meus sonhos? Coluna Psicologia/Psicanálise por Letícia Kancelkis
Quantas vezes você desejou ardentemente alguma coisa e se viu tendo atitudes completamente “inimigas” desse desejo? Por exemplo, alguém cujo sonho é o de constituir sua própria família, mas parece afastar de si qualquer possibilidade disso acontecer. Sem poder compreender como ou porque, os pretendentes se vão ou, muitas vezes, sequer se aproximam; ou, ainda, aproximam-se somente aqueles cidadãos que “não querem nada com nada” e a sua imaginação lhe conta a mentira de que só existem homens/mulheres assim, descompromissados. Outra mentira muito fácil de ser contada a si mesmo é a de que não se tem qualquer qualidade para que possa conquistar uma pessoa ou até merecer tê-la em sua vida. Mas por que isso acontece?
Podemos partir da frase de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Achamos que conhecemos a nós mesmos e a afirmação do filósofo não faz qualquer sentido muitas vezes. No entanto, uma parte muito importante de nossa mente pode ser comparada a uma outra pessoa que habita em nós. Uma pessoa desconhecida, repleta de mistérios, de segredos não confiados a quem deveriam ser de direito.
Até pode parecer que estamos falando sobre dupla personalidade, mas não. Falamos aqui sobre uma instância psíquica chamada inconsciente, que faz parte de todos e que nos prega as piores peças no decorrer da vida, a menos que seja alvo de uma intervenção psicológica. Por que esse pedaço de nós é tão poderoso? Ora, bem sabemos que apenas conseguimos combater o inimigo se o conhecermos... Caso contrário, ele nos domina, oprime, subjuga cruelmente. O inconsciente é um verdadeiro caos, incoerente por excelência em suas ideias. Ele “entende” que é só repetindo conflitos internos que ele conseguirá resolvê-los, ou seja, tendemos fortemente a reviver constantemente angústias do passado, em uma verdadeira escravidão nebulosa.
E como sair desse ciclo de autoboicote? A única alternativa é conhecer o inimigo, compreendendo que a parte consciente do próprio psiquismo pode estar dizendo: “Sim! Eu desejo ardentemente que isto se realize em minha vida!”, mas o poderoso inconsciente, ao mesmo tempo, dita a sentença: “Não! Eu não posso! Eu não devo!”. É preciso conhecer os motivos inconscientes que nos fazem “puxar nosso próprio tapete”, a fim de não permanecermos reféns de nós mesmos frente a nosso pior inimigo: este algoz que está aqui dentro, tão perto e, por hora, tão longe!
Letícia Kancelkis – Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica.
Contato: leticia.ka@hotmail.com