Raquel Baracat

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Qual foi o lugar mais agressivo que conheci - Coluna Volunturismo por Tatiana Garcia

 

China – um país muito curioso. Como por exemplo, o fato deles comerem quase todo tipo de animal; desde cachorro à rato já me chamava à atenção. Outro fator assustador era que estações de trem, ônibus, templos, bancos, e muitos estabelecimentos eram cercados de escadas e entradas estreitas. Quase não se via cadeira de roda nas ruas, será que por falta de acesso? Além disso, como se não bastasse o céu e os rios poluídos, ao caminharmos pelas ruas, a cada segundo nos deparamos com alguém cuspindo no chão. É um hábito comum deles, em sua maioria, homens. Isso também me incomodavam bastante, tive que aprender a conviver com o som de catarreadas enquanto tomava meu chá.

A lista era grande dos fatores culturais que me impressionavam por lá, mas teve um deles que me marcou mais. Foi a maneira que os pais tratam seus filhos. Era muita brutalidade, claro que baseado no meu ponto de vista do que é brutal. Presenciei alguns pais puxando seus filhos pelo braço, quase que os arrastando. Eles se comunicavam entre si aos gritos. Alguns pais batiam com a palma da mão em algumas partes do corpo ou cabeça de seus filhos. Me incomodava muito assistir tudo aquilo e não fazer nada. A maneira que eles alimentavam seus filhos também me impressionou, enfiavam a colher com tudo na boca da criança, sempre cheia de comida, onde ela mal tinha tempo de recusar. Usavam tanta força, que chegava a fazer barulho ao tocar o céu da boca da criança. E estou falando de crianças com até 5 anos de idade. Acredito que elas não sofriam porque cresceram acreditando que isso era um comportamento aceitável. Mesmo assim, saí da China pensando que só era aceitável quando o outro não estava se sentindo prejudicado ou machucado.

Itália – um país machista, cheio de feministas. Essa opinião mudou assim que cheguei em Milão. Logo no meu primeiro, caminhava pelo centro, quando vi um pequeno tumulto na frente de um restaurante. Ao se aproximar, percebi que era uma briga de casal. De repente um homem, muito nervoso, saiu do restaurante e começou a gritar em italiano com alguém lá de dentro. Passados uns 5 minutos, uma mulher apareceu na porta, mais nervosa que ele, e começou a retrucar algo que em italiano muito arrastado. Mas, a linguagem corporal dizia tudo, eles brigavam e brigavam feio. Já tinha uma plateia ao redor deles, nós estávamos mais afastados a alguns metros de distância. Os garçons tinham a função de separa-los e evitar uma possível agressão física. Até que, muito rapidamente, o homem deu o primeiro tapa na cara da mulher. Em segundos eles estavam se batendo aos murros e socos. Foi então que ele a levantou com apenas uma mão, a ergueu e arrastou pela parede. Nessa hora achei que ele ia enforca-la até a morte.

A minha vontade era correr para apartar a briga, mas meus amigos não deixaram. Rapidamente eles foram separados pelo garçom e afastados da entrada do restaurante. Na esquina eles continuavam conversando, ainda aos gritos. Minutos depois eles deram as mãos e saíram abraçados, caminhando pelas ruas de Milão. Eu fiquei um tempo ainda sem reação, aos poucos a minha ficha foi caindo e com isso também a minha opinião de que realmente não existe certo ou errado no mundo. Por mais que quiséssemos ter nossas opiniões e crenças, quando viajamos aprendemos a abrir a cabeça e a entender qualquer tipo de situação, sem julgamentos. O que é de fato machucar alguém? Não sei mais. Toda a minha concepção sobre o mundo e as pessoas mudou depois disso. Hoje, entendo que realmente as pessoas são o que são porque foram ensinadas e educadas dessa forma. Não temos motivo algum para julgá-los. Ao pensar assim, nos tornamos mais leves em relação às coisas do mundo e brigamos menos com o próximo tentando convencê-los. Aprendemos que existe outras formas de viver, de amar e de ser. 

Tatiana Garcia

Coluna Volunturismo

Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada.  Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br