Raquel Baracat

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Como superei meu medo de avião - Coluna Volunturismo por Tatiana Garcia

Eu sempre pensei que quando temos medo, temos que ir com medo mesmo. E foi assim que fui viajar o mundo, com medo de avião. Foram 25 destinos e inúmeros vôos, entre eles nacionais, internacionais, com turbina, sem turbina, com hélice, grandes, pequenos, confortáveis ou barulhentos.

Alguns deles mal tinha espaço para os passageiros, eram aqueles aviãozinhos minúsculos e bem velhos que ao subir mais parecia que estávamos descendo. Um dia antes de vôo, eu já sentia a boca seca, não conseguia dormia e às vezes já me dava até dores de barriga, comer nem pensar. Imagine no aeroporto, minutos antes de voar, só pensava o que seria de mim antes de morrer. Nunca tive medo de morrer e esse não era o problema principal; e sim, os minutos que antecedera isso: a turbulência, a sensação do avião caindo, todos gritando e aquelas máscaras na sua frente.

Durante as turbulências que enfrentava, minhas pernas tremiam e eu chorava de medo; quase que uma síndrome do pânico. Várias vezes eu preferia ficar caminhando entre os corredores e conversando com os comissários. E essa foi a minha rotina durante grande parte da viagem, já era até algo rotineiro.

Medo é algo tão profundo que mesmo sendo uma sensação intrínseca, nosso corpo reage com sintomas físicos tão fortes que ficam difíceis de serem controlados. E quanto mais tempo ficar com medo, mais ele irá te consumir e mais difícil será sair dele.

Por isso que para mim quanto mais longo o vôo for, pior é. Teve um deles, de Camboja a Índia, que a turbulência chegou a durar 4 horas, quase morri do coração. Foi então que percebi que meu medo só aumentava, e ainda tinha um monte de vôos para tomar. Decidi ser um pouco mais radical, fui fazer um simulador de vôos em Singapura, e ver se ao pilotar um avião, mesmo que de mentira, eu me sentia mais segura.

Me surpreendi, ao entrar no avião de mentira, toda aquela sensação de medo apareceu. Aquele lugar fechado, claustrofóbico e sem liberdade nenhuma, me aterrorizou novamente. Pensei então em pular de paraquedas; e fui. A pior parte foi ficar naquele avião minúsculo antes de pular; o avião era ridiculamente pequeno, o motorista era um indiano que mal nos entendia. O avião mexia tanto, que eu devo ter sido a única passageira a que implorou para pular o mais rápido possível. A experiência foi ótima, mas o medo de avião ainda aumentava muito.

Até que um dia, na Nova Zelândia, a vida me presenteou com um convite. Estava esperando um grupo de turistas para sobrevoar umas montanhas de gelo, era cedinho e o dia estava lindo. Mas, o grupo não apareceu. O piloto, ao me ver sozinha e frustrada, resolveu fazer o vôo mesmo assim.

Antes de subir, eu comentei com ele que tinha medo de voar, foi então quando ele me ofereceu para pilotar o avião. Disse que iria me dizer o que fazer e que ele estava no comando caso algo acontecesse. Eu mal pude acreditar, que presente eu havia ganho naquele dia, e de uma forma tão inusitada.

Foram 40 minutos de vôo e nunca imaginei sentir aquela sensação de liberdade, não tive medo algum. Ao terminar o vôo não sabia nem como agradecer o piloto, e para mim meu medo tinha acabado naquela hora. Mas não, meu próximo vôo, da Nova Zelândia à Dubai, toda a sensação de medo voltou. Tinha algo além do medo de avião e sem explicação alguma, que me fazia sentir toda aquela sensação.

Talvez o fato de eu não estar no comando das situações. Ao voltar para o Brasil, fiz inúmeras sessões de terapia, mas nenhuma delas me ajudou a diminuir o medo. Até que anos depois, descobri que essa busca era algo muito mais profundo, algo que somente eu saberia como vencer. Superei vários desafios na minha vida pessoal; e depois disso, o meu medo desapareceu repentinamente. Aí descobri que o medo nunca é algo pontual, ele sempre será a soma de tudo aquilo que não temos bem resolvido dentro de nós mesmos.

Tatiana Garcia

Coluna Volunturismo

Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada.  Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br