Por que não durmo? Coluna Psicologia por Leticia kancelkis
Tenho escutado bastante esta pergunta e, realmente, é fundamental descobrir o porquê da insônia a fim de curá-la. Os motivos inconscientes para ela acontecer podem ser muitos.
Nosso imaginário pode nos contar a mentira de que somos responsáveis e poderosos para mudar ou controlar algo que, na realidade, não pode ser mudado ou controlado por nós. É importante identificar, então, quais são os pensamentos que sobrevêm na madrugada, quando o sono se recusa a vir. A preocupação com alguém que se ama e está longe, não exercerá nenhum poder no sentido de cuidar desse alguém, mas a fantasia pode “dizer” que, ficando alerta, pode sim.
Uma pessoa que tenha perdido alguém muito amado, enquanto dormia, por exemplo, pode ativar conflitos relacionados a fantasias de que controla ou deveria ser capaz de controlar aquilo que a realidade mostra que não é possível. Aqui a ideia pode ser a de que, se estivesse acordado, poderia ter evitado a morte de quem tanto amava, sendo que nem a vida nem a morte estão sob nosso domínio; ao menos não de forma tão direta. Descobrindo de forma clara e profunda qual a ideia relacionada à insônia e o quão absurda ela é, o sono pode voltar.
Tarefas DO DIA SEGUINTE ou contas para pagar podem funcionar como espinhos no travesseiro. É necessário ter em mente que você até pode ter toda responsabilidade sobre essas tarefas, mas que elas pertencem AO DIA SEGUINTE. É possível que essas “pré-ocupações” venham carregadas de outras motivações para permanecer acordado, ou seja, pode ser que haja muito mais motivos desconhecidos (inconscientes) para não dormir do que motivos conscientes. Os desconhecidos precisam ser compreendidos, deixando de ser desconhecidos. Estes é que são mesmo poderosos para criar um quadro de insônia ou de “dormir mal”.
Comprimidos para dormir, na maior parte dos casos, parecem equivalentes a um analgésico para uma infecção: eles não podem ser tomados a longo prazo e não atingem as raízes do problema. Tomar analgésicos na tentativa de acabar com uma infecção, apenas fará com que esta seja mascarada, permitindo que ela ganhe força.
Já “desmascarar” o inconsciente parece equivaler a medicar-se com um antibiótico para combater uma infecção. Mais uma vez lembramos que apenas quando conhecemos o inimigo, é que podemos combatê-lo. Nosso “antibiótico mental” é justamente o trabalho que seja capaz de desvelar conteúdos inconscientes e de trazer a compreensão profunda deles. A insônia é apenas o sinal, enquanto ideias fantasiosas que estão no inconsciente são o verdadeiro problema a ser enfrentado.
Leticia Kancelkis
Coluna Psicologia
Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com