Joguinhos para conquistar um amor funcionam? Coluna Psicologia por Leticia Kancelkis
Você já se utilizou de estratégias bem calculadas para conquistar um amor? Ou mesmo para se relacionar com um namorado? Já fez de conta que não estava “nem aí” com ele, quando na verdade estava preocupada até demais? Já ficou se segurando para não mandar mensagem para ele, quando o que mais queria era fazer isso? Já fez coisas que não queria fazer só para agradá-lo, fingindo que estava fazendo numa boa? Ou o contrário: deixou de fazer algo que queria muito fazer, só para não parecer que estava tão apaixonada quanto estava realmente?
Será que o uso dessas estratégias funciona?
Tudo o que flui de nós sem esforço, tudo que é “de dentro para fora”, que vem do fundo do coração, via de regra pode se sustentar; ou seja, comportamentos, gestos e atitudes que têm origem naquilo que realmente estamos sentindo e acreditando são aqueles que prevalecem e que resultam minimamente naquilo que desejamos.
Tentar controlar os pensamentos e sentimentos do outro com comportamentos, gestos e atitudes medidas e arquitetadas sem que elas expressem o que realmente se é por dentro, ou o que se sente ou pensa de verdade é infrutífero e frágil. Mais cedo ou mais tarde, a “verdade” em relação à própria identidade, aos próprios sentimentos e às próprias ideias aparece.
O que fazer então se parece impossível conquistar ou manter o amor de sua vida com você? Quantos amores foram embora? Como fazer para que isso pare de acontecer?
Não há outro jeito senão conhecer o que se passa no seu inconsciente, quais ideias têm dominado e prejudicado a sua vida, quais fantasias e conflitos se passam dentro de você que têm lhe roubado amores, que têm lhe roubado a possibilidade da realização do sonho de formar família.
A base dessas ideias fantasiosas tão poderosas está na forma como se vivenciou as primeiras relações na vida. A primeira delas e a de maior força neste sentido é a relação mãe-bebê, que vai se estendendo para o trio mãe-pai-bebê. O psiquismo vai se construindo desde o ventre materno, o que é um grande complicador se pensarmos na falta de recursos internos do bebê para captar e “processar” a realidade. Esta última, portanto, é “colocada para dentro do coração” de forma bastante distorcida.
No início da vida, a menina é apaixonada pelo pai e compete com a mãe para tê-lo. Aí se originam muitos conflitos que desempenham papéis importantes tanto para as possibilidades e limites na escolha de alguém para amar, quanto na forma com que a pessoa se relaciona com o par amoroso.
Todo esse emaranhado de ideias e conflitos inconscientes precisa ser alvo de um processo de análise, a fim de permitir a perda de força de ideias fantasiosas que chegam a comandar, enquanto estão inconscientes, as possibilidades e os limites de o sujeito se relacionar com um par amoroso.
Leticia Kancelkis
Coluna Psicologia
Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com