Sapatos e carteiras de luxo aumentam o risco de uma nova pandemia
As peles exóticas têm origem nos mercados de animais vivos e potenciam a contaminação entre animais e humanos.
nquanto o mundo tenta conter a pandemia, muitos investigadores, cientistas e ambientalistas têm alertado, agora mais do que nunca, para as possíveis causas do surgimento deste tipo de doenças com potencial para infetar todo o planeta. A ação humana na natureza é uma delas, embora grande parte dos dedos tenham apontado na direção dos mercados de animais vivos da Ásia. Agora, ambientalistas apontam para outra indústria que pode estar a potenciar estes desastres: a da moda.O consumo de carne que sustém este tipo de mercados onde animais selvagens são mortos em condições de higiene pouco recomendáveis é apenas um dos fatores de preocupação. A sua existência e subsistência não dependem apenas de quem lá vai comprar carne, na sua maioria habitantes locais. A procura internacional por peles exóticas é também um dos motivos pelos quais estes mercados se mantêm abertos.As peles de espécies exóticas como cobras pitão, raias ou crocodilos, compradas por marcas de acessórios de luxo, são frequentemente recolhidas nestes mercados asiáticos e africanos. Muitos destes acessórios feitos com peles exóticas podem ser encontrados nas montras das maiores capitais e cidades da moda.
Quanto maior for esta proximidade, este contacto, maior será também o risco de suceder aquilo a que os peritos chamam de spillover, isto é, um contágio interespécies. Tornam-se portanto em doenças zoonóticas, que passam de animais para humanos. E a World Association for Animal Health revela que 70% das doenças infecciosas emergentes são precisamente deste género.
“O risco não está apenas nos mercados de animais vivos, mas também nos locais legais onde acontece a reprodução em cativeiro. Na China há 22 mil instalações destas, que fornecem matérias-primas para indústrias de acessórios de moda, medicamentos e para o consumo de carne”, revela ao “The Independent” Lynn Johnson, da “Nature Needs More”. O potencial de contágio será tão maior quanto maior for o “manuseamento e processamento humano de animais exóticos”, conclui.
Dennis Carroll, um dos maiores peritos mundiais em doenças infecciosas, revelou que “é na preparação destes animais que há uma exposição” e que o perigo da transmissão entre espécies é mais elevado “quando os fluídos [do animal], sangue e secreções são expostas” — o que acontece sempre que estes animais são abatidos para venda de carne ou remoção da pele.
O comércio deste tipo de peles exóticas é perfeitamente legal. E em 2016, um relatório do parlamento europeu revelou que este comércio é um dos mais lucrativos do mundo, assinala o diário britânico.
Fonte: https://nit.pt/vanity/moda/sapatos-carteiras-luxo-aumentam-risco-nova-pandemia