Dois filhos de Benedito -Coluna Autoconhecimento na Prática por Maurício Duarte
Benedito nasceu como filho dos primeiros agricultores de grãos do Mato Grosso do Sul, estado que, naquela época, estava nascendo e todos os filhos ajudavam na plantação, a duras penas.
Filho mais novo de 12 irmãos, todos com escolaridade precária, Benedito aos 18 anos, resolve arriscar a sorte no interior de São Paulo, vindo morar com uns tios na região de Botucatu.
Estudou até completar o segundo grau (atual Ensino Médio), entre repetências e o desânimo de estudar à noite, após o trabalho duro numa loja agropecuária que lá existia.
Ele era bom mesmo era para fazer amizades. Conhecia os clientes pelo nome e sabia o que normalmente vinham buscar, deixando as coisas semi prontas para adiantar, mas sempre oferecendo algo a mais aos clientes.
Isso foi sendo notado e, nas conversas entre clientes, a história chegou aos ouvidos de um representante de máquinas agrícolas que vinha se dando muito bem e que o convidou para ser vendedor de tratores e implementos.
Ahhh era o sono de Benedito, mais conhecido como Ditinho pelos mais íntimos e clientes mais antigos que acompanharam seu crescimento.
Ditinho, como se classifica nos mapas de comportamento, tinha uma Influência acima do normal. Entre seus maiores talentos conseguia compreender, no meio da conversa, o que os seus clientes necessitavam e, mais ainda, o que desejavam, oferecendo condições muito boas para a aquisição de novas máquinas.
Não deu outra, hoje aos 68 anos, Ditinho, agora Seu Dito, é proprietário de uma concessionária modelo de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas.
Tendo se casado com Dona Diva, mulher pacata e da mesma região de nascença de Dito, teve também uma educação mais simples, fato que fazia com que combinassem muito bem em seus gostos do dia a dia. Por fim, a família cresceu, tendo o casal, dois filhos.
O primeiro nasceu na época em que os empréstimos bancários ainda tiravam o sono do Jovem Dito, e assim, enquanto ele trabalhava duro para pagar as contas, seu filho estudou e se formou em Engenharia Agrícola, pois o pai, apesar de nunca ter se formado, exigia que o filho tivesse o estudo que ele nunca teve.
Dito, apesar de ter conquistado uma boa situação financeira e depois de alguns anos mais complicados no trabalho, ter tempo à disposição, nunca gostou muito de estudar e se orgulhava de ter conquistado tudo através de suas amizades e intuição.
Só que, com o passar do tempo, 16 anos após o nascimento de Ricardo, seu Dito é presenteado com a notícia de que terá outro filho, Rafael, o temporão.
Que notícia maravilhosa! Afinal, com a situação financeira e dos negócios bem resolvida, poderia dar mais atenção ao novo rebento, sem pressa e com mais tempo ao filho, fato que não aconteceu com Ricardo.
Mas, como já disse, apesar de dar valor a intuição, Dito era sábio, e tinha certeza de que para a continuidade dos negócios, seus filhos teriam que ser escolarizados e terem um diploma, coisa que seu velho pai nunca obrigou seus filhos a terem na pesada lida da agricultura no passado.
Afinal, seu sonho era a continuidade da empresa administrada pelos filhos.
Ricardo, o mais velho, acabou vindo trabalhar na empresa.
Entrou como ajudante, passou para vendas, finanças e hoje é o Diretor Geral, já que Seu Dito, apesar de não admitir, pensa em se aposentar.
Ricardo é direto, gosta de respostas rápidas e resultados imediatos. Gosta de modificar a equipe e os procedimentos da empresa de tempos em tempos. Afinal como ele diz, “camarão que dorme, a maré leva”. Tem a mesma aptidão para comunicação do que seu pai. É usualmente gentil e conversador, mas quando se vê contrariado ou perde alguma grande concorrência, se transforma em alguém impaciente e rude por vezes.
Rafael, o filho temporão nasceu e cresceu numa realidade diferente da de Ricardo.
Desespera os pais por não querer estudar, se formar, fazer a carreira que fez seu irmão.
Estudou em boas escolas, tinha tudo o que precisava, menos vontade de levar os estudos a frente. Afinal, por anos viu seu pai, um empresário bem-sucedido, ter chegado onde chegou sem um diploma formal.
Começa uma série de atividades, mas dificilmente termina alguma, pois enjoa logo e diz que “aquilo não é para ele”. Prefere lidar com computadores e celulares do que com gente, mas é observador e detalhista.
Não desenvolve muito uma conversa, caso algum assunto seja puxado com ele, afinal sempre acaba se irritando com o seu interlocutor. É mais recluso aos seus aposentos e isso causa em Seu Dito uma tremenda decepção.
Rafael é mais chegado às artes, a pintura em especial, mas sem nunca ter se aprofundado, apenas como hobby, e Dito imagina como será o futuro dele caso não se especialize para trabalhar na empresa da família e aplacar inclusive as críticas do irmão, que por vezes são bem pesadas.
Chega de história e vamos analisar o que um bom mapa comportamental diria sobre essa família, seus problemas e angústias.
Pai e mãe, por vezes, gostariam que os filhos fossem uma cópia deles, porém isso não é algo que necessariamente aconteça.
Apesar de Ricardo ter certas semelhanças com o pai, sua criação no geral, passando por experiências diferentes na sua formação, acrescentou a competitividade ao seu repertório e isso ajuda nos negócios comerciais da empresa.
Ser falante e direto contribui com a sua liderança na empresa, mas às vezes, tendo os seus motivadores não atendidos, age de forma menos reconhecível, quando, por vezes, se torna mais rude.
Rafael, por sua vez, tendo nascido sem muitos percalços e tendo menos restrições na vida durante sua formação, tem um perfil diferente e é mal compreendido pelo pai e pelo irmão como aquele que ‘não quer nada com nada’.
Não entendem que ser mais reservado não é defeito, mas sim uma característica que pode ser, desde que bem orientado, uma força importante dentro da empresa, pois se esquecem de que ele tem como talento ser detalhista e observador.
Gostar de formas artísticas como hobby, não o impede de ter uma função importante e complementar na administração dos negócios da família. Enquanto Ricardo tem talento para contatos e gerar negócios competitivos, Rafael, por sua quietude, tem na tecnologia a possibilidade de ficar na análise de dados estratégicos da empresa e direcionar caminhos e estratégias de crescimento futuro.
Rafael precisa de dados e não de contatos com pessoas para fazer um bom trabalho, como ocorre com seu pai e irmão. Porém, há de se fazer um levantamento de seus motivadores para saber QUAL A PALAVRA CERTA que o movimenta no dia a dia e que o faça ter interesse pelo trabalho dentro da organização, caso contrário, vai enjoar como todas as outras coisas que tem começado a fazer.
A partir desse entendimento desse grupo, no caso, familiar, os sentimentos de todos podem ser nomeados e isso facilita a comunicação entre eles.
Ricardo terá um ótimo parceiro de negócios, sem que Rafael invada nem compita diretamente na sua área de atuação. Já Rafael poderá desenvolver as suas habilidades trabalhando de forma remota e mais recluso que atende mais ao seu perfil.
Seu Dito poderá ter seus sonhos tornados realidade e curtir sua merecida aposentadoria com Dona Diva e com os filhos mantendo a continuidade de sua obra.
O que poderia parecer o ‘caminho para uma tragédia’, pode ter um belo final feliz se todos se empenharem em conhecer, entender e se adaptar às outras partes envolvidas.
Autoconhecimento e o conhecimento de seus entes próximos, liberta! Até a próxima
Maurício Duarte
Maurício Duarte
Coluna Autoconhecimento
Maurício Duarte é desde 2005, Analista de Perfis Comportamentais, Motivadores, Axiologia e Inteligência Emocional, formado pela TTI - Target Training International. Bacharelado em Comunicação Social pela PUC Campinas, é pós graduado em DPHO- Desenvolvimento de Potencial Humano nas Organizações e Psicanálise. Diretor da Antares Talentos - Desenvolvendo Talentos para a Vida www.antarestalentos.com.br