Raquel Baracat

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Ressecamento vaginal pós-parto - Coluna Ginecologia e Obstetrícia por Dra. Luciana Radomile

Com o turbilhão de hormônios, mudanças físicas e psicológicas que a mulher vive durante os nove meses, é esperado que seu corpo não esteja igual ao que era antes assim que recebe o bebê. Estrias, cicatrizes e até lacerações podem dar as caras logo após o parto, mas outras alterações só são notadas um pouco depois, como é o caso do ressecamento vaginal.

O probleminha costuma ser sentido pela mãe durante a relação sexual, que só é indicada após um período de resguardo para que o útero possa se recuperar completamente. A secura vaginal no pós-parto pode ser muito desconfortável e até mesmo frustrante. Pois pode interferir na vida sexual da mulher e na forma como ela se sente sobre si mesma.

Normalmente as mulheres que enfrentam o ressecamento vaginal apresentam ardor, coceira e desconforto local. Tal condição leva a uma sensação de “estar apertada” para a relação sexual devido ao atrito, e a mulher pode até sentir dor na hora da penetração.

Físico, hormonal, emocional: o que pode influenciar

Como a maioria das alterações durante e depois da gravidez, o sintoma tem origem hormonal. O ressecamento no pós-parto acontece pela queda do estrogênio, hormônio que estava em alta na gestação e responsável pela lubrificação vaginal. A condição é ainda maior nas mulheres que amamentam, já que o aleitamento também deixa o estrogênio em níveis mais baixos.

Quando a lubrificação volta ao normal?

A retomada da lubrificação é gradual e pode estar relacionada à amamentação. Para a mulher que não amamenta, aos poucos o ciclo hormonal vai retornando e, a partir do momento em que passa a ovular –  por volta de dois ou três meses depois do parto -, a quantidade de estrogênio volta aos níveis normais e o processo é revertido.

Tratamentos que podem ajudar

Imediatamente depois do parto, é contraindicado que a mulher aplique cremes ou medicamentos pela via vaginal por conta do risco de infecção, já que ainda está com o colo do útero aberto e isso funciona como porta de entrada para bactérias. Passados os 40 dias de repouso, caso a mulher sinta necessidade, já pode usar lubrificante durante a relação sexual. O ideal é que sejam hipoalergênicos, a base de água, sem perfume e corantes. Já os hidratantes vaginais o mais indicado é o hialurônico, mas a indicação varia pra cada caso. A recomendação é utilizar com orientação médica.

Como podemos diferenciar ressecamento vaginal de uma infecção?

Depende muito do tipo de infecção. A infecção vaginal, na maior parte das vezes se acompanha de corrimento. Ou seja, de aumento de secreção e o aspecto desse corrimento varia conforme o agente causador. Além disso, pode haver coceira, ardor, vermelhidão e odores mais fortes. O ressecamento vaginal pode haver coceira também, mas geralmente não há corrimento e não costuma ter vermelhidão local e odores fortes. Mas, o ideal, é consultar o médico para esclarecer melhor.

Cuidados durante a relação sexual

O lubrificante pode ser um grande aliado no sexo pós-parto, para que a relação não seja desconfortável. E até para evitar lesões na vagina e sangramento. Mas caso a mulher perceba que mesmo assim não se sente à vontade, uma alternativa é evitar por um tempinho a penetração. E por que não investir em outras formas de prazer ou até mesmo brinquedos sexuais de estimulação externa que sejam adequados ao momento que está vivendo? Conversar com o parceiro ou parceira é muito importante, para que ele/ela entenda que a mulher tem limitações físicas e que precisa de tempo, de mais estímulo e que seja feito com mais cuidado.

Quando a secura vaginal não é tratada adequadamente e principalmente quando não há uma compreensão correta e assertiva sobre a situação, há impactos emocionais na mulher, que pode armazenar memórias de que o ato sexual não é prazeroso, evoluindo até para evitar o contato futuro.

Dra. Luciana Radomile

Coluna Ginecologia e Obstetrícia

 Médica Formada pela Faculdade de Medicina da PUC Campinas, Especialização em Ginecologia e Obstetrícia na Unicamp. Membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia ( Febrasgo). Título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia TEGO- Contato: (19)993649238, dralucianaradomile@gmail.com