Esta estória é pra você. Entendeu?
Passado o feriado religioso (e prolongado) da Sexta-Feira Santa e Domingo de Pascoa, me lembrei de um filme que vi recentemente com uma temática também religiosa, além de consagrada e de conhecimento geral de todos.
Não vou me aprofundar em críticas sobre o filme, seria uma analise técnica acerca dos principais aspectos que envolvem uma produção, mas sim ao fato de ser uma obra de ficção inspirada na história narrada em Gênesis (de 5:25 a 10:1 – pouco mais de cem versículos) e que me chamou atenção a uma questão que é simples, mas que muitas produções “escorregam” nela: o filme tem que ser entendido por quem o assiste, onde quer que ele seja exibido. Eu sei, é óbvio.
Não sou fã de filmes nos quais o espectador tem que buscar informações extra-filme, pois considero um filme uma obra fechada. Não digo fechada no sentido de que a narrativa não seja concluída naquele volume ou capitulo, caso das trilogias, sequencias e continuações, mas da compreensão da obra e sua proposta.
Imagine que você nunca foi a uma igreja, nunca leu ou soube da existência de um grosso livro chamado “Biblia” e nunca ouviu falar de um ser que talvez tenha possibilitado que você esteja aqui na terra, comendo, bebendo, respirando e lendo este texto agora. Ao assistir “Noé” e ver este mesmo ser, que não é mencionado por seu nome (Deus) e sim como Criador e descobrir que ele vai destruir toda vida sobre o planeta terra, incluindo mulheres, crianças e recém-nascidos, você no mínimo teria a imagem de um monstro, assassino, uma besta da destruição. Entenderia este Criador como um antagonista e sendo assim as suas motivações e sua personalidade ficariam vazias e sem sentido na trama.
O filme só funciona, pois a Bíblia e suas variações são de conhecimento universal e os espectadores já tem uma opinião formada sobre este personagem e suas motivações daquele ato tão cruel e ninguém o pune por isso. Culturalmente já está imbuído em sua formação por credos dominantes na história da humanidade de que se deve compreender este genocídio por ele cometido.
Pegando este exemplo, claro que um pouco exagerado da minha parte, mas fica um pouco mais fácil compreender o fato de muitas vezes as grandes produções que investem milhões, algumas com o seu custo de produção, divulgação e distribuição chegando até perto do bilhão, com todo planejamento, efeitos especiais, atores celebres, etc, simplesmente não funcionam nas telas. Você sai da sala de cinema sem nem entender ao certo o que faltou e o pior que às vezes acha até que o problema é com você.
Como sempre digo, pra ser universal é preciso ser o mais local possível. A simplicidade é sempre compreendida. A mitologia não me deixa falar sozinho.
Beijos, abraços e ótimos filmes!
André Luis Camargo é ator em projetos de cinema desde 2010, participou de quatro curtas e pequenas participações em dois longas metragens. Em 2012 protagonizou seu primeiro longa metragem ainda a estrear. Está participando de dois longas como coadjuvante e um curta metragem ainda é pré-produção e também tem projetos de estrear peças de teatro.
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