Atribui-se a Winston Churchill, Primeiro-Ministro Inglês durante a 2a Guerra, a seguinte consideração sobre sistemas políticos democráticos: “A democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras que existem ou que já foram tentadas.”
Após mais de 20 anos trabalhando como professor e gestor na educação básica, também considero que o sistema de seleção para universidades através de provas é o pior que existe, mas ainda muito melhor que todos os outros sistemas tentados ou aventados.
Evidente que uma avaliação longa, com a cobrança de conteúdos, habilidades e competências desenvolvidos durante toda a educação básica, é intimidante. Qual aluno de 2o ou 3o ano do Ensino Médio, com 16 ou 17 anos, não tem um frio na barriga a cada vez que se lembra, por exemplo, do ENEM, com suas 180 questões e uma redação?
Contudo, posso dizer com toda certeza: o que mais incomoda os vestibulandos não é a extensão ou nível de exigência de uma prova. O que mais incomoda é a perspectiva de seu desempenho ser insuficiente para conseguir uma vaga na universidade e curso desejados. A possibilidade de “ficar de fora” é aterrorizadora em uma fase da vida que, para a maioria dos jovens, o mais importante é, justamente, “estar dentro”, integrado e aceito no grupo do qual escolheu participar.
O problema é que nossa educação básica (ensino fundamental e médio) NÃO prepara crianças e adolescentes para processos seletivos em que o mérito é essencial e o desempenho é considerado de forma impessoal e totalmente objetiva.
Não que as boas escolas deixem de se preocupar com o desenvolvimento dos itens que constam dos programas curriculares que baseiam a elaboração das provas pelas universidades e que são usados pelos técnicos que fazem o ENEM; não que bons professores não se desdobrem em busca de estratégias eficazes para que seus alunos desenvolvam habilidades e competências. Nada disso!
Pelo contrário, temos muitos profissionais competentes trabalhando, pesquisando e produzindo grandes reflexões sobre o que deve ser ensinado, sobre as maneiras mais eficientes para que tenhamos um aprendizado sólido e útil ao desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional do jovem. Temos centenas e mais centenas de professores, sobretudo nas escolas privadas, procurando fazer o melhor junto a seus alunos, garantindo uma preparação importante para qualquer um dos modelos de vestibular que temos no país.
Acontece que há um abismo “cultural” entre a maneira como nossas crianças e adolescentes são cobrados e avaliados na educação básica e a forma como funcionam os processos de seleção para as grandes universidades públicas brasileiras.
Em nossa educação básica predomina a cultura da MÉDIA, do mínimo necessário para o tal “prosseguimento nos estudos”. Nossas crianças e adolescentes são levados a acreditar que “ficando na MÉDIA” e “passando de ano”, tudo está bem. Passamos os 12 anos da educação básica (nove anos do Fundamental e os 3 anos do Médio) ajudando, por muitas vezes, até incentivando, o estudante a obter o mínimo necessário. Contudo, ao final daquele período, o jovem se depara com processos seletivos nos quais fazer o mínimo, estar na média, significa, justamente, “ficar de fora”.
Eis o verdadeiro problema: pesquisadores, gestores e docentes se matam para que o aprendizado do aluno seja eficiente. O aluno, “educado” na cultura do “mínimo necessário”, se preocupa com alguns dos aspectos trabalhados por seus professores; aprende o essencial do essencial e, durante 12 anos, a cada mês de novembro, recebem o prêmio e o “reconhecimento” pelo mínimo conseguido: a aprovação para a série seguinte.
Só ao final do 3o ano, as coisas são diferentes. O jovem iludido e, porque não dizer, “enganado” por terem dito a ele que tudo estava bem, já que sempre “passou de ano”, se depara com o vestibular – faz o mínimo do mínimo, pensando que está fazendo o máximo; “vai bem”, mas não aparece em nenhuma lista de aprovados.