O mundo dá voltas

"Nunca fechar portas – um sinal de inteligência"

 

Recentemente uma amiga veio se aconselhar comigo sobre uma situação profissional. Ela estava saindo de uma empresa por vontade própria, após não acreditar mais no projeto e no rumo que a mesma estava tomando. Nos últimos meses, a decepção, descontentamento e desencanto foram tão grandes, que ela estava saindo da empresa realmente convicta e sem querer deixar qualquer possibilidade de voltar para aquela empresa nas suas próximas cinco vidas. Nesta conversa ela me disse que gostaria de dizer “umas verdades” ao líder da empresa e até fazê-lo por escrito. Seria uma espécie de desabafo e, ao mesmo tempo, uma mensagem de que nunca mais queria saber daquela empresa. Eu desaconselhei.

Um pouco antes, outro conhecido me pediu uma opinião sobre uma ação judicial que estava pensando em mover contra a empresa que acabara de deixar. Sem entrar no mérito da ação e dos motivos, estava claro que o que estava em jogo era muito mais uma mágoa e um desejo de vingança do que outra coisa.  Após ouvir textualmente que a coisa era muito mais pessoal do que técnica e corporativa, desaconselhei.

Poderia aqui citar mais uns três ou quatro casos semelhantes nos últimos anos, de pessoas que me pediram opinião sobre o que fazer em situações de encerramento de relações, sejam profissionais ou afetivas. Em todas, a minha opinião, quando a vontade era de “chutar a canela do outro” no momento final, foi: - Não faça!

Quem me conhece deve estar pensando: - Ué, o cara tá louco? Que versão “Marcelinho Paz e Amor” é esta?  Cadê aquele Marcelo assertivo e que chuta a canela de quem tiver que chutar? Quem não me conhece, também pode estar se questionando por que desaconselhei este momento de “prazer” que estas pessoas poderiam ter. Afinal, a relação está acabando mesmo. Por que não descarregar e devolver um pouco do que me causaram de sentimentos ruins?

Hoje trato deste assunto com muita frieza e tranquilidade, de quem está perto de completar 20 anos de carreira (pós formatura), sem contar os 5 anos de aulas em cursinho na época da faculdade. Já fiz coisas parecidas com as que acabo de desaconselhar. Só entrei na justiça uma vez, contra um vizinho que bateu no meu carro na garagem do prédio e se negou a pagar. Foi divertido fazê-lo pagar o dobro na frente de um juiz. Mas confesso que já chutei algumas poucas canelas no passado, em situações semelhantes às citadas. E sabe de uma coisa? Não serviu para nada. Aliás, serviu sim. Serviu para fechar portas com estas pessoas e ter a chance de vê-las depondo contra mim sempre que pudessem. Ou seja, não ganhei nada.

Esta é a principal razão de hoje eu desaconselhar qualquer um a ter atitudes que fechem portas. Depois de 20 anos de carreira, aprendi uma coisa muito simples e que muitos teimam em não enxergar  – o mundo dá muitas voltas. Pessoas que hoje não significam nada para você e que poderiam muito levar um chute na canela, amanhã podem ser decisivas em algum aspecto da sua vida ou da sua carreira. Sei que as estatísticas podem mostrar que as chances de você precisar de algumas pessoas no futuro são mínimas, mas acredite, não são nulas. E parece que o mundo conspira para colocar determinadas pessoas novamente na nossa estrada. Faça uma pesquisa você mesmo. Converse com pessoas mais velhas e pergunte se isso já aconteceu com elas ou não. Você vai se surpreender.

Portanto o meu recado de hoje é este. Sempre que algum relacionamento seu acabar, pessoal ou profissional, e te der vontade de mandar aquela pessoa ou empresa para aquele lugar, lembre-se de duas coisas: Primeiro, que você não vai ganhar nada com isso. Segundo, que o mundo dá voltas. Até o próximo!

Sócio Diretor da Unità Educacional. Diretor Acadêmico na Inova Business School.  Vice Presidente de Trainning & Education da AYR Consulting –Consultoria de Inovação. Professor de Estratégia Empresarial, Cultura organizacional e Planejamento de Carreira em cursos de MBA Executivos. Experiência de 20 anos em empresas como: Souza Cruz, CLARO, TIM, ESPM, ESAMC, AYR Consulting e Unità Educacional. Autor/Organizador de dois livros: Métodos de Ensino para Nativos Digitais (Atlas, 2010) e Gestão de Carreira e Competências (Atlas, 2014). Mediador do FAB – Future Advisory Board, grupo de 23 CEOs da Região de Campinas, que se reúne bimestralmente para discutir Futuro e Tendências. Formação: Graduado em Engenharia Química, com Pós-Graduação em Gestão de Produção, MBA Executivo em Marketing e em Gestão de Negócios. Master em Tendências, Coolhunting e Gestão da Inovação.

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