Psicoterapia e espiritualidade - Semana 03-02

 

Parece que as duas coisas não combinam, certo? Mas combinam sim.

A espiritualidade, a religiosidade, a fé, são comportamentos instalados durante a vida, da mesma forma que tantos outros. O indivíduo desenvolve ou não, a partir de vivências, experiências, convivências e exemplos, a capacidade de acreditar ou não em Deus, Força similar ou Poder sobrenatural que rege o universo.

Muitas pessoas questionam sua fé em terapia. Muitas pessoas a afirmam através deste processo e muitas outras desenvolvem o desejo de acreditar em algo e, o terapeuta pode ajudar nisso também.

Cada profissional tem sua crença pessoal ou não, mas isso pouco influenciará na ajuda que pode oferecer. O que é importante neste caso é conhecer um pouco das religiões e, responder totalmente à história de vida, sensibilidade e capacidades de seu cliente. É a partir das possibilidades DELE que irão juntos entender e desenvolver sua própria fé.

Às vezes falta mesmo conhecimento e experiências ligadas a espiritualidade. Às vezes, por um perfil muito controlador, fica difícil considerar a ideia de depositar em algo não substancial, a origem e destino de sua vida. A terapia abordando o caráter controlador e centralizador, diminuindo a necessidade (ilusória) de gerenciar todas as circunstâncias, com o tempo pode permitir o surgimento da simpatia, necessidade, aproximação de uma vida mais espiritualizada.

Muitos clientes querem saber qual a orientação espiritual ou religiosa do terapeuta. Na minha visão, o profissional deve sim assumir sua posição se questionado, a não ser que funcionalmente ele avalie que pode prejudicar o processo.

Na maioria das vezes, o posicionamento assumido do terapeuta nas questões da vida inspira em seu cliente confiança, amadurecimento e não necessariamente promovem a influência sobre o tema. Minha experiência tem mostrado que o que permanece e fortalece o vínculo terapêutico é o ato de posicionar-se, de abrir um pouco seu universo a quem está ali, na frente e já tirou todos os véus, um por um, com todas as dificuldades e resistências que isso implica.

Além disso, a boa terapia não deixa que o terapeuta seja o centro do processo, ele, deve estar totalmente entregue ao mundo do cliente, às circunstâncias que mantém o funcionamento de sua vida. Sendo assim, até um posicionamento próprio deve acontecer naturalmente dentro desta perspectiva.

A espiritualidade é algo muito saudável, se desenvolvida através de critérios reforçadores tais como: experiências, contatos e desejo que inspiram esta busca. Se surgir de aspectos negativos como: medo de morrer, doença de alguém querido, perda de emprego, corremos o risco de desenvolver comportamentos de FUGA e não de FÉ: preciso rezar, ir à igreja, fazer a novena para afastar tais situações aversivas. Perder o medo de situações desconhecidas, diminuir a inquietação sobre nosso próprio destino e ter confiança no que virá após a morte, são consequências da fé e não devem ser a sua motivação.

“Minha fé é no desconhecido,
em tudo que não podemos compreender por meio da razão.
Creio que o que está acima do nosso entendimento
é apenas um fato em outras dimensões
e que no reino do desconhecido há uma infinita reserva de poder.”

Charles Chaplin.

IMG_0204.png

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos

Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.

Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.

Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.  Email: fbvpsicologa@gmail.com

Falando em psicoterapia, vamos por os pingos nos is?

De vez em quando, ouço ao final de algumas sessões a seguinte frase: “puxa, olha só, falamos tanto e eu vim pra cá sem saber o que falaria para você hoje!”.

Acho interessante porque, quando a gente é recém-formada, tem por um bom tempo essa preocupação de “ficar sem assunto” com o cliente (um outro dia conto por que minha abordagem psicológica chama o paciente de cliente e não de paciente). E, não muito tempo depois, você aprende que psicoterapia trata de VIDA e esta é uma fonte de assunto inesgotável, basta você estar sensível à pessoa que está à sua frente, basta que você responda totalmente e a cada detalhe que vier dela.

A psicoterapia costuma iniciar com uma queixa específica, quase sempre já em um nível de sofrimento grande para quem procura. A verdade é: quem não está neste ponto, dificilmente busca ajuda. Temos uma cultura de saúde que privilegia o tratamento (quando já tem algo errado) e não a prevenção, em todas as instâncias.

É assim que funciona e, tudo bem começar desta forma, já que o melhor da psicoterapia vem depois que a queixa inicial é diluída ou resolvida: a pessoa aprende que se preparar para os próximos “perrengues” é muito mais interessante do que ter que correr atrás deles.

Eu costumo chamar de amadurecimento da terapia, é onde paramos de apagar fogo e começamos a construir pontes. É também onde o vínculo com seu terapeuta  favorece sua autoconfiança, e as conquistas que começam a aparecer dão uma sensação de “time que está ganhando”.

Por essas e outras, está claro que psicoterapia não é para “loucos”? Está claro que não é vergonha ser encaminhado a um psicólogo ou psiquiatra ou pedir ajuda a um deles?

Gente, o conceito de loucura prevê a baixa ou nenhuma capacidade do indivíduo de colaborar com o mundo através de uma consciência de si mesmo, de seus comportamentos e consequências dele. Quem infelizmente desenvolve este estado, nem consegue ser tratado por psicoterapia, pois não tem capacidade de envolver-se no processo, ou porque o pensamento não está intacto, ora porque a afetividade está comprometida. Sem esses elos não há terapia. A maioria de nós, apesar dos problemas, tem essas capacidades preservadas ou pelos menos o suficiente para conseguirmos nos beneficiar de uma ajuda psicológica.

E aí, sempre teve curiosidade ou acha que precisa de um help? Encha o peito de coragem e procure um profissional! Prefira as indicações de pessoas confiáveis que já passaram pelo processo e, se não houver empatia com o terapeuta na consulta, procure outro, não há problema nisso. São várias abordagens e, em cada uma delas o profissional tem posturas diferentes em relação ao seu cliente e vínculo. Encontre o modelo que mais o deixa à vontade, sempre lembrando que, numa primeira sessão ninguém fica à vontade, tenha sempre um pouco de paciência!

Tem uma frase de um psicanalista famoso chamado Carl Jung que explica bem o que é a psicoterapia e diz o seguinte: “o principal objetivo da terapia psicológica não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida acontece num equilíbrio entre a alegria e a dor.”.

E gente, cá pra nós, é claro que podemos passar pelos sofrimentos da vida sozinhos e sobreviveremos, mesmo sem ajuda. Mas a questão é: a que custo? Se a dor existe de qualquer forma (e a terapia não nos livra disso), não podemos pelo menos tentar passar por isso com o menor custo possível? É isso que a psicoterapia deve fazer pelo mundo.

Anima?

Pessoal, fico à disposição para responder dúvidas através do e-mail:  fbvpsicologa@gmail.com

Até a próxima!

 

flavia bertuzzo

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos é Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.