Parece que as duas coisas não combinam, certo? Mas combinam sim.
A espiritualidade, a religiosidade, a fé, são comportamentos instalados durante a vida, da mesma forma que tantos outros. O indivíduo desenvolve ou não, a partir de vivências, experiências, convivências e exemplos, a capacidade de acreditar ou não em Deus, Força similar ou Poder sobrenatural que rege o universo.
Muitas pessoas questionam sua fé em terapia. Muitas pessoas a afirmam através deste processo e muitas outras desenvolvem o desejo de acreditar em algo e, o terapeuta pode ajudar nisso também.
Cada profissional tem sua crença pessoal ou não, mas isso pouco influenciará na ajuda que pode oferecer. O que é importante neste caso é conhecer um pouco das religiões e, responder totalmente à história de vida, sensibilidade e capacidades de seu cliente. É a partir das possibilidades DELE que irão juntos entender e desenvolver sua própria fé.
Às vezes falta mesmo conhecimento e experiências ligadas a espiritualidade. Às vezes, por um perfil muito controlador, fica difícil considerar a ideia de depositar em algo não substancial, a origem e destino de sua vida. A terapia abordando o caráter controlador e centralizador, diminuindo a necessidade (ilusória) de gerenciar todas as circunstâncias, com o tempo pode permitir o surgimento da simpatia, necessidade, aproximação de uma vida mais espiritualizada.
Muitos clientes querem saber qual a orientação espiritual ou religiosa do terapeuta. Na minha visão, o profissional deve sim assumir sua posição se questionado, a não ser que funcionalmente ele avalie que pode prejudicar o processo.
Na maioria das vezes, o posicionamento assumido do terapeuta nas questões da vida inspira em seu cliente confiança, amadurecimento e não necessariamente promovem a influência sobre o tema. Minha experiência tem mostrado que o que permanece e fortalece o vínculo terapêutico é o ato de posicionar-se, de abrir um pouco seu universo a quem está ali, na frente e já tirou todos os véus, um por um, com todas as dificuldades e resistências que isso implica.
Além disso, a boa terapia não deixa que o terapeuta seja o centro do processo, ele, deve estar totalmente entregue ao mundo do cliente, às circunstâncias que mantém o funcionamento de sua vida. Sendo assim, até um posicionamento próprio deve acontecer naturalmente dentro desta perspectiva.
A espiritualidade é algo muito saudável, se desenvolvida através de critérios reforçadores tais como: experiências, contatos e desejo que inspiram esta busca. Se surgir de aspectos negativos como: medo de morrer, doença de alguém querido, perda de emprego, corremos o risco de desenvolver comportamentos de FUGA e não de FÉ: preciso rezar, ir à igreja, fazer a novena para afastar tais situações aversivas. Perder o medo de situações desconhecidas, diminuir a inquietação sobre nosso próprio destino e ter confiança no que virá após a morte, são consequências da fé e não devem ser a sua motivação.
“Minha fé é no desconhecido,
em tudo que não podemos compreender por meio da razão.
Creio que o que está acima do nosso entendimento
é apenas um fato em outras dimensões
e que no reino do desconhecido há uma infinita reserva de poder.”
Charles Chaplin.
Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.
Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.
Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado. Email: fbvpsicologa@gmail.com