Viajar é preciso

Tenho um conceito terapêutico sobre viajar, conhecer outros lugares, meus clientes sabem bem porque digo o tempo todo.

Viajar é uma ação usualmente associada a lazer, distração, esquecer de tudo, mudar de ares, sair da rotina. Eu vejo como possibilidade de enfrentamentos, treino de habilidades, reorganização de percepções.

Sem perceber, transformamos nosso dia a dia em um mundo particular, fechado e, devo dizer pequeno, bem pequeno. Gradualmente vamos diminuindo nossas fronteiras ao que podemos ver e ao que estamos passando, sem mais enxergar outras praças.

Sei que a vida pede que concentremos muito de nosso tempo em temas específicos como trabalho e família, mas cabe a nossa percepção não deixar que a vida diminua nossa capacidade de enxergar horizontes mais longínquos.

Planejar uma viagem não é somente um evento lúdico para alguns e trabalhoso para outros, é também um exercício de exploração de possibilidades, de organização e compilação de ideias e dados. Transformar desejo em realidade dá trabalho. Dizem que o planejamento é ainda melhor que estar lá, isso acontece porque o planejar insere o sonhar, encerra o esperar-para-comer-a-cereja-do-bolo.

 A gente começa a sair do próprio mundinho quando passa a colher informações sobre um lugar que não é o seu, que não possui fronteiras tangíveis. O planejar sair da “Flavialândia” é tão importante quanto, de fato, conhecer outro lugar, talvez outra cultura. É aí que mora o conceito terapêutico da coisa: estar em outro lugar, vivenciando situações novas ou diferentes das usuais, permite que possamos novamente colocar as nossas coisas nos seus devidos lugares, sem a absorção e abdução automáticas e diárias.

Ao retornar de sua viagem, pode escrever que, seus problemas continuam lá, suas conquistas também, mas provavelmente você verá a ambos com a amplitude de quem viu que o horizonte não termina ali na esquina. Diante da vastidão do mundo, o seu (mundo) toma outras proporções. As soluções, que antes só poderiam estar dentro daquele baú, agora podem estar em outros mil cantos da alma, as prioridades podem emergir de outras províncias, as certezas se fortalecem ou se relativizam. A “Flavialândia” começa a fazer fronteira com outros reinos.

Viajar desperta os sentidos, a capacidade de adaptação, de enfrentamento do novo e desacomoda. É isso, precisamos definitivamente desacomodar nossos limites. Vamos lá olhar o mundo, depois voltamos e decidimos como resolver as coisas, mas só depois, ok?

 

flavia bertuzzo

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos é Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo.

Psicoterapeuta comportamental há 15 anos em consultório privado e, desde 2011, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil.

Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.  Email: fbvpsicologa@gmail.com

Viajar é preciso!

Há algumas semanas me perguntaram por que eu viajava tanto. Uma pergunta simples e direta, coisa que eu poderia ter respondido com um simples: "porque gosto" ou um "porque acho legal passear". Todavia não conseguia achar uma única resposta para essa única pergunta. Seriam as minhas viagens um desejo? um capricho? uma concessão? talvez mera curiosidade? experimentar uma dose extra de liberdade? conhecer o desconhecido?

 

lucas

 Resolvi ir mais fundo. Comecei a pensar na razão maior do porque 600 milhões de pessoas entram anualmente em um avião, cruzam oceanos, deixam familiares e amigos para trás, a procura do novo, do diferente. Para cada destino uma viagem, e para cada viagem uma historia.

 

lucas

   Tinha 16 anos recém completados quando embarquei em minha primeira grande aventura. O destino? Canada. A razão? Intercambio. Duração? Um ano. Coisa que parecia eterna e passou voando. Mas foi lá que comecei a ter maturidade, onde descobri o gosto da sensação de liberdade e o peso das escolhas.   Tomar um avião sozinho ou atravessar o pais de leste a oeste em um ônibus lotado de intercambistas parecia muito mais interessante que mais um final de semana no sofá de casa.

lucas


    Voltar pra casa foi ótimo. Família  amigos, comidinha brazuca, isso não tem preço. Sempre amei o Brasil, mas não quis saber de colocar um ponto final, e sim, dar continuidade as minhas aventuras. E assim foi: curso de espanhol no inverno de 2008 na Argentina. Graças a esse curso de espanhol consegui meu primeiro emprego na IBM em Hortolândia (e olha que ainda dizem que viajar não é investimento!) 

 

lucas

    Culpa do destino, meus tios e primos se mudaram em 2008 para o Oriente Médio onde moram até hoje. E foi no final de 2009 que embarquei em direção a terra do Aladin. Ferias em Doha, ano novo em Dubai, Rally no deserto da Jordânia  Tudo era extremamente diferente, mas nada tão inesquecível como quando cheguei na cidade de Petra e vi o monumento do "Tesouro". Coisas que só viajando a gente sente.

Em julho de 2010, me aventurei pela primeira vez na Europa: Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Estônia. Tive a chance de ir visitar meus amigos europeus em suas casas, ver como era a vida de cada um, o que realmente faziam, conhecer suas famílias e ver de perto, o novo.

 

lucas

 E qual não foi a minha surpresa, quando apos um ano meio já trabalhando na Bosch Campinas, tive a chance de ir trabalhar na Bosch Alemanha? Abracei a oportunidade e descobri que o hobby virou vicio. Um vicio delicioso. Aprendi a viajar pelo meu bairro, a viajar de avião  a viajar em um parque, ou me perder na viagem de um novo livro, viajar em pensamentos, nas viagens dos outros. Era sempre um prazer viajar nas viagens.

   A facilidade de viajar pela Europa eh tanta: subir em um trem em Munique e em 4 horas sair em Paris. Tomar um chá em Londres em um final de semana e um Gelatoem Milão no outro. Era uma aventura sem fim, um momento que parecia eterno, mas como tudo na vida, não era. Voltei ao Brasil, e quando voltei sabia que aqui era meu lar, mas seria o meu lugar? Muitos dizem que o seu lar eh onde esta o seu coração. E dizer que partes de mim não ficaram pelos lugares que andei seria ir contra as leis da Natureza.

 Não acho que a grama do vizinho eh sempre mais verde. Mas sei que o tom desse verde eh outro e preciso vê-lo de perto. Para mim, viajar eh isso. Eh entender que a cada novo destino eu me descubro melhor. Entender que na realidade não existe, o certo ou o errado, o feio ou o bonito, mas apenas o Meu e o Seu.

E você? Por que viaja?

Texto publicado por mim na Revista Donne Differenza  em Dezembro de 2012

 

lucas

 

Lucas Estevam Ferreira é Formado em Admnistração e Marketing, Lucas Estevam - 23 anos - é empresário e autor do blog Estevam Pelo Mundo. Membro da RBBV, resolveu tirar o computador da mochila e a câmera do bolso quando partiu para seu terceiro mochilão pelos países bálticos rumo ao Oriente Médio. Fanático por viagens e fascinado por todos os cantos desse mundo, conta aqui histórias, curiosidades, muitas dicas e, claro, um pouco dos “perrengues” que passou pelos quase 60 países visitados.