Qual foi o último filme que você ouviu?


Recentemente fui assistir “Invocação do Mal” (The Conjuring) no cinema e apesar do dano físico que me causou pelas noites que não consegui dormir confesso que adorei. Uma das coisas que me impressionou neste filme foi como o diretor conseguiu trabalhar muito bem com as informações extra campo (o que não vemos no quadro) usando o som como orientador.

O que mais nos assusta é o desconhecido, quanto menos vemos mais nossa imaginação trabalha e esse é o grande segredo para um filme de terror ser bem sucedido. Cada espectador sentirá um tipo de tensão de acordo com sua memória. Quando a ameaça não aparece criamos imagens e associamos situações similares vividas por nós no passado.

 

andre

Existem alguns clichês no uso do som, aquele silencio antes do susto no suspense, o ranger da porta, o zumbido no ouvido depois da explosão de uma bomba, o cantar dos pneus numa perseguição, e muitos outros.

Um outro filme também recente que usou muito bem o som foi “Gravidade”. Excelente trabalho de desenho de som, que vai desde o contraste entre os climas criados pela boa trilha sonora e os momentos do silêncio ensurdecedor do espaço às diferentes modulações de voz indicando quando temos a câmera subjetiva ou observando os personagens.

andre camargo

Infelizmente esse trabalho não é reconhecido como mereceria. As pessoas notam a narrativa, os efeitos visuais, atuação dos atores, mas poucos saem do cinema elogiando os sons. Agora, quando um som não é executado de forma correta num filme ele é reparado, pois ele incomoda e pode até prejudicar a percepção do filme. E justamente pelo fato de que a prerrogativa do som seja passar despercebido ele é tão pouco valorizado pelo público.

Curiosamente, também são poucos os diretores que pensam no som no momento de conceber um projeto. Raros são os que planejam o som desde o roteiro, pensam qual o timbre dos personagens, qual ambiência da cena, quais ruídos serão necessários ou terão que ser eliminados de acordo com a locação da cena e muitas outras questões que geralmente acabam sendo resolvidas apenas na hora da gravação.

Isso se torna um problema no cinema, uma vez que a maioria das cenas são em locações externas. Geralmente na pré-produção o diretor e o diretor de arte saem na procura das locações pelos aspectos estéticos, mas não se pensa nas interferências sonoras do local, se ao lado tem uma construção, uma escola infantil com crianças gritando, uma igreja pentecostal com fieis cantando, aeroporto, etc.

Nesta fase, para se estabelecer o que deve ser estudado e planejado, basicamente pode-se distinguir:

-          Diálogos

-          Efeitos Sonoros

-          Música

E analisando o discurso sonoro como forma de expressão, pela mensagem transmitida, basicamente identifica-se o som nas categorias:

-          Som Diegético: o universo sonoro que é perceptível pelos personagens em cena (o som dos carros numa cidade, o ruído de uma multidão, os pássaros no campo, a música num bar, etc), ou o diálogo entre personagens. Estes sons podem aparecer junto ao enquadramento visual da cena ou não.

-          Som não Diegético:  todo o som da cena que não é percebido pelos personagens, mas que influenciam a interpretação da cena, mesmo que muito sutil. São basicamente uma narração, música de fundo ou efeitos sonoros especiais.

-          Som Meta Diegético: sonoridades subjetivas que traduzem o imaginário de uma personagem (geralmente nas alucinações, vozes, etc).

Há outras subdivisões mais técnicas, som interno e externo, amplitude, tonalidade, timbre, espacialização, mas a estrutura básica do som num filme seria essa.

Esse o Brasil elegeu um longa metragem na corrida por uma vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar com um titulo pertinente a esse trabalho de som. “O som ao redor” é o primeiro longa de ficção do crítico e cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho. Nele, são retratadas as tensões e contradições sociais do Brasil e com certeza o trabalho de desenho de som tem um papel fundamental na qualidade final desta obra.

Vamos torcer!

Nos vemos na próxima. Bons filmes a todos!

 

andré camargo

 

André Camargo é ator em projetos de cinema desde 2010, participou de quatro curtas e pequenas participações em dois longas metragens. Em 2012 protagonizou seu primeiro longa metragem ainda a estrear. Está participando de dois longas como coadjuvante e um curta metragem ainda é pré-produção e também tem projetos de estrear peças de teatro.

Email:  andre@adiant.com.br e Fan page: www.facebook.com/AndreCamargoAtor