A reabilitação total de pacientes com maxilares que sofreram grande perda óssea sempre se mostrou como um dos maiores desafios para o cirurgião dentista, devido à complexidade de sua execução. Ao longo de grande parte da história da odontologia, as próteses totais removíveis (leia-se: dentaduras!!!!!) eram a única opção disponível para o tratamento destes pacientes. Os resultados obtidos com o tratamento com dentaduras é frequentemente insatisfatório, pois, devido ao processo de perda óssea progressiva causado pela extração dos dentes e acentuado pela compressão provocada pelas dentaduras, as próteses acabam apresentando perda progressiva de retenção e estabilidade, isto é, ficam “bambas” e “soltas” na boca, comprometendo de forma significativa as funções mastigatória, fonética e estética dos pacientes. Consequentemente, estas próteses instáveis afetam negativamente a qualidade de vida do paciente que as utiliza.
Devido ao peso e à falta de
estabilidade das dentaduras em pacientes com grande perda óssea, estes
pacientes se tornam impossibilitados de realizar diversas funções naturais do
dia a dia, como abrir plenamente a boca, comer alimentos mais consistentes, ou
sorrir com naturalidade, pois estes atos podem resultar no deslocamento da
prótese. A abertura reduzida da boca pode causar atrofia da musculatura
mastigatória, resultando em problemas digestivos, musculares e articulares. Em
muitos casos, os pacientes se vêem obrigados a utilizar suas dentaduras mais
antigas, que por serem mais finas, apresentam um peso menor, e sua estabilidade
na boca é um pouco mais satisfatória. Entretanto, a utilização destas próteses
sem a altura adequada confere ao paciente um perfil facial senil, com aspecto
de idoso, conhecido como perfil de polichinelo, popularmente conhecido como
“boca murcha”, o que também afeta consideravelmente sua estética, e causa causa
problemas articulares, mastigatórios e musculares.
A utilização dos implantes dentários como bases para ancoragem de próteses totais fixas revolucionou o tratamento reabilitador dos pacientes desdentados, pois tornou possível a realização de reabilitações que recuperam completamente a capacidade mastigatória, devolvendo-lhes saúde, função mastigatória e estética plenas. Para esta população, que até então era fadada a se contentar com a condição de invalidez oral, essa alternativa terapêutica representou a possibilidade de recuperação de suas funções habituais, podendo, com isso, levar novamente uma vida normal.
Uma das grandes dificuldades inerente ao tratamento convencional com implantes dentários são os pacientes que apresentam grandes perdas ósseas: nestes pacientes, para que seja possível a instalação dos implantes, existe a necessidade de se realizar extensas reconstruções dos maxilares através de enxertos ósseos. Estes enxertos são realizados colhendo-se blocos de osso do próprio indivíduo, e parafusando-se esses blocos no local onde serão instalados os futuros implantes. Quando a perda óssea é grande, a coleta de blocos ósseos deve ser realizada a partir de áreas doadoras extra-orais, como a crista ilíaca (bacia) ou a calota craniana, através de cirurgias invasivas, com elevado grau de morbidade, quadro pós-operatório crítico, e com um tempo desanimador de recuperação. Os grandes procedimentos de enxertia óssea eram um sacrifício que os pacientes com grandes perdas ósseas tinham que se submeter para poderem ter sua qualidade de vida recuperada.
Felizmente, hoje
existem alternativas para realização do tratamento com implantes sem a
necessidade de enxertos ósseos, mesmo em pacientes com grandes perdas ósseas!
Técnicas cirúrgicas como o All-on-4, Approach Palatino e Implantes Zigomáticos
já vem sendo realizadas e estudadas a mais de uma década, e além de eliminar
completamente a necessidade dos enxertos ósseos, apresentam altíssimas taxas de
sucesso, mais elevadas até do que com a realização dos enxertos. A união destas
técnicas foi uma grande revolução da implantodontia, pois eliminou a
necessidade de realização de enxertos ósseos para a reabilitação total de
pacientes com grande perdas ósseas. Nós da Sculpere Odontologia temos grande
orgulho de termos participado ativamente desta revolução, aprimorando as técnicas
cirúrgicas, realizando diversos estudos clínicos e laboratoriais que resultaram
na publicação diversos artigos científicos (confiram alguns destes artigos em:
www.sculpere.com.br/publicacoes/), e participando como ministradores em
diversos congressos nacionais e internacionais, divulgando e defendendo as
técnicas de reabilitação total sem enxertos ósseos. Assim, somos hoje uma
das equipes com maior experiência no mundo nesse tipo de tratamento. Nas
próximas colunas iremos abordar em detalhes cada uma destas técnicas que
eliminaram os enxertos ósseos para reabilitações totais.
Dr. Abílio Coppedê é Cirurgião-Dentista, Mestre e Doutor em Reabilitação Oral pela FORP-USP, Pós-Doutorando em Implantodontia pela UnG, Pós-Graduado em Cirurgia Avançada pelo IAP - São Paulo, Coordenador do Curso de Especialização em Implantologia pela ABO-Campinas, Professor do Curso em Cirurgia Avançada de Implantes Zigomáticos pela Uningá - Maringá, Coordenador do Livro "Reabilitando Maxilas Atróficas Edêntulas Sem Exertos Ósseos" pela Quintessence Internacional, Autor de diversos Artigos Científicos Internacionais e Nacionais, Autor de diversos Capítulos de Livros Científicos na área de Implantodontia, Membro da Sociedade Brasileira de Reabilitação Oral, Membro da Academia Brasileira de Osseintegração.
Coordenador do Departamento de Reabilitação Oral da Clínica Odontológica Sculpere Odontologia e Arte- Campinas (www.sculpere.com.br).