Eu nunca fui muito fã de moto, lembro que uma vez quando criança meu tio me colocou na garupa apenas para fazer uma foto e eu já senti muito medo. Mas a parte boa que “mochilar” pelo mundo é que não nos preocupamos com fato de ter que dirigir, é nossa menor preocupação. Mas, logo no meu primeiro destino, a Indonésia, moradores da comunidade onde trabalhei pediram para eu usar uma scooter como meio de transporte da ilha. Quando eu disse que não sabia dirigir, eles logo se ofereceram para me ensinar. Assim que comecei a aprender eles logo perceberam que eu não tinha jeito nenhum para aquilo e decidiram me ajudar de outra forma, com caronas mesmo.
Mas, a vida estaria prestes a me pregar uma peça. Meses depois, na Índia, a vida novamente estava me testando. Viajar com a perspectiva de explorar o mundo ao invés de turistar, realmente nos leva a sair da zona de conforto. Assim que cheguei em Pondicherry, uma cidade próxima a Chennai, no sudeste indiano; uma turma de franceses me alertou sobre o fato de precisar de uma moto para me locomover na região. Eu mal podia acreditar que a vida estava ali me forçando a realizar algo que havia negado no passado. E justo na índia, um dos lugares mais perigosos de se dirigir do mundo.
Decidir ir até o local de aluguel, e esse era tão “dogdy” – expressão em inglês que significa “nada confiável, perigoso, precário”, ou seja, feito nas cochas. Eles nem me pediram documento, muito menos carteira de motorista. Deixávamos um valor de aluguel pago, mais um valor calção relativamente alto, com os dados para contato. Só isso, se não voltássemos para pegar o dinheiro de volta, significava que tínhamos morrido ou desaparecido com a moto. Essa local ficava localizado bem uma avenida extremamente movimentada, de asfalto, cheio de buracos e com o acostamento de terra. Ou seja, a partir do momento que pagássemos, já tínhamos que sair dirigindo, no meio daquela avenida caótica. E é claro, sem capacete!
Essa é a famosa Índia, quase todo o país é “dogdy” e eu estava ali, sentindo o frio na barriga dos carros que passavam me beirando, e ao mesmo tempo tentando desviar dos pedestres que paravam apenas para me olhar, assim que percebiam que eu era uma estrangeira. Eu me esforçava para me equilibrar naquela scooter junto com o peso dos alimentos que trazia para o meu jantar. Passados sete dias nessa rotina, eu já me sentia super a vontade em cima dela, parecia até que eu nunca havia tido medo de moto antes. Foi quando um belo dia, eu resolvi dar carona para um rapaz que tinha acabado de chegar na cidade.
Já era entardecer na estrada de terra, a noite ficava tudo sem iluminação por ali. Foi então que decidi aumentar a minha velocidade para voltar o quanto antes. Isso somado ao peso dele, mais o das minhas compras e à uma curva fechada na estrada de terra, fez com quem derrapassemos sofrendo um pequeno acidente.
A moto e ele caíram em cima de mim e eu tive um corte no pé que lembro todo vez que olho para sua cicatriz. Mas, fiz questão de não deixar a scooter, mesmo com o pé machucado eu continuei usando-a nos próximos dias que fiquei na cidade.
Depois dessa experiência, eu sei que devemos aceitar todos os desafios que a vida nos oferece. Caso contrário, ela vai os colocar de novo em nossos destinos, de uma forma ou de outra. E quando resolvermos vence-los e sair da zona de conforto, que lembramos sempre de ter cautela. A intensidade não vai faze-lo passar mais rápido.
Tatiana Garcia
Coluna Volunturismo
Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada. Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br