Vinhos degustados - Colunas Vinhos por Miguel Nunes

Korta Barrel Selection Reserve Petit Verdot 2009

 Chateau Ste.Michele – Syrah – 2004, Catena 

Cabernet Sauvignon – High Altidude Grapes Selected by Laura Catena - 2007


No último post falei sobre modos de descrição de vinhos. Adiante, uma descrição sintética e uma mais analítica de três vinhos do novo mundo degustados recentemente:

1-Korta Barrel Selection Reserve - 2009 – varietal da uva Petit Verdot - 14% de álcool - Curicó- Vale do Lonthué – Chile- D.O. Sagrada Familia – Vinícola Korta Bucarey. Importadora Mar e Mar.

Síntese: Um típico vinho do novo mundo, potente, soberbo, exagerado em fruta madura, mas, ainda assim, equilibrado, saboroso, sedutor. Não parece custar o que custou, apenas R$ 38,00. Excepcional relação custo benefício. Listado pela revista exame entre os vinhos ótimos com preços inferiores a R$ 50 reais.

Análise visual: lágrimas fartas e ágeis denotando alto teor alcóolico (e de fato tem 14%). Vermelho rubi escuro, quase imperceptível halo de evolução, mas sem os tons azulados do vinho jovem, denotando que os antocianos estão integrados. Análise Olfativa: vinho franco (sem defeitos), frutos negros maduros, bolo inglês de frutos cristalizados, lembrando merlot maduro e rico, puxou também para o carmenère. Difícil definir sua tipicidade nessa versão, já que lembra essas duas outras varietais (não esqueçamos que essas uvas são ligadas pela mesma ancestralidade, na região de Bordeaux).  Muito intenso aromaticamente. Análise gustativa: vinho seco, ataque portentoso, de médio corpo para encorpado, sem taninos adstringentes nem amargos, de boa acidez, faltando um pouco para maior suporte à intensidade de fruta e álcool, o que lhe aumentaria a longevidade e o tornaria mais equilibrado, embora aqui tenha faltado apenas um pouco de acidez para o equilíbrio perfeito. Longa persistência. Além do mais, mata a curiosidade de quem se interessa pelos vinhos bordaleses: a petit verdot entra com participação baixa de 1% a 3% nos cortes clássicos  da margem esquerda do rio Gironde (Médoc - Bordeaux), para dar estrutura ao conjunto. É raro ser produzido em varietal, engarrafado sozinho, sem corte. Aqui nesta versão do cone sul, a varietal está bem domada e atenuada, o que faz lembrar a diferença entre o malbec da argentina, bem mais suave que o malbec - ou côt - de Cahors, no sudoeste francês. Escoltaria bem assados bovinos, cordeiro e risotos, e massas como penne ao molho de fungi. Para quem gosta de pontuação: 87 pontos.

          

2- Chateau Ste.Michele – Syrah – 2004 - Columbia Valley -  Washington State – EUA. 

Síntese:  vinho carnudo, que lembra frutos negros de bosque, com toque de especiarias, muito sedutor. O produtor, estabelecido na costa oeste  americana, mas inspirado no estilo do vinho francês, produz com a mesma qualidade cabernet sauvignon carnudo e frutado, riesling enérgicos  e deliciosos e tantos outros ainda não degustados nesta coluna. Savoir fair francês em terroir yanke. Acima da média dos que competem na mesma faixa de preço (R$ 80,00).  Distribuidora Winebrands.

Análise visual: Cor vermelho rubro escuro, límpido e pouco translúcido. Lágrimas numerosas e lentas. Análise olfativa: vinho franco (sem defeitos), buquet esplendoroso,  evoluído, redondo, inebriante. Aromas de especiarias, fruta mais distante e um toque de complexidade. Muito elegante, com madeira discreta se insinuando. Análise gustativa:  impactante, com bom ataque, corpo médio, com taninos finos, aveludados, sem amargor nem adstringência dignos de nota, um toque e uma certa densidade de licor fino de frutos vermelhos tipo cherry, sem ser enjoativo, dada a boa acidez. Notas de pimenta do reino, mais discretas do que o usual nos syrahs, algo indefinível e sutil no fim de boca que lembra um mix de madeira, café e cereja. Um néctar de excelente relação custo beneficio. Muito gastronômico. Acompanhou bem as carnes. Para quem espera a pontuação: 89 pts.


3- Catena - Cabernet Sauvignon – High Altidude Grapes Selected by Laura Catena - 2007 – 13,5% de álcool – Bodega Catena Zapata - Argentina, Mendoza, Luan de Cuyo. Importadora Mistral. (o safra 2009 está na faixa de R$ 75,00/R$80,00/ 92RP).

Síntese: vinho de bela cor evoluída, com suaves notas de compota de frutos negros e evidentes toques de evolução, como notas couro e caixa de charuto. Elegante, redondo, de boa acidez, e média persistência. Ótimo para escoltar carnes e guisados, excelente também para ser degustado só.


Análise visual: cor vermelho rubi intenso, com lágrimas que, apesar da idade, ainda tingem as paredes da taça. Ligeiro halo de evolução, com sutil e gradativa perda de cor nas bordas. Límpido e pouco translúcido. Análise olfativa: vinho franco (sem defeitos), aromas de frutos negros maduros, compotados, cassis, toques empireumáticos, caixa de charuto e couro, evidenciando evolução. Muita elegância, conjunto sedutor e profundo. Com sete anos de safra, parece estar no apogeu. Análise gustativa: vinho seco, taninos domados, sem amargor nem adstringência, de boa acidez. Corpo médio, com boa intensidade de fruta, apesar de atenuado e evoluído, boa quantidade de extratos, macio, redondo, com retogosto de café e chocolate. Perfeito equilíbrio entre álcool, estrutura e acidez. Longa persistência. Retrata bem a excelente safra de 2007 no cone sul e a expertise da família Catena  Zapata. E mais: mostra ser possível que um vinho dessa faixa de preço se beneficie com a guarda. Para os que esperam pontuação: 90 pts.

Bons brindes!

Miguel Nunes

 

 Advogado graduado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, com especialização em direito Processual Civil PUC-COGEAE e LLM – Direito do Mercado Financeiro e de Capitais, pelo IBMEC. Atua no setor financeiro e bancário em instituição financeira. Contato: miguelcn@uol.com.br