Dica de filme - Os escolhidos
Dica de livros - Intermitências da morte de José Saramago
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Foi no primeiro dia do ano que a morte deixou de operar no país. O livro começa mesmo com a frase “No dia seguinte ninguém morreu”. No entanto, as iniciais reações de felicidade causada por tal facto, depressa se convertem em reações de desespero. Nunca antes na história a morte havia deixado de matar, pelo que diversos problemas começar a advir deste misterioso acontecimento.
Acidentes? Houve-os, e com feridos graves, mas mesmo aqueles que em situações normais teriam morrido no momento do acidente não morriam. Permaneciam num sofrimento eternizado. O país geral entrou em crise, sendo de salientar os problemas enfrentados pelas funerárias (que no desespero começaram a enterrar animais, pois ao que parece a morte que nos mata não é a que mata os animais), pelas seguradoras, pelos hospitais e lares…
Também as religiões foram afetadas, pois é da morte que vivem e é o que lhes permite criar fé num Deus. Como a morte havia somente deixado de operar naquele país, surgiu, não muito depois, uma organização criminosa, a Maphia, que levava as pessoas na iminência de morrer para um país vizinho para que estas falecessem como seria suposto.
No entanto, meses mais tarde, a morte (com “m” minúsculo, como gostava de assinar a sua correspondência) voltou. Dirigiu uma carta que enviou a um canal de televisão para que a notícia fosse difundida. E assim foi, no dia seguinte à difusão da notícia, a morte voltou à rotina! Contudo, não voltou à normal rotina. A partir daquele dia a morte viria a enviar uma carta escrita (em papel cor-de-rosa, note-se), com oito dias de antecedência àqueles que iriam morrer passada essa semana, anunciando, precisamente, a sua morte.
Andava a morte atarefada com esta sua nova responsabilidade, a morte anunciada, quando recebeu de volta uma carta extraviada. Alguém não estava a receber a sua morte anunciada, assunto que não foi de fácil resolução para a morte. Por mais que esta tentasse enviar a carta ela nunca era entregue ao destinatário. O assunto intrigou a morte, pelo que esta decidiu assumir uma forma humana e tentar uma aproximação.
A morte e o homem encontraram-se algumas vezes, mas em nenhuma a morte foi capaz de lhe entregar a carta. A morte acabou por apaixonar-se pelo homem. Trocaram beijos e foram para a cama. Após o homem adormecer a morte olhou a carta violeta. Não sabia o que fazer ou pensar, mas foi até à cozinha e, como um comum mortal, acendeu um fósforo que desfez a indestrutível carta. De seguida, a morte, que nunca dorme, deitou-se agarrada ao homem e, sem perceber o que se passava, sentiu o sono.
No dia seguinte ninguém voltou a morrer! "
Fonte: http://rabiscosdeumaleitora.blogspot.com.br/2013/07/critica-literaria-as-intermitencias-da.html
Luciana Andrade
Bibliotecária e Psicologa formada há alguns anos.. Atua na área de psicologia com consultório e no SOS Ação mulher e família como Psicologa voluntária . Cursou biblioteconomia por adorar os livros e assim ficou conhecendo mais profundamente a história literária. Através de filmes e livros consegue entrar em mundos reais, imaginários , fantásticos o que deixa o coração e a mente livres para conhecer , acreditar e principalmente sonhar.