Para diagnosticar a Endometriose primeiramente precisamos pensar nesse diagnóstico.
Não podemos considerar a cólica menstrual intensa como um sintoma normal.
A partir disso, identificamos a existência de sintomas compatíveis e fazemos um exame físico em busca de sinais da doença.
A seguir é importante solicitar o exame correto. Muitas vezes um ultrassom convencional não identifica as lesões. Precisamos realizar ou a Ressonância Magnética de Pelve ou o Ultrassom para Pesquisa de Endometriose Profunda. Lembrando que esses exames devem ser feitos por profissionais experientes no diagnóstico da Endometriose.
A endometriose ainda é uma doença subdiagnosticada? Por quê?
Sim! A Endometriose continua sendo uma doença subdiagnosticada, apesar da grande melhora nos métodos diagnósticos que observamos nos últimos anos.
Essa dificuldade em diagnosticar ocorre principalmente pelo hábito de considerarmos a dor como algo normal, sugerindo que as mulheres devam se medicar e suportar os sintomas por muito tempo, antes que procurem ajuda especializada.
Em média uma paciente sofre por 7 a 10 anos até chegar ao diagnóstico correto e iniciar um tratamento eficaz.
São anos de sofrimento que poderiam ser evitados caso os sintomas fossem valorizados numa fase mais precoce.
Há relação entre endometriose e infertilidade?
Muitas mulheres inférteis apresentam Endometriose como causa principal. A inflamação crônica causada pela doença afeta os órgãos reprodutores da mulher, dificultando a ocorrência da gravidez.
A inflamação torna o ambiente pélvico inadequado para a gestação, por alterações químicas e formações de aderências. O útero, as trompas e os ovários podem sofrer prejuízos cada vez maiores ao longo dos anos.
Por vezes os métodos de reprodução assistida podem ser necessários para devolver a esperança de alcançar a maternidade.
Quando a cirurgia é indicada para pacientes com endometriose?
A cirurgia é indicada em algumas situações. Pacientes com grandes cistos de ovário, endometriose de apêndice, endometriose com sintomas de obstrução intestinal ou endometriose de vias urinárias que comprometam a drenagem de urina, são indicações clássicas de cirurgia.
Entretanto, pacientes com dor intensa que não melhore com medicação e pacientes com infertilidade, podem ser operadas em busca de melhora clínica.
Quais são os tipos de cirurgia mais utilizadas (laparoscopia, robótica etc.)?
Atualmente o tratamento cirúrgico da Endometriose é realizado por técnicas minimamente invasivas.
Essas técnicas, que são a laparoscopia e a robótica, oferecem uma imagem ampliada e de alta definição. Essa qualidade é fundamental para que o médico identifique todos os focos de doença que precisam ser removidos no tratamento.
Robótica: vamos falar dela?
Claro! Para mim, a Cirurgia Robótica é o que há de mais avançado e preciso no tratamento da Endometriose. Mas é importante ressaltar que o robô não opera sozinho.
Ele é um instrumento cirúrgico que depende diretamente da existência de um cirurgião treinado e qualificado que seja capaz de extrair do equipamento todos os recursos que ele oferece.
Assim, operamos com uma imagem tridimensional e de alta qualidade, com pinças que realizam movimentos altamente complexos, usando uma energia de melhor qualidade. Além disso, o cirurgião comanda simultaneamente 3 braços robóticos.
É como se utilizássemos um computador que multiplica nossas habilidades no momento de tratar cada paciente. Ressecamos a doença com muito mais precisão causando muito menos reação inflamatória.
A cirurgia cura a endometriose ou há risco de recidiva?
Infelizmente sempre há risco de recidiva. Por ser uma doença crônica, com base genética, há risco de voltar em algum momento.
O importante é tratarmos precocemente, com a medicação correta e com uma cirurgia definitiva e eficaz.
Qualquer falha nesse processo interfere no resultado, aumentando as chances da doença se manifestar novamente. Portanto, buscar ajuda especializada é fundamental para atingir melhores resultados.
Quais são os principais riscos ou complicações de uma cirurgia para endometriose profunda?
As cirurgias de Endometriose Profunda exigem intenso conhecimento de anatomia e técnica cirúrgica.
Os focos de endometriose invadem os tecidos ao longo de anos, causando distorções anatômicas e aderências complexas.
Assim precisamos programar nossa mente para enxergar a anatomia normal em meio a um cenário de doença. É fundamental ressecar os focos de Endometriose, preservando a funcionalidade dos órgãos acometidos.
E para isso precisamos preservar vasos e nervos delicados. As complicações podem surgir pela lesão intraoperatória de alguma estrutura ou sangramento excessivo, podendo levar a risco de infecções, perda da funcionalidade e perda do potencial reprodutivo.
Portanto, não se aprende a tratar Endometriose do dia para a noite.
É preciso tempo, experiência, equipe multidisciplinar e se possível, acesso aos melhores recursos em tecnologia para que se alcance os melhores resultados.
Dr. Carlos Eduardo Godoy Jr
Cirurgião ginecológico especialista em cirurgia robótica
Médico líder do Núcleo de Endometriose do Hospital São Luiz Campinas
