Depressão e Síndrome do Pânico: Qual a solução? Coluna Psicologia por Leticia Kancelkis

Poderíamos escrever páginas e mais páginas, livros e mais livros a respeito de Depressão e Síndrome do Pânico, mas a dor que assola a alma de alguém que foi acometido por essas doenças é inenarrável.

Esforcemo-nos, no entanto, no sentido de alcançar esta dor. Este é um convite que faço a você que é capaz de amar. Sei que é, caso contrário não teria sequer o interesse de ler um textoa este respeito, a não ser emraras exceções. Consideremos que o preconceito e o DESDÉM de muitos em relação às doenças da alma são gritantes e que precisamos “pôr a boca no trombone” em busca da conscientização tão necessária a este respeito. Provavelmente se ela acontecesse minimamente, evitaríamos muitos suicídios explícitos ou velados.

A necessidade de a mãe ou cuidador se colocar no lugar de seu bebê é extrema, no sentido de fornecer a ele aquilo de que precisa. Acima de tudo, ele precisa de amor, única fonte desta empatia da qual falamos e, consequentemente, da possibilidade de que ele experimente muito mais o amparo do que o desamparo, a segurança muito mais do que a ameaça, a auto-aceitação e auto-estima equilibradamente elevadas no futuro muito mais do que a vivência do sentimento de culpa proveniente de fantasias inconscientes de culpa.

O tratamento psicológico de quem esteja talvez literalmente morrendo de dor na alma precisa ter como base o mesmo amor que a mãe deve ter e exercer na relação com seu bebê. Quem   sofre de depressão traz feridas abertas em sua alma e estas feridas precisam ser limpas, cuidadas com o máximo de equilíbrio entre força e delicadeza.

Certo tempo atrás, uma moça que leu alguns artigos que escrevi mandou  um e-mail para mim, relatando  algumas experiências dolorosas relacionadas a um dos conteúdos que publiquei e parabenizando-me pelas produções. A partir de então, começamos a trocar e-mails, na medida em que me interessei pelo seu sofrimento e formamos um vínculo a partir da troca de relatos de experiências e sentimentos. Não havia me contado ainda, neste período, no entanto, tudo pelo que realmente estava passando.

Meses depois, ela procurou-me pedindo socorro profissional, iniciando comigo seu processo de mergulho em seu psiquismo tão sofrido pelos quadros de Depressão e Síndrome do Pânico, além dos acidentes constantese extremamente dolorosos por que havia passado durante a vida.

  Recebi-a na clínica com todo o amor e preciso mencionar que o vínculo que já se esboçou vários meses antes disto apenas agregou valor a seu tratamento.  Seu sofrimento era atroz e a conduziu por um caminho ainda mais tortuoso: a dependência por medicamentos controlados. Ela fechou-se em si mesma, em uma solidão violenta, como forma de procurar defender-sede experiências emocionais colocadas para dentro do coração como algo extremamente destruidor. Os relacionamentos eram sentidos como altamente devastadores em seu coração.

A formação de um vínculo sólido e estreito parece-me a base do sucesso na Psicoterapia e minha prática tem confirmado isso. A pessoa real do psicoterapeuta precisa ser mostrada com a devida ética e os devidos limites percebidos com sensibilidade. Ajudou-a muito conhecer aspectos de minha própria existência que me trouxeram dor e notar que não somente sobrevivi a estas dores, como podia ter e realizar novos sonhos.

A proximidade que “abraça” no sentido mais amplo do termo é crucial. Winnicott, incrível psicanalista e pediatra, que viveu entre 1896 e 1971, traz o conceito de “holding”, que é justamente a capacidade da mãe de ter empatia com seu bebê, fornecendo-lhe o máximo possível daquilo de que ele realmente precisa, no momento em que precisa. Esta capacidade que não é aprendida nos livros, que não se ensina, interfere de forma crucial na saúde emocional do ser humano.

Ora, se há uma interferência tão importante do relacionamento mãe-bebê no desenvolvimento psíquico da pessoa, parece-me que o seu tratamento psicológico deve buscar seguir esta linha: a de fornecer um ambiente suficientemente bom, capaz de “abraçar”, acolher, amparar, atender necessidades e, consequentemente, trazer a firme possibilidade de confiança no psicólogo. Só isto pode trazer esperança, bem como a possibilidade de reconstruir significados em direção à cura.

 

Mas esta postura não se restringe ao psicólogo! O que quero dizer aqui pode ser assim resumido: Aquele que está convivendo com alguém que esteja imerso em dores na alma como estas das quais falamos deve saber que nada mais poderoso do que o amor, o interesse e o esforço em compreender o sofrimento desse alguém para ajudar em sua cura. Jung nos adverte com a ideia de que devemos conhecer todas as técnicas e teorias, mas que diante de uma alma sejamos apenas outra alma. Isto me faz pensar que, na realidade, é o amor o maior e mais poderoso remédio para quadros de dor na alma como a Depressão e a Síndrome do Pânico, pelo simples fato de que do amor nascem: a empatia, a compreensão, a tolerância, a paciência, a fome de conhecimento a respeito do que se pode fazer por quem sofre, a persistência no tempo que for necessário para fazer o verdadeiro RESGATE de que alguém muito amado pode precisar.

Leticia Kancelkis

Coluna Psicologia

Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com