Você já se perguntou por que briga com as pessoas? Ou por que sente tanta raiva delas em determinados momentos que podem parecer mais intensos e causadores de sofrimento do que deveriam ser?
Bem, temos, a princípio, muitos motivos “reais” para brigarmos ou ficarmos bem irritados e também muitos motivos misteriosos dentro de nós para que isso aconteça! O jeitinho que é só nosso de “engolir” e “digerir” nossas vivências, desde o ventre materno, mais essas mesmas vivências fazem com que construamos nosso psiquismo, incluindo ideias, fantasias e conflitos que permanecem inconscientes, até podermos acessá-los em análise.
Quantas vezes, ao brigar com alguém, você já percebeu reações desproporcionais de sua parte? Talvez não tenha percebido em você, mas no outro. Isso pode acontecer por causa de questões internas desconhecidas pela própria pessoa, relacionadas, por exemplo, a algo que aciona o sentir que há um ataque e consequente ameaça naquilo que está sendo dito ou em atitudes alheias.
Experiências infantis que trouxeram sentimentos de desamparo, insegurança, medo de morte como se ela fosse iminente, podem ser revividas nesses momentos, sem que se tenha consciência de que uma certa angústia que gera a necessidade de se defender fortemente está carregada de dores relativas a um tempo passado. Ou seja, parece-me que nenhum relacionamento do presente está completamente “descontaminado” em relação a vínculos estabelecidos desde o início da vida. Portanto, reagimos não apenas ao que está acontecendo hoje, mas também à bagagem emocional que carregamos.
Outro mecanismo que pode estar entrando em ação em momentos de briga é aquele que faz com que vejamos no outro algo que está em nós e que nos incomoda e ameaça a ponto de não podermos enxergar em nós mesmos. A aversão é tão grande, que temos que lançar essas ideias/sentimentos sobre o outro, de modo que não é possível aguentar seu peso na própria alma.
Só a partir da compreensão profunda do que está no nosso “arquivo morto”, poderemos nos libertar mais e mais no sentido de fazer o poder maléfico de conteúdos escondidos em nós mesmos perder força. E é apenas quando esses conteúdos vão deixando de estar escondidos que alcançamos isto, por meio de um processo.
Leticia Kancelkis
Coluna Psicologia
Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com