Raquel Baracat

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Traqueostomia em Pediatria - Coluna Pediatria por Dra. Carolina Calafiori de Campos

Recentemente a filha do ator Juliano Cazarré com Letícia Cazarré, a pequena Maria Guilhermina, diagnosticada com uma cardiopatia rara , chamada Anomalia de Ebstein , passou por um procedimento chamado Traqueostomia .

A traqueostomia (TQT) é um procedimento cirúrgico que pode ser feito em qualquer faixa etária, inclusive em crianças abaixo de um ano.

Basicamente , o objetivo é fazer uma abertura na traqueia, liberando as vias aéreas, para que o ar chegue até os pulmões, ou seja, funciona como uma " rota alternativa" para reestabelecer a passagem de ar, nessas crianças.

A TQT é frequentemente realizada em crianças que apresentam anomalias das vias aéreas superiores , tanto as congênitas ( desde o nascimento ) ou mais comumente as adquiridas, secundárias a uma intubação prolongada, além de crianças que necessitam de ventilação mecânica (VM) prolongada devido a quadros de insuficiência respiratória.

A TQT também é realizada com mais frequência em crianças com condições crônicas, incluindo aquelas com comprometimento neurológico , doenças cardíacas e pulmonares congênitas.

A decisão de realização de traqueostomia em criança é complexa e depende de vários fatores , incluindo a gravidade da obstrução da via aérea , a dificuldade e o tempo de intubação e a condição subjacente da criança. Cada um desses fatos deve ser avaliado em conjunto pelo pediatra e pelo cirurgião, e a indicação deve ser baseada nas condições individuais de cada criança.

Veja abaixo as condições clínicas que podem indicar a necessidade de TQT de forma precoce ou tardia:

  1. Malformações congênitas: Estenoses glóticas, subglóticas ou de traqueia superior; Cistos laríngeos e de valécula; Hemangioma de laringe ; Obstrução de via aérea superior por malformações craniofaciais.

  2. Infecções: Epiglotite aguda ; Laringotraqueobronquite recorrente.

  3. Tumores: tumores avançados de laringe, tonsilas, faringe ou traqueia superior com consequente estridor e colapsos mecânicos.

  4. Disfunções laríngeas: Paralisia abdutora das cordas vocais.

  5. Traumas: Lesões maxilofaciais graves , fraturas ou transecções da laringe ou da traqueia, lesões cervicais que tornam difícil ou inviável a intubação endotraqueal para manipulação e abordagem das vias aéreas (necessidade de cricoidostomia ou TQT de urgência), aspiração de conteúdos químicos, lacerações traqueais, queimaduras, corrosivos e reações anafiláticas gerando edema subglótico significativo , corpos estranhos em que a TQT pode ser realizada após tentativas frustradas de retiradas dos corpos estranhos por manobras mecânicas ou endoscópicas.

  6. Pós operatórios: Complicações pós-operatórias de tireoidectomia, esôfago ou cordas vocais, como alterações anatômicas no trajeto do fluxo respiratório, tempo prévio ou complementar a outras cirurgias bucofaringolaringológicas.

  7. Apnéia do sono: A TQT permite segurança e a passagem livre do ar na ocorrência de colapso dos músculos faríngeos durante o sono. Porém, ventilação não invasiva deve ser tentada como primeiro tratamento.

  8. Proteção das vias aéreas: Estados de coma, cirurgias de vias aéreas, pescoço e cavidade oral.

  9. Edema glótico e estenoses subglóticas.

  10. Distúrbio grave de deglutição

  11. Higiene de vias aéreas : Dificuldade de manipulação das secreções em casos de idade avançada, doenças neuromusculares, lesão cervical alta.

  12. Suporte ventilatório: Ventilação mecânica (VM) prolongada, traqueomalácia, desmame da VM, hipoventilação associadas a doenças neurológicas , como a paralisia cerebral.

Em 2017, a Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicaram, no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, o “1º Consenso Brasileiro de Traqueostomia em Crianças”. Nessa publicação, os autores consideraram fundamental o exame endoscópico das vias aéreas antes da traqueostomia, para que sejam avaliadas as causas da obstrução respiratória e, baseado nos achados e na proposta terapêutica futura, decidir qual é a melhor localização para a TQT.
Além disso, foi consenso entre os membros que a traqueostomia em crianças deve sempre ser feita em centro cirúrgico,

e suas indicações devem nortear o tipo de cânula e suporte ventilatório necessário, assim como o seguimento e o planejamento terapêutico e da decanulação. Ainda de acordo com o consenso, todas essas variáveis e perspectivas precisam ser discutidas com a família desde o momento em que se indica a TQT.

Em crianças em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP), que tenham tido falhas de extubação por obstrução respiratória alta, os membros consideraram fundamental o exame endoscópico das VA nas seguintes situações: após a segunda falha eletiva de extubação e/ou na persistência de estridor ou disfonia mesmo 72 horas após a extubação.

Ao longo doa últimos anos , o número de crianças tratadas e curadas pela traqueostomia , aumentou, porém ela tem um grande impacto na vida da criança e da família, necessitando de um acompanhamento multidisciplinar com : pediatra, pneumopediatra, gastropediatra, cirurgião, fonoaudióloga , enfermeiro , nutróloga e psicóloga.

Existem complicações relacionadas à TQT? sim ! Crianças submetidas a TQT apresentam maior risco de complicações do que pacientes adultos, e quanto mais jovem é a criança, maior é o risco de complicações. As complicações da TQT podem ser classificadas em precoces e tardias.

As precoces são : Pneumotórax , decanulação acidental ( saída da cânula ) , tamponamento da TQT (obstrução), sangramento e até mesmo a morte.

As tardias são: Ruptura do estoma , tecido de granulação, fístula traqueoinominada, fístula traqueoesofágica, morte.
Nem todas as crianças retiram a traqueostomia antes de irem para casa; algumas precisam ir para o domicílio com a cânula, e para isso os paos precisam de todo o materiral necessário, além de um treinamento com os cuidados com a traqueostomia , bem como a detecção de complicações e técnicas de emergência.

A retirada da cânula ( decanulação) somente deve ser tentada após resolução da doença primária que indicou o procedimento

Referência Bibliográfica :

VELINO, M. A. G. et al . First Clinical Consensus and National Recommendations on Tracheostomized Children of the Brazilian Academy of Pediatric Otorhinolaryngology (ABOPe) and Brazilian Society of Pediatrics (SBP). Braz. j. otorhinolaryngol, São Paulo , v.83, n.5, p.498–506, 2017...




Dra. Carolina Calafiori de Campos

Coluna Pediatria

Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944 

Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com