Versões e fatos - Coluna "Sua Carreira" por Marcelo Veras

“Versão é versão. Fato é fato. Quem não sabe disso, aliena-se”

 

Praticamente toda história envolve embates. Desde a chamada revolução cognitiva há 70 mil anos, passando pelos séculos antes de Cristo até o dias atuais, o ser humano está se envolvendo em alguma disputa. Lutas por ideias, poder, dinheiro, terra, admiração, enfim, por tudo. O homem é e será sempre um competidor. Isso é da nossa natureza e do modelo de sociedade que montamos. As pessoas, geralmente, querem sempre mais. São ambiciosas ou gananciosas, e isso gera uma sociedade de embates constantes.

A questão que quero trazer hoje é exatamente a credibilidade das histórias que ouvimos e como nos posicionamos em relação a elas. Um ponto é bem fácil de entender: as histórias sempre são contadas (e escritas) pelos vencedores. Pare e pense, na imensa maioria dos casos, quem registra as batalhas são os vitoriosos. Raramente temos a oportunidade de entender a fundo o que realmente ocorreu. Por isso muitos historiadores gostam do termo “atribui-se”, ou seja, “como não temos 100% de certeza do que houve, atribuímos”. Gosto dessa visão menos totalitária, até pelo fato de que o que acontece entre quatro paredes só é conhecido por quem estava lá. Em alguns casos, nem existem vencedores ou perdedores, mas há um com maior palco para contar a sua história. Independente do caso, sempre tem alguém com uma versão mais “longa e detalhada”.

Bom, se os vencedores sempre contam a história, como você acha que as “batalhas” serão descritas? Como o vencedor geralmente apresenta as suas versões? Alexandre, o Grande, viajava sempre com cronistas que registravam (e aumentavam) suas as façanhas. Eles contavam as histórias das batalhas, sempre evidenciando a vitória de um exército menor sobre o maior, enaltecendo os valores de audácia, estratégia e coragem do famoso conquistador. A questão é simples: quem tem a "voz" diz sempre o que bem quer. Perdedores, por exemplo, são mudos.

Na vida pessoal e profissional, não é diferente. Todo santo dia ouvimos algo sobre alguém. Dependendo da força e da credibilidade da fonte, tendemos a acreditar. Mas isso pode ser uma grande armadilha, porque a fonte nem sempre é 100% confiável, nem sempre sabe de tudo e (quase) nunca é imparcial. Esses três ingredientes são suficientes para tomarmos um cuidado básico – não acreditar em tudo que se ouve. Dependendo da situação, até temos a oportunidade de ouvir a outra parte envolvida, mas na maioria das vezes não temos.

Acho incrível como as rodas de café nas empresas conseguem reunir pessoas com essa enorme capacidade de acreditar e disseminar mitos e versões equivocadas sobre fatos. Já debati esse tema com muita gente e a conclusão é uma só:  pessoas limitadas intelectualmente e normalmente invejosas, gostam de dedicar uma parte do seu tempo a diminuir os demais. Esse fenômeno é quase uma versão “light” da esquizofrenia, quando alguém cria um mundo paralelo e acredita nele.

Essa postura, se não eliminada, pode trazer prejuízos enormes na carreira e na vida. Acreditar em tudo o que se escuta sobre todos nos leva a tomar decisões equivocadas, emitir opiniões erradas sobre pessoas, negócios, produtos ou clientes. Acreditar em tudo nos torna manipuláveis, fracos diante de questões maiores e incapazes de liderar uma equipe. Ou seja, a carreira trava e viramos marionetes profissionais. As empresas estão cheias de profissionais deste naipe.

O convite hoje é para esta reflexão. Muito cuidado ao analisar uma história e tirar conclusões a partir dela, independente de quem lhe contou. Com o tempo, a gente conhece e reconhece com facilidade esse perfil de esquizofrênicos que gostam de criar mitos, histórias irreais e disseminá-las. Fuja desse time e dessas pessoas. Elas têm um poder enorme de destruição. É melhor ficar longe e não se aliar a essa turma.

Fatos são fatos. Versões são versões. Nem sempre coincidem. Portanto, ouça sempre com cuidado e análise crítica aquilo que ouve, e muito cuidado ao tomar decisões a partir de história contada por outros. Até o próximo!

 

Marcelo Veras

Coluna Sua Carreira

 

CEO da Atmo Educação.  Sócio e membro do conselho da Unità Educacional. Professor de Marketing, Estratégia Empresarial ePlanejamento de Carreira em cursos de MBA Executivos. Experiência de 25 anos em empresas como: Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM,  ESAMC, AYR Consulting, Unità Educacional e Atmo Educação. Autor/Organizador de dois livros: Métodos de Ensino para Nativos Digitais (Atlas, 2010) e Gestão de Carreira e Competências (Atlas, 2014). Mediador do FAB – Future Advisory Board.  marcelo.veras@unitaeducacional.com.brfacebook.com/verasmarcelo LinkedIn: Marcelo Veras - Skype: verasmarcelo  Tel: (19) 99610-3105 (19) 99482-3333

 

Líderes que não são líderes - Coluna "Sua Carreira" por Marcelo Veras

“Quem não desenvolve a sua equipe, não merece ter uma equipe”


A competência liderança é complexa. Ela se constrói com competências técnicas e comportamentais, ou seja, conhecimentos e atitudes. Quando analisada individualmente, são mais de 10 habilidades que formam um grande líder. Gosto de dividir estas habilidades entre dois grupos, sendo um deles o que chamo de “ticket para entrar no jogo”, ou seja, algumas coisas muito, mas muito básicas, que se não existirem não há conversa. Sabe o bê a bá? Isso mesmo. Em uma conversa de 5 minutos e com duas perguntas, consigo hoje dizer se alguém está pronto ou não para assumir um cargo de liderança. Basta ouvir a opinião sobre alguns desses itens básicos.

Um belo exemplo deste bê a bá chama-se “desenvolvimento de pessoas”. Você pode até chegar, por meios lícitos ou escusos, a uma posição de liderança. Isso nem é tão difícil. Mas só permanece líder por muito tempo quem entrega sempre e continuamente bons resultados. Para entregar bons resultados, um líder precisa de uma boa equipe. Uma boa equipe se constrói com pessoas competentes, motivadas e em constante desenvolvimento e crescimento. Simples, concorda? Quase matemático. Pois bem, pergunto uma coisa simples: - De quem é a responsabilidade de criar sempre as condições para que as pessoas da sua equipe estejam sempre motivadas, em crescimento e desenvolvimento? De quem?

Nesta última semana bati um papo longo com um ex-aluno, que me contou uma coisa que ouço com frequência e que me deixa sempre muito triste e revoltado. A frase dele resume tudo. “Professor, estou pensando em pedir demissão e procurar outro emprego. Sinto-me estagnado. Não falo de salário ou cargo, refiro-me ao fato de me sentir emburrecendo. Não aprendo mais nada e não me sinto motivado. Fui falar com meu chefe e ele disse que isso é bobagem. Segundo ele, temos que fazer o nosso trabalho e ponto. E ainda disse que acha que eu já estudei demais e está bom como está”.

Juro que não quis nem saber o nome dessa criatura. Dá vontade de fazer um boletim de ocorrência na delegacia. Um “chefe” que diz para uma pessoa da sua equipe que não é preciso continuar aprendendo coisas novas ou se desenvolvendo deveria ir para a cadeia. Pelo amor de Deus. Mas, lamentavelmente, isso é mais comum do que se imagina. Por isso sempre digo que vivemos em um apagão de liderança. A média geral é muito ruim e mal preparada. Em casos extremos, algumas empresas conseguem entregar uma equipe para uma pessoa tão despreparada, mas tão despreparada, que consegue levar  a área (ou até a empresa) para o buraco. E isso acontece sempre por um único motivo: os melhores se desmotivam, vão embora e o nível de competência e motivação da equipe vive como um caminhão sem freio ladeira abaixo. Um horror! Se você tem um chefe assim, meus pêsames. Fique esperto e não dê ouvidos a asneiras como a citada anteriormente. 

Hoje digo todo santo dia para a minha equipe: - Vamos criar condições para que todos que trabalhem com a gente se sintam sempre em crescimento!  Eu mesmo resolvi dar o exemplo e criei um espaço frequente para compartilhar, pessoalmente, meus estudos e ajudar a quem quiser desenvolver novas competências e elaborar o seu plano de carreira. Esse é um dos meus papéis e não posso fugir dele. Tenho plena convicção de que ambientes onde conhecimentos são compartilhados são ambientes mais produtivos, felizes e onde todos se sentem em crescimento. Esse é um dos principais ingredientes da liderança. Se você tiver um único estagiário na sua equipe, pergunte-se todo dia: - O que estou fazendo para desenvolver esta pessoa? Se não estiver fazendo nada, está na hora de repensar o seu futuro profissional e a sua real capacidade de liderar. Até o próximo!

Marcelo Veras

 

CEO da Atmo Educação.  Sócio e membro do conselho da Unità Educacional. Professor de Marketing, Estratégia Empresarial e  Planejamento de Carreira em cursos de MBA Executivos. Experiência de 25 anos em empresas como: Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM,  ESAMC, AYR Consulting, Unità Educacional e Atmo Educação. Autor/Organizador de dois livros: Métodos de Ensino para Nativos Digitais (Atlas, 2010) e Gestão de Carreira e Competências (Atlas, 2014). Mediador do FAB – Future Advisory Board.

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