Porque os bons vão embora – parte III
“Empresa não é palco de teatro. E líder não diretor de cinema”
Vamos ao segundo pilar da atração e engajamento de talentos e a palavra de ordem agora é Autenticidade. Como se sabe, um produto autêntico é aquele que tem garantia de procedência. Já uma pessoa autêntica é aquela que é o que diz ser, ou seja, que não precisa fingir ser o que não é para parecer melhor, superior ou competente. Em outras palavras, autenticidade é uma expressão da verdade.
Já trabalhei em várias empresas, de diferentes setores, tamanhos e nacionalidades. Em todas, absolutamente todas, presenciei momentos em que me sentia parte de uma grande peça de teatro, onde todos pareciam atores em um palco, tentando mostrar e demonstrar qualidades e competências que não necessariamente tinham. Tudo isso, obviamente, para impressionar o chefe, os pares e até mesmo os subordinados. Pessoas que descrevem seus feitos sempre com uma bela dose de exagero, que fazem cara de concentração na frente do computador, mas que na verdade estão com a cabeça na lua, ou que têm discurso de bons amigos, parceiros, mas que na verdade estão na sarjeta e não passam nem perto de bons adjetivos. Ou seja, são pessoas que vestem uma máscara e vão trabalhar, sempre encenando uma peça de péssimo gosto, muitas vezes incentivada e valorizada pelo seu chefe ou pela sua equipe.
Não sei bem explicar o porquê, mas as empresas, em sua grande maioria, têm grande dificuldade de cultivar ambientes autênticos, onde simplesmente as pessoas sejam e se comportem como realmente são, sejam sinceras em suas colocações e não precisem se enquadrar a um modelo de comportamento padrão por medo ou receio.
A autenticidade é um elemento importante no engajamento de profissionais talentosos. E isso é muito simples de entender. Pense e responda a seguinte pergunta: - Por que ambientes não autênticos espantam pessoas talentosas? O que acha? Para matar essa charada, basta pensar que os melhores profissionais estão sempre focados em uma única coisa – trabalhar e produzir resultados. É tão simples quanto isso. As pessoas acima da média não querem perder tempo ou energia com coisas que não produzem resultados. Esse jogo de cena e essa peça teatral só são interessantes para quem não quer produzir. Para quem quer gastar uma parcela (às vezes considerável) do tempo na empresa sem o foco no que importa. Quem quer produzir não se permite perder este tempo.
O problema dessa questão é que os bons se incomodam com esta dinâmica da falta de autenticidade. Aliás, se incomodam muito, muito mesmo. Primeiro porque enxergam o enorme desperdício de tempo que a falta de autenticidade gera. Segundo porque pessoas que não são autênticas, além de produzirem menos, ficam “tricotando” e tirando os melhores do seu foco principal. Ou seja, um ambiente sem autenticidade é uma horror para quem está focado no trabalho e nos resultados.
O que fazer? Puxa, confesso que já tenho calo nos dedos de tanto escrever a mesma coisa. O exemplo vem de cima, sempre. Portanto se uma empresa tem um ambiente com problemas de autenticidade, a responsabilidade integral é da liderança. Quem tem que dar o norte e o exemplo é (sempre) a liderança. Se um ambiente tem fofoca, é porque a liderança permite. Se um ambiente tem pessoas incompetentes e que se mantém ali porque “encenam” bem é porque a liderança permite. E por aí vai. É assim em casa, nas empresas e em qualquer lugar. A responsabilidade de criar uma ambiente produtivo e onde as pessoas se sintam tranquilas para fazerem o seu trabalho sem precisarem simular o que não são, é da liderança e de mais ninguém. Quando a liderança é fraca e permite que se crie um ambiente pautado pela arte de encenar e não pelo mérito de produzir, está fazendo um convite expresso para que os bons se mandem e vão buscar um ambiente melhor. O mais surreal é que alguns desses líderes (diretores de cinema) ainda ficam se perguntando por que não conseguem manter em suas equipes pessoas muito competentes. Dá vontade de responder:- Acorda, meu bem, os bons querem trabalhar e produzir resultados. Se quisessem encenar, estariam trabalhando como atores em um grupo de teatro! Até o próximo, onde trataremos do terceiro elemento – Crescimento.
Marcelo Veras
CEO da Atmo Educação. Sócio e membro do conselho da Unità Educacional. Professor de Marketing, Estratégia Empresarial e Planejamento de Carreira em cursos de MBA Executivos. Experiência de 25 anos em empresas como: Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM, ESAMC, AYR Consulting, Unità Educacional e Atmo Educação. Autor/Organizador de dois livros: Métodos de Ensino para Nativos Digitais (Atlas, 2010) e Gestão de Carreira e Competências (Atlas, 2014). Mediador do FAB – Future Advisory Board.
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