Muito bem. Inevitável falar de eleições novamente.
Inevitável falar de comportamento novamente e quais são as variáveis que mantém atuações tão distintas, em um mesmo povo.
A reeleição da presidente Dilma Rousseff instigou os coerentes a indagar: “Por que cargas d’água passamos vexame durante a Copa aos olhos de outros países, vaiando e xingando nossa mandatária? Fomos às ruas, invadimos o laguinho do Palácio do Planalto, depredamos ônibus, criamos uma nova classe da bandidagem brasileira, os Black Box, fechamos a Av. Paulista e outras no Rio e tantas outras nos estados, para meses depois reelegermos a quem excomungamos, nos abstermos de votar (20% de abstenções) e de realmente arrancar a mulher de lá, sem chiliques e caras pintadas?”
A resposta talvez seja simples.
Notem que aqui analiso o fenômeno comportamental, não o político.
As pessoas que se sentem lesadas pelo petrolão, mensalão, alta carga de impostos, impunidade à corrupção, déficit do crescimento econômico, instabilidade da moeda e aumento à olhos vistos da inflação, são justamente os que também não se sentem contemplados pelas estratégias políticas do governo vigente. Há dois descontentamentos pairando entre a classe média e produtiva deste país: descontentamento de valores e descontentamento de injustiça.
O governo do PT elegeu o pobre como a menina dos olhos. Delineou suas estratégias políticas para tirar o pobre da pobreza, basicamente através de subsídios. OK, os pobres neste país são maioria e precisam de cuidados, diria mais, precisam de PREPARO.
Mas por outro lado, em qualquer gestão inteligente e inclusiva, se cuida muito bem TAMBÉM dos que PRODUZEM, pois são estes os que alavancam a criação de empregos diretos e indiretos para todas as classes sociais, inclusive as mais baixas.
Traduzindo: é funcional para o país cuidar bem dos que formalmente contribuem para seu crescimento, dos que pagam impostos, constroem ideias e alavancam a competitividade e boa imagem da nação no cenário mundial. O PT, e isto é uma observação empírica e não ideológica, peca nesse aspecto. A classe média sistematicamente é esmagada e afogada em tributação altíssima, esquecida e maltratada por serviços sociais pobres ou inexistentes. Agora esta mesma classe media flagelada é tida como separatista e a “burguesia paulistana” (Oi? Estamos na época do Marx?) é taxada de homofóbica, xenofóbica e imunda.
Não podemos esquecer que a classe média também faz parte do país e parcela muito importante do motor dessa nação. Como qualquer categoria humana, quando é humilhada e desconsiderada, a classe média também se levanta e ataca. E o desabafo ficou para os nordestinos. Não é desejável, mas eleitor nordestino se tornou o alvo instintivo natural, diante do cenário eleitoral. Moralmente é censurável, porém comportamentalmente é compreensível.
Falando já no Nordeste, maior eleitorado da atual administração, se comporta nesta situação a partir de outras contingências.
Lá, o petrolão, mensalão, impunidade, e déficit de crescimento não têm significado tão relevante para sua tomada de decisão. Lá, a cultura predominante é a do convívio diário com as adversidades da pobreza, por vezes da fome e não da economia brasileira.
O fato é que a pobreza representada pelo povo do nordeste (e que não se limita àquela região) foi aliviada pelos programas assistencialistas e, como efeito colateral e principal, tornou-se refém destas mesmas estratégias.
Pior. São reféns contentes e “adoradores de seus algozes”.
Conhecem o procedimento para continuar recebendo o auxílio, mas não desenvolvem boas ideias de como produzir novas fontes de renda. Apresenta-se a consequência pronta e priva-se o povo de aprender a construí-la.
Inevitavelmente, vejo um país dividido e, sinceramente, do ponto de vista comportamental que me cabe, com poucas chances de comunhão.
As variáveis que mantém as crenças e atuações destes grupos de pessoas são tão distintas e longínquas como a água do vinho. Incomunicáveis.
Solução? Um governo que priorizasse todas as classes de cidadãos. Que em sua maioria o povo se sentisse considerado pelos seus cuidadores. Nem sei se já houve algum assim.
Vou mais longe. Para governar tem que ter autoestima. Essa característica proporciona neutralidade, exclui a idéia de um partido para uma categoria, como se algo tivesse de ser corrigido na história, ou injustiças tivessem de ser compensadas.
Porém quem fala, é uma mera analista do comportamento.
Política é outra (cons)ciência.
Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos
Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental de adultos e famílias, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil e proprietária da Villa Saúde – Psicologia & Cia, uma proposta multidisciplinar e inovadora de fazer saúde íntegra. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado. Contato: villasaudepsicologia@gmail.com e Facebook: Villa Saúde - Psicologia & Cia