Quais as dores que uma mãe costuma ter com filhos pequenos? Coluna Autoconhecimento de Maurício Duarte

Existem diversas reclamações que as mães normalmente fazem quando o assunto serefere a criação de seus filhos, especialmente os pequenos.

Costumamos dizer que as crianças não vêm com manual de instrução. E a coisa vai se complicando, caso seja o primeiro filho e com as instruções, muitas vezes diversas em relação ao mesmo problema, dadas pelas mães mais “experientes”.

 Invariavelmente, os problemas mais comuns, costumam ter realmente respostas diferentes, pois cada criança experimenta situações diferentes no dia a dia e que podem ser a causa das dificuldades.

 Vamos ver uma lista dos principais problemas.

 Comportamento: Muitas mães podem ter dificuldades em lidar com comportamentos desafiadores como birras, agressividade, teimosia ou desobediência.

Esse é o ponto principal que tratamos durante os cursos para mães que fazemos e que desperta maior curiosidade. Muitas mães acham que os filhos deveriam ser uma cópia da forma como elas agem, mas se esquecem que os filhos são formados pela soma dos comportamentos observados das pessoas com as quais ela convive. Não conhecer seu próprio perfil, dificulta essa compreensão e dificulta inclusive o relacionamento com o companheiro, que pode influenciar através de um perfil diferente e incompreendido. Daí vem o pensamento de que os pais, às vezes, mais atrapalham do que ajudam.

Alimentação: Algumas mães podem ter problemas em fazer com que seus filhos comam alimentos saudáveis ou em lidar com crianças que são seletivas em relação à comida.

Somos bombardeados diariamente com dezenas de tentações culinárias por diversos meios. Como convencer uma criança de que comer frutas é melhor do que comer doces?

Pior ainda, como convencer as crianças a se alimentarem de forma saudável se eles não têm um modelo para seguir dentro da própria casa?

Muitas vezes os pais delegam às escolas a função de ensinar a comer, mas, não se esqueçam, que as crianças imitam as atitudes das pessoas com as quais convivem.

Pense nisso.

Sono: Muitas mães têm dificuldades em fazer com que seus filhos durmam a noite toda ou em estabelecer uma rotina de sono consistente. 

Dependendo da idade, a exposição a equipamentos eletrônicos como celulares, tablets e videogames à noite e próximos ao horário de dormir, por causa da luz azul e da excitação pelo que as crianças estavam vendo, complica ainda mais o problema.

 Saúde: As mães podem se preocupar com a saúde de seus filhos, especialmente se eles têm alergias, doenças crônicas ou se frequentemente adoecem.

Essa é uma preocupação plausível, mas que se torna muito preocupante com o aumento da ideia dos grupos anti vacinas. Muitas doenças antes quase erradicadas correm o risco de voltarem, por conta da desinformação ocasionada pelos grupos que disseminam notícias não comprovadas e prejudiciais à vida de todos, não somente de seus próprios filhos.

Entender as deficiências ou necessidade de seu próprio filho é uma coisa, mas privá- o de meios consagrados e cientificamente reconhecidos de proteção, é muito grave.

 Socialização: Muitas mães podem se preocupar com a socialização de seus filhos, especialmente se eles têm dificuldades em fazer amigos ou em lidar com situações sociais.

Esse assunto é delicado. A socialização, especialmente na escola, tem se tornado um problema cada vez mais frequente. Os problemas com bullying, de auto aceitação e de espelhamento em mensagens de perfeição, nem sempre verdadeiras, pelas redes sociais, levam a um verdadeiro turbilhão na cabeça das crianças.

Outro ponto que também pode atrapalhar é a extrema intervenção de pais em assuntos corriqueiros na escola. Coisas que antes se resolviam com uma boa conversa entre as próprias crianças, mesmo que mediados pela escola, hoje se tornam verdadeiras batalhas, pela intervenção de pais raivosos que modificam algo simples em casos até judiciais. Por maldade, não, por incompreensão ou pela vontade absurda de protegerem os filhos. Isso impede o entendimento, e passa a mensagem, de que problemas serão resolvidos pelos pais, impedindo o crescimento autônomo dessas crianças em termos de mediação, aceitação de frustrações e gerenciamento de coisas negativas, tão importantes em sua vida futura.

Cuidados pessoais: Algumas mães podem achar desafiador cuidar de filhos pequenos em relação à higiene pessoal, como escovar os dentes, tomar banho ou ir ao banheiro.

Mais uma vez, nesse caso, o autoconhecimento é imprescindível. Certas coisas nos chateiam e nem sabemos o porquê. Na realidade as mães criam expectativas próprias de como os filhos devem se portar, baseado em seus próprios padrões de vida. Para algumas, a demora em executar uma ordem do tipo “ir tomar banho”, pode ser um motivo de decepção, já que a criança realiza o solicitado só que não no tempo que ela, mãe, acha adequado.

Tempo: As mães muitas vezes se sentem sobrecarregadas com as tarefas diárias e a responsabilidade de cuidar dos filhos, e podem achar difícil encontrar tempo para si mesmas ou para outras atividades.

As mulheres hoje, com o aumento de suas responsabilidades, trabalho e diversas outras atividades, não tem mais o tempo que as mães de outrora, muitas dedicadas exclusivamente ao lar, tinham antigamente. É uma evolução natural das coisas, mas mesmo assim, muitas mães se sentem culpadas por acharem que dedicam menos tempo às crianças do que o necessário.

Talvez o maior problema seja a falta de conscientização sobre o termo, tempo de qualidade. Estar junto não significa qualidade de convívio. De nada adianta longas horas no mesmo ambiente se cada um ficar ligado às suas respectivas telas de celular. 

Ficar muito tempo junto, sem que se reconheça o perfil de seus filhos e as suas formas esperadas de agir, podem ocasionar mais frustrações do que entendimento.

Lembre-se de que determinadas coisas, por mais que você não goste, na forma de agir de seus filhos, são a expressão de como o seu mapa comportamental está sendo desenhado. 

Não é defeito, é característica dele que irá se manifestar você queira ou não.

 A maioria das resoluções desses problemas se encontram dentro do autoconhecimento e entendimento sobre seu próprio perfil e das pessoas com quem se convive.

Esses e outros assuntos tratamos com maior profundidade dentro do curso de mães ministrado pela Antares Talentos.

Em breve novas turmas. Aguardem.

Maurício Duarte

Antares Talentos

Maurício Duarte

Coluna Autoconhecimento

Maurício Duarte é desde 2005, Analista de Perfis Comportamentais, Motivadores, Axiologia e Inteligência Emocional, formado pela TTI - Target Training International. Bacharelado em Comunicação Social pela PUC Campinas, é pós graduado em DPHO- Desenvolvimento de Potencial Humano nas Organizações e Psicanálise. Diretor da Antares Talentos - Desenvolvendo Talentos para a Vida www.antarestalentos.com.br

A mania do crescimento - Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Chicareli

O tema globalização e crescimento econômico tornou-se parte integrante da vida cotidiana. Embora alguns sejam ainda céticos, a desaceleração do crescimento parece inevitável. Seja devido ao apoio do mercado local ou às pressões da mudança climática, espera-se que a economia cresça mais lentamente.

O fundador da economia, Adam Smith, declarou em seu livro "A Riqueza das Nações" que a economia funciona melhor quando há um ambiente de mercado livre. Isto significa que o governo não intervém direta ou indiretamente nas trocas econômicas. Além disso, em seguida a Adam Smith, David Ricardo escreveu que cada país deveria produzir o que traz consigo como uma vantagem comparativa. Seu exemplo é o comércio internacional entre Portugal e a Grã-Bretanha. Naquela época, a Grã-Bretanha estava avançada na indústria têxtil e Portugal era conhecido por sua produção de vinho do Porto. Na melhor das hipóteses, Portugal não deveria investir na produção têxtil, mas vender sua produção de vinho para comprar tecidos britânicos.

Adam Smith e David Ricardo são considerados os fundadores do liberalismo. O que estamos experimentando hoje não é puro liberalismo, mas o que é chamado de neoliberalismo. Desde Adam Smith, outros pensadores econômicos também se manifestaram, incluindo Keynes, que defende uma forte intervenção do Estado na economia, especialmente em tempos de crise. Mas o que tudo isso tem a ver com a globalização e a produção local? Simplesmente tudo.

É inconcebível e insustentável que a economia cresça infinitamente. Numerosos economistas já escreveram sobre isso. Keynes, Kalecki e Schumpeter tratam do conceito dos ciclos econômicos em seus estudos. O fato é que sempre haverá crises e depressões (recessões) na economia. Pode-se dizer que a economia não tem um ciclo fixo, mas tem certamente um ciclo em que alguns anos são considerados de crescimento, um pico é atingido e algo se rompe seguindo um período de depressão e, dependendo das ações do governo, a sociedade pode ou não sofrer de uma recessão de longo prazo.

Não se trata aqui de discutir teorias econômicas, sejam elas liberais ou intervencionistas. Além do conceito que o liberalismo trouxe, a globalização, que inclui cadeias de abastecimento e divisão do trabalho, a produção parece ser até bem-sucedida em um mundo globalizado. Mas a questão é, até quando? Até uma nova crise, seja ela de cunho financeiro, pandêmico ou relacionado a atritos entre nações, ecloda.

Em resumo, se o mundo deve ser globalizado ou não, se o Estado deve intervir ou não, somente uma coisa é certa: o crescimento infinitamente sustentável é impensável. Será que finalmente vamos começar a pensar uma saída para a mania de crescimento? É possível um mundo, um sistema onde o crescimento não seja uma constante necessária?

 Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com


 

Pequeno, mas poderoso - Coluna Economia e Cmportamento por Tatiana Belanga Chicareli

O desenvolvimento da economia nos permitiu alcançar um melhor padrão de vida. A evolução em vários aspectos da vida pode ser vista ao longo do século. Hoje quase todos nós temos acesso à Internet, o que permite quase tudo em nossas vidas. Home office, reuniões de trabalho ou pessoais, música, cinema, esportes, livros, compras (a lista pode infinita) tudo através da internet. É claro que há sempre aqueles que ainda são contra a tecnologia, mas sempre foram uma minoria e talvez sempre assim serão. 

Com o desdobramento da economia, a globalização voltou à moda. É importante enfatizar que a globalização é um processo da época do Império Romano. Esta era uma época em que o mundo (como então compreendido e conhecido) era visto como uma única entidade. 

Com o tempo, o mundo e os países mudaram, a globalização foi restrita de muitas maneiras e retornou fortemente como processo social e econômico nos últimos anos. Mas mesmo antes da crise do Corona, a globalização já estava sendo questionada através da ascensão de governos populistas em todo o mundo. Uma das questões era de repensar a produção descentralizada, fora dos países, significando que as empresas não vêm produzindo em seu próprio país há muito tempo. Em vez disso, um artigo é produzido em conjunto com base em partes múltiplas que vêm de diferentes países. A crise do Corona só enalteceu uma crise já existente: Os países devem proteger e fomentar as pequenas empresas e as empresas nacionais?

Esta consideração leva a uma importante conclusão intermediária: por um lado, os custos desempenham um papel importante, permitindo que bens baratos sejam produzidos no exterior. Por outro lado, surge a questão de porque é mais barato produzir em outros países. Será que esta margem seria devida à desigualdade?  A este respeito, seria significativo promover as pequenas e médias empresas e prestar mais atenção aos países pobres. 

Nossa visão predominante do progresso social se baseia fatalmente em uma falsa promessa de que sempre haverá mais, para todos. Isto inevitavelmente trouxe destruição ecológica, fragilidade financeira e instabilidade social. Infelizmente, dentro da bolha onde o crescimento é uma norma, o conceito de um estado estável parece ter sido perturbado.

 

Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com


O homem é uma criatura de hábitos - Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Chicareli

Estamos no limiar de 2022 e as pessoas já estão pensando em suas resoluções de Ano Novo. Perder peso, ganhar mais dinheiro, encontrar um(a) parceiro(a), viver mais saudável, ler mais, aprender um novo idioma - a lista é interminável. Mas por que só fazemos estas resoluções de Ano Novo? Qual é a diferença entre hoje e janeiro de 2022?

Na verdade, não há diferença. Planejar agora é mais agradável do que agir agora. Tudo isso pode acontecer de forma muito bela em nossas mentes. O objetivo de eliminar 15 quilos funciona bem nas primeiras 2 a 4 semanas, mas depois você chega a um platô e libera os gatilhos que fazem você voltar a comer fast food e muito açúcar e não fazer exercícios.

Um hábito é um comportamento que se repete com tanta frequência que se torna automatizado. Ele permite resolver os problemas da vida com pouca energia. Para estabelecer novos hábitos, você precisa trabalhar em três níveis de mudança, ou seja, mudança nos resultados, mudança nos processos e mudança na identidade. A maneira mais eficaz de mudar hábitos é concentrar-se não no que você quer alcançar, mas no que você quer se tornar.

Um exemplo: você quer correr uma maratona. Quem corre uma maratona são corredores um pouco mais experientes (não necessariamente profissionais), que treinam com afinco para isso. Ter somente o objetivo MARATONA não é o bastante, para ver-se alcançando esse objetivo é mais fácil que você se identifique como um corredor experiente (que segue um treino constante). Sua identidade passa a ser CORREDOR EXPERIENTE. Identificando-se assim (mudança na identidade) é mais fácil mudar o processo (treinos) e alcançar o resultado esperado (Maratona).

Os hábitos são importantes não apenas porque podem levar a melhores resultados, mas também porque podem mudar a maneira como nos vemos. Sendo as criaturas de hábitos que somos, os hábitos desempenham um papel importante na vida, e se formos bons com eles, nenhuma mudança é impossível.

 Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com

 

Para que “pensar o capitalismo”? Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Belanga Chicareli

Nos últimos textos falamos um pouco sobre o sistema capitalista e como podemos interpretar a economia e planejar o que deve ser feito como política econômica para elevar o nível de vida dos agentes econômicos, vulgo nós.

O capitalismo trouxe consigo várias consequências, a mais relevante delas, na minha opinião, a desigualdade. Aqui a desigualdade pode ser colocada no nível do capital: existem os detentores do capital e os trabalhadores. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho para o capitalista e este faz o capital render e remunera os trabalhadores por seu trabalho.

A renda gerada (tanto a reprodução do capital) quando o salário (do trabalhador) é direcionada para consumo e investimento. Claro que por parte do trabalhador a maior parte é direcionada ao consumo. O capitalista decide se investe mais e gera mais capacidade de produção, tendo de contratar mais trabalhadores e vendendo mais, e assim fazendo a economia crescer. Com algumas pequenas e grandes variações ao longo do tempo, o sistema pode ser assim resumido de modo bem simplista.

A outra forma de desigualdade que podemos observar é a desigualdade social propriamente dita, entre trabalhadores, onde alguns trabalhos têm uma remuneração maior do que as outras. Essas desigualdades somadas levam à desigualdade entre as nações, por isso dizemos que existem sociedades mais desenvolvidas e outras menos.

Qual a batalha de uma economia forte? Torná-la mais rica e menos desigual. A história nos mostrou que algumas sociedades tiveram mais sucesso que outras, e que a infelizmente a desigualdade ainda impera.

A pergunta principal de hoje é: para que pensar o capitalismo? Nós como trabalhadores, ou detentores de capital e principalmente como consumidores temos um papel importantíssimo nessa narrativa. Somos nós os responsáveis, individualmente e coletivamente pela construção da sociedade em que vivemos. O que gostaria de deixar como reflexão esta semana é como podemos pensar o capitalismo através de nosso consumo? Como o consumo é ou pode ser compatível com a desaceleração que o mundo demanda frente às mudanças climáticas? Os produtores querem realmente se engajar em uma produção mais consciente e menos expansiva? Será essa “consciência” somente mais uma jogada de Marketing para fazer você pensar que consumindo isso ou aquilo te faz um indivíduo mais consciente e, portanto, uma pessoa do “bem”? Pensem nisso.

 Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com

A mão invisível - Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Belanga Chicareli

Hoje muito se fala sobre o liberalismo econômico. Pretendo então, apresentar uma referência de suma importância, Sr. Adam Smith, pai da economia moderna considerado um dos mais importantes teóricos, senão o mais, do liberalismo econômico.

Adam Smith foi um filósofo e economista britânico, nascido na Escócia em 1723, morreu na cidade de Edimburgo em 1790. Autor de “Uma Investigação sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações”, a sua obra mais conhecida, e que continua sendo usada como referência para gerações de economistas.

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A tal da “mão invisível” é o ponto mais comentado e talvez marcante de sua obra. Porém, vale lembrar que o conteúdo é muito mais que isso. Mas voltando a tal “mão invisível”, o termo não tem nada de sobrenatural, muito menos religioso. Ele apresenta fatos que o levavam a crer que o mercador e/ou comerciante, ao buscar maximizar o próprio interesse, estaria (mesmo sem estar ciente) contribuindo para o bem-estar da Nação como um todo. É como se este, movido apenas por interesse próprio, fosse levado por uma “mão invisível” a promover algo em favor de toda sociedade.

Muito interessante, e certamente desperta alguma curiosidade. Vale a pena lembrar, no entanto, que o pensamento liberal não se restringe a isso. Este muito evoluiu ao longo do tempo assim como teve combatentes ferozes.

Uma crítica, das mais interessantes, pode ser vista no filme sobre a vida do John Nash (1928-2015), matemático que sofria de esquizofrenia, “Uma mente brilhante, 2001”. Em uma cena no bar, com seus amigos, Nash descobre que Adam Smith necessitava de revisão. Lá estão presentes 4 mulheres, sendo uma delas estonteantemente mais bonita que as outras.  Seus amigos pensam a mesma coisa, disputarão a atenção dela para ver qual se sairá melhor, e por ela acompanhado. Enquanto isso Nash pensa que se todos forem galantear a mais bonita, as outras se sentirão rejeitadas e não aceitarão uma abordagem, pois ninguém gosta de ser segunda opção.

Desse modo, pensando como Adam Smith, a maioria não sairá ganhando, somente o vitorioso do “investimento” com a mais bonita. Porém, se ele e os amigos forem diretamente galantear as amigas menos bonitas (e parte do princípio que elas sabem que são menos atraente que a amiga), elas se sentirão especiais e há maior chance de sucesso. Adam Smith disse que o melhor resultado acontece quando todos em um grupo fazem o melhor para si próprios, nesse caso Nash prova ao contrário: os 3 amigos podem sair acompanhados de 3 mulheres, sobrando a mais bonita, resultado melhor que 1 amigo e a mais bonita como casal, sobrando 3 amigas e 2 dois amigos frustrados.

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Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com