“Não acredito no futuro de carreiras fechadas”
Quando iniciei a minha faculdade de engenharia química, em 1990, havia quatro engenharias clássicas (mecânica, elétrica, civil e química) e algumas “nascendo” (produção, alimentos, entre outras). Mas as clássicas eram as clássicas. No total, creio que não passava de 100 o número total de denominações de cursos superiores no Brasil, divididos entre ciências humanas, exatas e biológicas. Quando concluí o meu curso, já havia, só nas engenharias, 32 modalidades com 56 ênfases. Hoje, passam de 100. Surgiram engenharias como: petróleo, açucareira, genética, bioquímica e várias outras. Este processo não se deu apenas nas engenharias. Vários outros cursos engravidaram e pariram filhos com os mais diversos nomes, todos no caminho de uma especialização e um foco maior em alguma área de conhecimento.
Não tenho nada contra o termo “especialização”, muito pelo contrário. Na medicina, por exemplo, isso é fundamental. Eu não gostaria de ser tratado de um problema sério no pulmão por um clínico geral. Nem você, concorda? Nesta área, sempre buscamos o maior especialista no assunto. Em outra carreira clássica, Direito, a especialização também é fundamental para uma carreira de sucesso. Mas Medicina e Direito são, na minha visão, as duas únicas carreiras que devem continuar com essa demanda de especialistas. Nas demais, creio que a conversa será outra.
Desde 2009 bebo na fonte das tendências e gestão da inovação. O meu sócio e amigo Luis Rasquilha, hoje um dos caras que mais entende de futuro e inovação no mundo, desenvolveu um estudo chamado “o futuro das carreiras e as carreiras do futuro” e ministra palestras sobre o tema. Já o assisti falando sobre isso pelo menos cinco vezes. E a cada vez saio mais incomodado. Nesse estudo ele apresenta as 50 profissões do futuro. Veja, não estou falando de cursos do futuro, mas sim de carreiras do futuro. A pergunta que faço a mim mesmo ao final é sempre a mesma: “Que curso superior existe hoje que pode formar um profissional para fazer isso?”. A resposta é assustadora: quase nenhum. Mas saio sempre com algo a mais na cabeça: Uma convicção quase religiosa de que um profissional para lidar com essas demandas e oportunidades de carreira não pode ser um especialista, mas sim um generalista.
Essa discussão é boa, longa e polêmica. É melhor ser um especialista ou um generalista? No caso de Medicina e Direito já dei a minha opinião. Nas demais carreiras, vou fazê-la agora, sem muitos preâmbulos.
Quando olho para as tendências mapeadas para os próximos 20-30 anos, conhecimento que hoje tenho acesso fácil e contato frequente, entendo claramente que muitos produtos, serviços, negócios e, por consequência, demanda por profissionais, ainda não foram sequer inventados. Talvez mais de 50% das coisas que vamos comprar, das empresas que vão existir e das atividades profissionais ainda não foram inventadas. E quem chega a essa conclusão constrói rapidamente uma convicção: “Por que vou me especializar em algo se não tenho certeza que isso vai existir no futuro?”. O açúcar, como conhecemos hoje, vai existir no futuro? A fonte de energia do futuro será o petróleo? Se isso tudo virar peça de museu, o que acontecerá com alguém formado em engenharia açucareira ou de petróleo? Obviamente esses profissionais não vão morrer, mas terão que desenvolver novos conhecimentos e mudar de área. Isso não é o fim do mundo, mas vai dar muito trabalho.
O tema é longo e o espaço limitado. Portanto quero deixar apenas uma reflexão e uma provocação para que você pense no assunto, busque mais informações e tire suas conclusões. Mas a minha visão é muito clara sobre isso. Acho que, no futuro, a competência mais demandada será a que chamo de “capacidade de aprender a aprender”. Ou seja, como as mudanças virão cada vez mais disruptivas, sobreviverá e crescerá aquele profissional que for um bom generalista e que possa transitar por várias carreiras e profissões quando surgir uma nova oportunidade, aprendendo rapidamente o que tiver que ser aprendido. Nesse sentido, a minha recomendação é que se busque profissões cada vez mais amplas e menos especializadoras. Até o próximo!
Marcelo Veras
Coluna Sua Carreira
CEO da Atmo Educação. Sócio e membro do conselho da Unità Educacional. Professor de Marketing, Estratégia Empresarial ePlanejamento de Carreira em cursos de MBA Executivos. Experiência de 25 anos em empresas como: Rede Positivo, Souza Cruz, Claro, TIM, ESPM, ESAMC, AYR Consulting, Unità Educacional e Atmo Educação. Autor/Organizador de dois livros: Métodos de Ensino para Nativos Digitais (Atlas, 2010) e Gestão de Carreira e Competências (Atlas, 2014). Mediador do FAB – Future Advisory Board.
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