Retorno às aulas presenciais : tudo que você precisa saber - Coluna pediatria por Dra. Carolina Calafiori de Campos
Acho que um dos temas mais discutidos e mais polêmicos no contexto da Pandemia pela Covid-19, foi o retorno às aulas presenciais.
Passamos um ano completamente atípico e que virou as nossas vidas de cabeça para baixo. As crianças foram obrigadas a deixar de frequentar as escolas, de conviver com os amigos e professores bem como ter aulas on-line, quando possível, já que a maioria da população brasileira não tem acesso a computadores e internet.
Além do prejuízo intelectual e cognitivo, as crianças foram submetidas a um enorme estresse tóxico , acarretando distúrbios emocionais e psicológicos. Enfim a pandemia afetou de forma agressiva a saúde física e emocional das nossas crianças.
Também existe a questão da desigualdade social; muitas famílias contavam com a merenda escolar como complemento da alimentação da criança. Além disso , o tempo integral fora da escola, aumentam os riscos de gravidez na adolescência, assim como de violências e abusos de várias espécies e uso de drogas. Sem contar no número enorme de crianças e adolescentes que abandonaram os estudos.
Também devemos destacar que a falta de recursos , deixou milhares de alunos com o ano letivo completamente paralisado. Muitas famílias não têm acesso à internet e às tecnologias de informática e o Estado ainda não conseguiu suprir essa demanda de forma efetiva.
De acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em função da pandemia de Covid-19, cerca de 500 milhões de crianças e adolescentes foram excluídas do sistema educacional em 2020, por não serem contempladas pelo ensino à distância (EAD), número corresponde a um terço da comunidade escolar em todo o mundo.
A grande maioria de pais e pediatras é a favor da volta às aulas, inclusive eu. Nesse texto vou exemplificar alguns fatos científicos que justificam a reabertura das escolas :
As crianças se infectam menos do que os adultos, 2 a 5 vezes menos. O risco de se infectar é menor quanto mais jovem a criança.
São muito raras as complicações nessa faixa etária, representando apenas 0,6% dos óbitos (sendo as crianças 25% da população nacional).
Para as crianças, a exposição a COVID-19 as coloca em risco muito menor do que a exposição ao vírus influenza. E as escolas não fecham nos surtos de gripe.
Apesar do que se supôs no início da pandemia, as crianças não são super-spreaders (disseminadores) do COVID 19.
A grande maioria das crianças é assintomática ou apresenta sintomas leves, principalmente os mais novos. E desta forma, transmitem menos.
As escolas, seguindo os cuidados indicados, não são locais de maior infecção. A experiência européia provou enfaticamente isso.
Com as medidas de prevenção, a escola é segura para os professores e funcionários.
No Brasil e no mundo, as crianças se infectaram mais em casa através dos próprios familiares expostos do que na escola.
Os impactos do isolamento social prolongado no desenvolvimento infantil e saúde mental são imensos e duradouros. Obesidade, transtornos de ansiedade, transtornos do sono, danos pela exposição excessiva a telas são alguns dos muitos prejuízos.
Sabemos que a volta às aulas presenciais é mais do que necessário! A questão nesse momento é saber COMO será esse retorno das aulas presenciais em 2021.
Partindo desse ponto é fundamental avaliar que nosso país existem dois tipos de realidades: a das escolas particulares e a das públicas, onde estão 80% dos estudantes brasileiros.
A escolas privadas , na grande maioria , já voltaram e estão exercendo de maneira rigorosa e excelente, os protocolos de segurança, com uso de álcool em gel, uso de máscaras , e distanciamento social. Aqui em Campinas ,tenho acompanhado grande parte das escolas particulares e vejo como estão sendo exemplares.
Infelizmente a desigualdade social existe no nosso país , e precisamos de políticas públicas que ofereçam para essas crianças e funcionários das escolas públicas , condições favoráveis e seguras para um retorno das aulas presenciais em 2021.
Essas medidas de proteção precisarão ser implementadas para minimizar o perigo de transmissão nos colégios brasileiro.
A decisão de retornar as aulas presenciais, deve considerar quatro pilares fundamentais :
A panorama epidemiológico de cada cidade , após uma análise individualizada da realidade de cada município;
A garantia de MEDIDAS DE PREVENÇÃO pelas escolas , e uma infraestrutura adequada , incluindo números de banheiros, pias para higiene das mãos, capacidade física das salas de aula;
A adoção de protocolos de higiene baseados em consensos rigorosos pelos funcionários, professores e alunos;
Um infraestrutura da rede de saúde local, bem preparada.
Além de todos os cuidados com a infraestrutura , a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que as escolas tenham preparo para fazer uma TRIAGEM de sinais e sintomas indicativos da doença, como febre, tosse e outras manifestações. O ideal é que também sejam disponibilizados testes diagnósticos virológicos para as crianças com sintomas, mas Unidades de Saúde locais.
Juntos vamos vencer essa batalha , minimizando os danos físicos e emocionais ás nossas crianças; o retorno às aulas presenciais em um ambiente seguro é de extrema importância para a saúde de crianças e adolescentes. E, para atingir este objetivo, há exigências estruturais, higiênicas, sanitárias e comportamentais que necessitam ser planejadas e implantadas nas escolas
Carolina Calafiori de Campos
Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944
Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com