Superação - Coluna Psicologia por Dra. Letícia Kancelkis

Cospe, Letícia!!!


Era o que eu ouvia das minhas amigas. De uma, em especial, recebi o apelido ofensivo de Lentícia, porque eu demorava uma era inteirinha para limpar a casa, por exemplo. Eu ria sim, mas nem elas e, em certa medida, nem eu mesma sabia o quanto eu sofria com tudo aquilo.


Desde pequena, sofria bulling, porque eu era estranha, em vários sentidos. Me sentia inadequada, feia, incapaz, sem inteligência, inferior.

Passava aulas e aulas INTEIRAS sem escutar uma palavra. Em compensação, ficava acordada, nas madrugadas, estudando e lendo livros, até o fim, porque eu não conseguia me concentrar. Tinha que ler umas 10 vezes, um mesmo parágrafo, para entender.


Sofria com Depressão, ansiedade, medo de tudo.


Minhas dificuldades e dores tinham nome? Eu precisava de uma ou mais explicações. Eu precisava de cura! Ou, pelo menos, de algum alívio, porque parecia que eu não suportaria muito tempo tanta dor na alma. Depois de 6 meses da morte de um dos meus filhos, tive uma convulsão e descobri minha Epilepsia.

Descobri, inclusive, porque tenho pavor de barulho de fogos de artifício e de bexiga estourando. Descobri que a Epilepsia me trazia as crises de ausência, que não me deixavam em conexão contínua com o mundo.

Foi libertador saber que isso tinha nome, que eu não tinha culpa de tudo aquilo, que me trazia tanta timidez, medo, sentimento de rejeição e inferioridade. Solidão!
Quero te dizer que, se você tem sintomas parecidos, deve buscar ajuda e que não existe vergonha nenhuma em termos qualquer doença ou síndrome.


Ministro palestras, desde meus 21 ou 22 anos. Já pensou na quantidade de desafios que enfrentei, minha vida toda? Ficava azul, de tão vermelha, na frente das pessoas, apareciam vergões pelo pescoço e colo, minha voz mudava completamente. Me perguntava como eu conseguiria, o tempo todo.

O cansaço era tremendo, porque eu ligava e desligava, ligava e desligava, constantemente. No consultório, não era diferente, claro, porque meu cérebro funciona de um jeito diferente do considerado normal. Porém, milagres existem!

Leticia Kancelkis

Coluna Psicologia

Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com