Marcelo Tas é um dos convidados do evento sobre Autismo na Mídia: informação e conhecimento como forma de inclusão - que acontece no Teatro Oficina, em Campinas/SP
A temática do autismo tem sido cada vez mais objeto de discussão da mídia. A divulgação das narrativas que envolvem o tema sobre o Transtorno do Espectro Autista nos mais variados canais de comunicação, sendo eles a imprensa, redes sociais, sites, vídeos, séries, blogs, dentre outros, resultam em contextos e informações que refletem diretamente no dia a dia das pessoas com autismo e familiares que convivem com esses indivíduos.
A mídia, os meios de comunicação e, nos últimos anos, as redes sociais e os chamados “influenciadores”, assumem um papel importante nas concepções compartilhadas sobre o autismo no país. Seja através das informações de caráter científico, ou não, disseminação de conhecimento ou mera opinião. E, por muitas vezes, quando a informação não é embasada em fatos, ciência e na realidade do indivíduo autista, a legitimação do conteúdo sofre um descrédito, um ruído, podendo gerar o contrário do que se espera: atitudes e pensamentos preconceituosos que podem distanciar ainda mais a sociedade da realidade das pessoas com TEA.
E será que realmente a informação disseminada pela mídia tem gerado a inclusão de pessoas com autismo? O conhecimento relatado representa, de fato, a maneira pela qual um indivíduo com TEA (Transtorno do Espectro Autista) deseja ser visto e tratado? Como esse conhecimento transmitido tem impactado a vida de pessoas com autismo e familiares?
Os questionamentos acima deram origem ao tema do Evento gratuito “Autismo na Mídia: informação e conhecimento como forma de inclusão”, para comemorar o Mês Mundial de Conscientização do Autismo. O encontro acontece no Teatro Oficina do Estudante, no Shopping Iguatemi, em Campinas/SP. Marcelo Tas, comunicador, apresentador do programa #Provoca e comentarista do Jornal na TV Cultura é um dos convidados da clínica Grupo Conduzir para comandar o bate-papo sobre o Mês do Autismo:
“Trabalhar a inclusão de pessoas com TEA é mais que uma ação solidária. Na verdade, é uma ação que garante o acesso desse grupo de indivíduos aos seus direitos que são garantidos pela Constituição. É uma oportunidade preciosa de aprender com as diferenças e superar estigmas e preconceitos. Todos ganham como cidadãos. Uma comunidade inclusiva está disposta a aprender todos os dias. E as pessoas com TEA apresentam novidades que podem nos ajudar a descobrir, por exemplo, um novo entendimento do papel da comunicação nas relações humanas. Esta é a minha especialidade e onde espero contribuir com o debate.”
O Grupo Conduzir, clínica multidisciplinar que visa auxiliar indivíduos que necessitam de Intervenção Comportamental para o desenvolvimento de habilidades, possui equipe de profissionais das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Educação (Pedagogia e Psicopedagogia) é anfitrião do encontro que conta ainda com a participação por vídeo de Flávia Poppe (Fundadora do Instituto JNG – projeto de moradia independente para pessoas com deficiência) e do Youtuber Willian Chimura, professor e mentor da Academia do Autismo, além da presença da Psicóloga Analista do Comportamento e Diretora Técnica do Grupo Conduzir, Júlia Sargi:
“A ideia do nosso encontro é abrir espaço para discussão e para profusão de novas informações, conhecimento, e de opiniões sobre autismo. O trabalho de levar a informação de qualidade é um trabalho árduo, porque muitas vezes é um trabalho de desconstrução das verdades absolutas que as pessoas carregam sobre o assunto, e a reconstrução de um novo mindset é um processo, e é gradual. Nosso objetivo é disseminar mais informação e conhecimento para famílias e profissionais que atuam com pessoas com TEA. Conhecimento sobre a intervenção, sobre o autismo em si e como encontrar informações confiáveis sobre o tema”, conta Júlia.
Informação que não gera inclusão: na voz de quem vivencia
A construção midiática sobre o autismo precisa estar pautada na participação do próprio indivíduo com TEA, somente assim é possível criar a legitimidade da informação. A visibilidade a partir desse viés gera a representatividade e a identificação do autismo, que vai se entender como parte de um grupo. Assim como explica a psicóloga Júlia Sargi:
“A questão do pertencimento é essencial para qualquer ser humano. E a forma como a gente constrói essa representação é que temos que tomar cuidado. A mídia precisa dar voz a essas pessoas que estão sendo representadas. Elas precisam ter cara, porque uma das formas de se desmistificar o autismo, é mostrando que essa pessoa tem um rosto. Quando você dá voz, você humaniza a pessoa, e assim, é possível aproximar o interlocutor.
Então, você percebe: ‘essa pessoa com o diagnóstico de TEA gosta de rock and roll, tem dois irmãos mais novos, não gosta de futebol, nem barulho etc’. Isso quer dizer que essa pessoa vai para além do diagnóstico no imaginário do outro, que pode se identificar em diferentes níveis, e é isso que vai quebrar o preconceito, desmistificar o autismo pela via da humanização e aproximação entre si. Essa pessoa tem um nome, uma família, é filho. Quanto mais conexões fizermos dentro dessa rede, maiores são as chances da sociedade sair do senso comum dos valores antigos, das crenças limitantes, onde o que é diferente de mim, é fora da regra.”
Flávia Poppe é economista, tem 62 anos, e é mãe de Nicolas Poppe, estudante, de 30 anos, diagnosticado com autismo. Ela comenta que a informação disseminada muitas vezes tem gerado certa confusão. E que a oferta infinita de informações, que não vem acompanhada de critérios para discernimento, pode levar pessoas com pouca instrução e crítica para caminhos não desejáveis e, pior, que comprometem o futuro das pessoas com autismo:
“Acho que há muito romantismo. Sinto que há uma parte boa que informa e outra ruim que desinforma. Isso porque precisamos falar realmente de inclusão, e a base da inclusão para mim é tolerância, observação para aprender e mudar, se for preciso, para que qualquer pessoa possa ter uma vida digna, plena e em sociedade. Para mim a luta passa pela desmistificação da deficiência como fator impeditivo ao convívio. No fundo, é simples se observarmos pelo lado da pessoa e não da deficiência. Informação de qualidade e convivência com as pessoas ‘diferentes’: nas ruas, nos bares, no comércio, nas escolas, no trabalho, nos prédios, nos clubes etc. Isso realmente iria trazer mais empatia, amor e suporte às pessoas com autismo.”