Dicas de livros e filmes por Luciana Andrade - Livro: A autoestrada do Sul de Júlio Cortazar e Filme: Pássaros Feridos

Dicas de filmes: A Autoestrada do Sul de Júlio Cortazar

“Em tempo de caos e de confinamento inesperado, o conto A Autoestrada do Sul, do argentino Júlio Cortázar, torna-se provavelmente uma das leituras mais interessantes para se compreender um período como o atual. Não, o conto do escritor argentino não trata de epidemias causadas por vírus letais nem nada parecido. Mas a essência contida em situações de exceção como essa está toda lá. Na obra, um enorme congestionamento em uma autoestrada que liga Fontainebleau a Paris lança o caos sobre todos aqueles motoristas. Ali eles ficarão parados não apenas por horas, mas por muitos dias, enfrentando o frio, o calor, a fome, a sede e outras privações. Cortázar constrói um microcosmo bastante rico à análise do comportamento humano em situações onde a rotina, a ordem e a segurança não se fazem mais presentes.

Parece-me claro que o conto constrói uma clara dicotomia – metaforizada na oposição entre movimento e imobilidade. No início da obra, os motoristas que rumavam para Paris sequer pareciam ter vida, uma vez que ali eram apenas objetos em deslocamento alienado rumo à normalidade já conhecida. Assim que o congestionamento sem precedentes se inicia, percebemos uma fase de transição para um estado de paralisação em que cada um dos motoristas necessitará estabelecer relações uns com os outros, quer seja para comer ou beber, para demonstrar solidariedade em momentos críticos, para se defenderem da violência que ali também surge e até para dar fim ao corpo de um motorista suicida. Percebe-se claramente como a vida humana, sustada enquanto se moviam rapidamente pela rodovia, agora ressurge com todos os seus matizes. O próprio campo semântico é trocado: rodas, latarias e volantes dão lugar ao suor e à sujeira de corpos humanos que novamente se reconhecem como tal.

Um dado interessante na construção simbólica de Cortázar é o modo como os personagens são identificados. Tal como em Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, nenhum deles tem nome próprio. Mas, diferentemente do que ocorre na obra do português, sente-se a real necessidade de nomeá-los. É dúbia a escolha de chamar cada motorista pela marca de seu carro. A leitura pode ser feita tanto no sentido de que aqueles homens e mulheres valiam exatamente o mesmo que seus automóveis, como no sentido de demonstrar que, bem ou mal, entre eles havia a necessidade real de aproximação (algo que, no fim das contas, humaniza-os). Há, de certo, uma grande diferença entre chamar um deles de “a motorista do Dauphine” ou simplesmente de “Dauphine”. Na primeira forma, reconhece-se apenas uma função. Na segunda, pode-se, enfim, enxergar uma pessoa ali, restituída de sua humanidade ainda que de modo tão torto.

Outro ponto basilar de A Autoestrada do Sul é o modo como ele trabalha a noção de tempo ao longo da narrativa. Em nenhum momento temos a noção exata de passagem de tempo. Não fica claro, nem na conclusão da obra, qual foi o tempo que os motoristas permaneceram naquele congestionamento. Mas, em vez de optar pela sensação de tédio ou enfado, Cortázar constrói muito mais uma sensação de confusão e de certa anarquia. A própria extensão dos parágrafos e dos períodos, eivados de referências aos personagens/seus carros, cria um ambiente textual que remete ao excesso de automóveis e de motoristas naquela situação tão ímpar. Portanto, no conto interessa menos o tempo transcorrido e muito mais a experiência vivida e esse é um ponto que deve nortear a leitura. Em A Autoestrada do Sul, o tempo é mais kairós do que chronos.

Por fim, a melancolia que o engenheiro do Peugeot 404 sente quando finalmente o engarrafamento se resolve é sentida também pelo leitor. Por mais caótica que tivesse sido a experiência para cada um dos personagens, tem-se claramente a sensação de termos lido a uma grande história. Talvez seja exatamente essa a chave da compreensão desse mal-estar no desfecho do conto – enquanto se dava o congestionamento, histórias aconteciam, conflitos vinham à tona e existências se chocavam de todos os modos possíveis. Ao retomarem o caminho, a vida enquanto experiência era novamente suspensa. E todos voltavam a ser apenas os mesmos objetos em deslocamento. Presos às suas máquinas de metal e luzes e rumo à mesma existência desinteressante e banal”.

A Autoestrada do Sul (Todos os Fogos o Fogo/Todos los Fuegos el Fuego) — Argentina, 1966
Autor: Júlio Cortázar.
Editora: Civilização Brasileira
Tradução: Glória Rodrigues
Número de páginas: 33

Fonte: https://www.planocritico.com/critica-a-autoestrada-do-sul-de-julio-cortazar/

Dicas de Filmes: Pássaros Feridos

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Luciana Andrade

Coluna Dica de Livros e Filmes

Bibliotecária e Psicologa formada há alguns anos.. Atua na área de psicologia com consultório e no SOS Ação mulher e família como Psicologa voluntária . Cursou biblioteconomia por adorar os livros e assim ficou conhecendo mais profundamente a história literária. Através de filmes e livros consegue entrar em mundos reais, imaginários , fantásticos o que deixa o coração e a mente livres para conhecer, acreditar e principalmente sonhar. Email: luser8363@gmail.com


Dicas de livros e filmes por Luciana Andrade - Livro: Casa Tomada e outros contos de Júlio Cortázar e Filme: As férias de minha vida

Dicas de Livro: Casa Tomada de Júlio Cortázar

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“A história foi redigida no melhor estilo cortaziano, cuja especialidade era a narrativa fantástica. Ela se inicia com tons realistas, mas, conforme a leitura progride, o leitor percebe que Cortázar introduziu, paulatinamente, elementos irreais. As leis naturais são distorcidas completamente quando o conto atinge o clímax. Apesar disso, para escrever a história, o autor utilizou a vida real como base.

A casa retratada na narrativa foi inspirada em uma residência da cidade de Chivilcoy, que está em pé ainda hoje, sobre as chamadas Suipacha y Necochea. O conto relata como dois irmãos acabaram sendo expulsos de sua própria casa por algo misterioso, que jamais descobriram o que era. Esse estranho ser vai se apoderando aos poucos do imóvel, até que o tome por completo. Leia agora o resumo Casa Tomada.

O conto

O protagonista narra à história dele e de sua irmã, a coadjuvante Irene, que viveram em uma casa colonial bastante antiga. Durante toda a vida eles permaneceram na residência, cuidando dela e a mantendo. Eles nem mesmo se casaram, pois tinham o pretexto de zelar pelo patrimônio. O amor pela casa era tão grande que lhes perturbava a ideia de que, quando morressem, algum primo distante vendesse a casa.

Cortázar faz uma descrição detalhada do imóvel, e, de maneira meticulosa, relata os costumes dos habitantes. Aos poucos passamos a entender o problema da residência. Os irmãos começam a ouvir estranhos ruídos, uma espécie de sussurro que toma conta dos lugares. Eles começam, então, a abandonar as partes da casa que são tomadas por esse bizarro intruso.

A princípio, o protagonista e Irene resistem a abandonar o imóvel. Eles se limitam a lamentar pelas partes da casa que foram tomadas pelo estranho ser. No entanto, eles não resistem aos ataques do intruso – ou dos intrusos – e acabam abandonando a casa quando este a toma por completo. Como não havia mais nada para fazer, os irmãos decidem abandonar a casa. Vamos ver agora, no resumo Casa Tomada, as características principais do conto.

Aspectos da narrativa

O personagem principal e sua irmã gostam muito da casa por ela ser antiga e muito espaçosa. Ademais, ela guarda muitas memórias da sua família. O narrador é um homem culto, apaixonado pela literatura francesa. Sua irmã é tranquila e simples, e passa o dia a tricotar.

Os irmãos não trabalham fora, e colaboram nas tarefas de casa. Provavelmente, possuem campos agrícolas com trabalhadores, do qual lhes chega dinheiro para viverem. Também vivem sós, acompanhados apenas da coisa que se apoderou do imóvel. É interessante o fato de que eles não evoluem ao longo do texto em termos de caráter. Vivem de maneira apática, sempre se comportando de modo igual e seguindo a rotina do dia a dia. Parece que estão completamente alheios ao que está acontecendo”.

Fonte: https://www.resumoescolar.com.br/literatura/resumo-casa-tomada/

Dicas de Filme - As férias da minha vida

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Luciana Andrade

Coluna Dica de Livros e Filmes

Bibliotecária e Psicologa formada há alguns anos.. Atua na área de psicologia com consultório e no SOS Ação mulher e família como Psicologa voluntária . Cursou biblioteconomia por adorar os livros e assim ficou conhecendo mais profundamente a história literária. Através de filmes e livros consegue entrar em mundos reais, imaginários , fantásticos o que deixa o coração e a mente livres para conhecer, acreditar e principalmente sonhar. Email: luser8363@gmail.com