Dica de Livro:
Escravas do Amor com o pseudônimo de Susana Flag, escrita por Nelson Rodrigues
"Suzana Flag escreveu romances que circularam em jornais brasileiros, no formato de folhetins, entre os anos de 1944 e 1948. Já Myrna tinha uma coluna no jornal Diário da Noite, na qual, durante todo o ano de 1949, deu conselhos amorosos às leitoras. O que essas duas mulheres têm em comum? Nelson Rodrigues – o dramaturgo, jornalista e escritor pernambucano que, se estivesse vivo, completaria 100 anos hoje.
Antes que alguém pense que as duas eram amantes do escritor, é bom deixar claro que foi o próprio Nelson Rodrigues que as criou: Suzana Flag e Myrna eram seus pseudônimos. A primeira a nascer foi Suzana, para que o autor pudesse se enveredar pelos folhetins. A identidade por trás da escritora ficou desconhecida por muito tempo. Meu destino é pecar foi a primeira obra dela a ser publicada nos jornais. Depois, Suzana Flag escreveu outras duas (Escravas do Amor e Núpcias de Fogo), além de uma autobiografia pra lá de folhetinesca chamada Minha Vida?. Nesse livro, publicado nos jornais em 1946, a escritora toma corpo e se apresenta:
“Eu posso começar esta história dizendo que me chamo Suzana Flag. E acrescentando: sou filha de canadense e francesa; os homens me acham bonita e se viram, na rua, fatalmente, quando passo. Uns olham, apenas; outros me sopram galanteios horríveis, mas já estou acostumada, graças a Deus; há os que me seguem; e um espanhol, uma vez, de boina, disse, num gesto amplo de toureiro: “Bendita sea tu madre!”. Lembrei-me de minha mãe que morreu me amaldiçoando e senti um arrepio, como se recebesse, nas faces, o hálito da morte.”
Os folhetins escritos por Suzana Flag foram de um sucesso estrondoso, tanto nos jornais, quanto em suas versões livro. Muito diferente dos textos assinados por Nelson Rodrigues, as obras de Suzana tinham todos os clichês tradicionais que os folhetins têm direito. Dramas imensos em histórias que envolvem mocinhas virgens e vilões valentões, misturados a amores impossíveis – e por aí vai. Em 1948, Suzana desaparece, para ser ressuscitada em 1951, com o folhetim O Homem Proibido, publicado no jornal Última Hora. Seu último folhetim foi A Mentira, de 1953, distribuído no jornal Flan. De todos os seus textos, apenas A Mentira nunca foi publicado no formato de livro.
Em 1949, é a vez de Myrna nascer. Sua coluna, Myrna escreve, foi publicada somente durante um ano, mas foi tempo sufiente para aconselhar – de forma bem amarga, diga-se de passagem – várias leitoras, reais ou imaginadas. Myrna, que se apresentava como uma “Alma Irmã”, aconselha a Clélia, por exemplo, que fuja dos homens bonitos, porque “nenhum deles, ao que eu saiba, já inspirou um amor imortal” . Já para Lúcia, que é uma dona de casa e esposa perfeita, mas que mesmo assim perdeu o amor do marido, Myrna explica: “virtude assim imoderada passa a ser defeito, e defeito dos mais graves”.
Fonte: http://praler.org/2012/08/os-folhetins-de-nelson-rodrigues/