Onde entra a fé? Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Chicareli

Lendo as colunas de dois pensadores contemporâneos que admiro, nos jornais de circulação do país, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé, me deparei com a questão sobre o futuro do capitalismo, assim como a questão do otimismo e pessimismo.

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São certamente temas complexos e interconectados. Há quem diga que com o avançar da idade nos tornamos mais sábios, e a sapiência não vem do acúmulo de certezas durante a vida, e sim do crescente número de questionamentos aos quais nos deparamos ao longo dos anos. Com isso o interesse por temas históricos, filosóficos, psicológicos, ancestrais e econômicos leva inerentemente a soberbia, assim como a melancolia. Nada é de graça, e o sistema capitalista está aqui para nos lembrar que além de pagar, pagamos caro. O dinheiro no final das contas não paga por nossa sanidade mental, tranquilidade e paz. Nesse contexto, Leandro Karnal levanta a questão de George Bernanos: “A única diferença entre um otimista e um pessimista é que o primeiro é um imbecil feliz e o segundo é um imbecil triste”.

Ser jovem requer muita coragem e é normalmente na juventude que encontramos os mais afincos defensores de ideologias. Com o passar dos tempos e das páginas (leitura), ao menos no meu caso, o interesse pessoal desconectado de obrigações acadêmicas e ideológicas se torna mais leve e prazeroso. Os questionamentos são colocados sem necessidade de imediata resposta, sem retaliação, sem retórica.

Pondé apresenta a visão do autor Wolfgang Streeck de que não há nenhuma opção ao capitalismo como forma de sustentação social, o capitalismo democrático não terá como empregar uma população que não compete com robôs e inteligência artificial. Assim como Karnal questiona que otimismo pode estar ajudando o mundo a permanecer como sempre esteve. No caso da educação brasileira, professores ganham muito mal e a grande maioria dos alunos sempre teve um ensino complicado que foi piorado pela pandemia. Que um ou outro possa fazer algo diferente faz parte do desvio-padrão de todo experimento. Todavia, veja: ao dizer que os professores são maravilhosos e agentes do futuro, substitui-se a dignidade material que eles não têm, o apoio que não chega e a realidade dura por uma espécie de ópio entusiasmado.

Ser jovem idealista seria ser um imbecil feliz? Ser mais velho e com maior conhecimento (mais questionamentos) seria ser um imbecil triste? Onde entra a fé em tudo isso? Você já pensou sobre isso ultimamente?

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 Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com


Ingressos para debate com Pondé e Ilan Brenman poderão ser adquiridos, dia 28/09

Na compra de um exemplar do livro “Quem tem medo do lobo mau? O impacto do politicamente correto na formação das crianças”, a partir das 10h deste sábado na bilheteria do Teatro Iguatemi, clientes ganharão um ingresso para o evento que acontecerá em 2 de outubro

 Será realizada neste sábado, 28 de setembro, a distribuição dos ingressos para o debate entre os autores Luiz Felipe Pondé e Ilan Brenman sobre o tema do livro que escreveram em parceria — Quem tem medo do lobo mau? O impacto do politicamente correto na formação das crianças, agendado para o dia 2 de outubro no Iguatemi Campinas às 19h30. A partir das 10h, na bilheteria do Teatro Iguatemi, na compra de um exemplar do livro ao preço promocional de R$ 30,00, os clientes ganham um ingresso para participar do evento.

Quem nunca usou expressões do tipo "matar dois coelhos com uma cajadada só" ou "chutar cachorro morto"? Quem brinca de polícia e ladrão pode virar bandido? Games violentos criam assassinos? O filósofo Luiz Felipe Pondé e o escritor Ilan Brenman discutem questões como essas em novo livro da Papirus 7 Mares, Quem tem medo do lobo mau? O impacto do politicamente correto na formação das crianças (112 pp).

Hoje, a questão do que se pode falar ou de como se deve falar está bastante em evidência, e o politicamente correto vem sendo fonte de inúmeras polêmicas. Os autores explicam que esse tipo de pensamento esvazia a linguagem e produz um enfraquecimento do mundo simbólico, o que interfere negativamente na formação e no desenvolvimento de crianças e jovens.

Para ilustrar isso, Ilan conta no livro a história de uma mãe que, por medo de que o filho crescesse violento, sempre que ele ganhava um boneco que tivesse uma arma na mão, arrancava o braço do boneco. Mas o autor explica: "Ao negarmos às crianças brincadeiras por considerá-las estereotipadas, estimuladoras  de  violência, que reforçam papéis na sociedade etc., estamos rachando a infância, adoecendo essas crianças". E completa: "Crianças precisam de espaços onde o seu mundo simbólico possa se projetar. Se retirarmos isso delas, sobram inquietude, revolta, indisciplina, angústia".

Crianças são observadoras por natureza. Elas aprendem tolerância, respeito e igualdade observando os adultos que as rodeiam. Na opinião dos autores, não é proibindo histórias, brincadeiras e jogos que teremos adultos pacíficos. "A minha impressão é que as pessoas que se reuniram um dia e decidiram fazer um mundo melhor estão acabando com o mundo, na verdade, porque os jovens estão muito piores do que eram há 15 anos: inseguros, frouxos, medrosos", dispara Pondé. Para ele, essa verdadeira patrulha do pensamento surge como uma tentativa de resolver um certo esgarçamento de formação e de percepção, mas isso acaba engessando as reações, produzindo pessoas incapazes de lidar com as próprias emoções.

A leitura dessa obra nos faz refletir que talvez o lobo mau não viva apenas nos contos de fadas, mas esteja a nos espreitar na escola, na família, na política, na sociedade, enfim. Para enfrentá-lo, precisamos ser livres para pensar e nos expressar, e até reorganizar certos comportamentos e linguagens nossos.

Sobre os autores

Ilan Brenman nasceu em Israel em 1973, mas veio para o Brasil ainda criança, em 1979. É psicólogo formado pela PUC-SP, mestre e doutor em Educação pela USP, onde pesquisou a influência do politicamente correto na literatura infantojuvenil e na formação das crianças. Considerado um dos mais importantes autores de livros infantis no Brasil, tem quase uma centena de títulos publicados, muitos deles premiados e também traduzidos em diversos países, como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Suécia, Coreia e China. Seu best-seller é Até as princesas soltam pum, que já vendeu centenas de milhares de exemplares. Ilan ministra palestras por todo o Brasil e tem uma coluna semanal na rádio CBN, chamada Conversa de pai.

 Luiz Felipe Pondé é doutor em Filosofia pela USP e pela Universidade Paris VIII, com pós-doutorado pelas universidades de Tel Aviv (Israel) e Giessen (Alemanha). É coordenador e vice-diretor do curso de Comunicação e Marketing da Faap e professor da pós-graduação em Ciências da Religião da PUC-SP. Foi professor convidado da Universidade de Marburg (Alemanha), da Universidade de Sevilha (Espanha), da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e membro da Société Internationale pour l'Étude de la Philosophie Médiévale (Bélgica). Tem vários livros publicados e escreve para o jornal Folha de S.Paulo.

Serviço

Bate-papo com Luiz Felipe Pondé e Ilan Brenman e lançamento do livro Quem tem medo do lobo mau?

Data: 02/10/2019, quarta-feira

Horário: 19h30

Local: Teatro Iguatemi Campinas

Endereço: terceiro piso do Shopping Center Iguatemi Campinas (Av. Iguatemi, 777, Vila Brandina, Campinas, SP)

Telefone: (19) 3294-3166

www.teatroiguatemicampinas.com.br

Sobre o Iguatemi Campinas - O Shopping Center Iguatemi Campinas foi o primeiro shopping do Brasil construído fora das grandes capitais e tornou-se o melhor complexo de uso misto do interior de São Paulo.  Segundo shopping da Iguatemi Empresa de Shopping Centers e maior complexo da rede, são 388 operações com diversas opções de moda – marcas nacionais e internacionais –, gastronomia, casa/decoração, tecnologia, cultura e lazer.  Com um ambiente agradável e pensado nos mínimos detalhes, o empreendimento proporciona conforto e conveniência para seus clientes em um único lugar e apresenta diferenciais como o mais moderno teatro da cidade, dois complexos de cinema – incluindo um prime –, duas megalivrarias, além da única torre de estacionamento coberto entre os shoppings da região, com sistema de sinalização de vagas.