Um Safari pela Tanzânia - Coluna Volunturismo por Tatiana Garcia

A imagem que tinha sobre fazer um Safari era com nos desenhos ou filmes, onde os americanos se divertem muito. Mas, muita coisa mudou quando eu de fato estava lá, passei a não enxergá-lo como um lazer e sim uma aventura. Parecia que estávamos mesmo invadindo um território alheio, de animais selvagens prestes a nos atacar, quase que em um campo minado onde a batalha era feita de jipe.

Senti muita insegurança, vulnerabilidade e medo. Tudo começou com a escolha dos grupos, e foi aí que notei que era a única sozinha. Até aí tudo bem, o segundo fato que apareceu foi o de ter que ficar 4 dias sem tomar banho, mesmo com todo aquele pó. E por último, que demorava cerca de 10 horas para chegar até a savana. Demoramos horas até encontrar um animal, já estava cansada ao avistarmos a primeira girafa. No primeiro dia, nenhum animal selvagem. Ao acampar senti muito frio, mas logo peguei no sono porque o cansaço e o calor eram muitos.

No segundo dia, antes de chegar na região dos leões, o guia foi nos contando os “causos” que acontecem na savana. E foi aí que descobri a quantidade de turistas que já morreram ao descer do jipe para fazer um xixi ou esticar as pernas. É assustador. No segundo dia, há apenas 2 metros do acampamento avistei alguns búfalos, e eles ficavam soltos.

Eu jurava que tinha uma cerca ou algum tipo de proteção ao redor das tendas, mas não. Os animais ficavam soltos. Parece óbvio né, mas quando está por lá, é cruel dormir sabendo que eles estão todos passeando ao seu redor. Nesse dia, corri para a minha tenda, rezei e tentei dormir. Confesso que foi mais difícil dormir sem o banho, a sujeira já me incomodava bastante. Acabei me limpando com panos e tentei não pensar nisso para conseguir relaxar.

No terceiro dia passamos por inúmeros animais selvagens e leões; foi quando vi que a viagem passou a ser uma aventura radical. É impressionante a distância entre o jipe (literalmente aberto) e os animais. Eles te olham assustados diretamente nos olhos. Meu coração disparou e achei até a aventura um tanto quanto imprudente, uma vez que os animais são tão imprevisíveis. Somo nós que estamos invadindo seu território. Acredito que se qualquer coisa acontecer, não daria nem tempo de fugir. Mas, depois de toda essa adrenalina, fomos para o último dia de acampamento.

Achei que toda essa loucura estava chegando ao fim, até que no topo da Cratera de Ngorongoro, antes de entrar nas tendas o guia nos dá um aviso: pediu para guardas todos os cremes e produtos com cheiro. Isso para nenhum animal selvagem chegar. Nessa hora, senti o drama de estar acampando sozinha. Senti um calafrio, mas não tinha outra opção. Não conseguia relaxar; tive que ser forte, mas mesmo exausta não conseguia dormir. Escutava gritos de outros turistas, mas não sabia porque gritavam.

Comecei a falar sozinha para não enlouquecer, até que eu escuto uma respiração de um animal bem do lado de fora da tenda. Parecia ser grande, ele tentava cavar algo. Que desespero, um porco selvagem dormindo comigo do lado de fora? O animal mais perigoso da região. Alguns podiam até rasgar suas tendas em busca de comida.

A minha tenda era minúscula, tinha espaço apenas uma pessoa, eu podia sentir ele encostando em mim. Escutei-o por horas, e não dormi mais. Chorava de pavor e estresse pela aventura; quando vi já tinha amanhecido. Fomos para mais um dia de safari, dessa vez sem ter dormido, mais 10 horas de estrada e a aventura acabou. A primeira pergunta que escutei ao voltar, foi: “E aí, você gostou?”

Tatiana Garcia

Coluna Volunturismo

Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada.  Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br

                             

África - Tanzânia - O que a Tribo Maasai me ensinou - Coluna Volunturismo por Tatiana Garcia

 

  Escolhi, entre todos os países da África, a Tanzânia. Minha sede de aprender novas culturas e sentir o cheiro de uma terra tão sofrida acabaram me levando até Moshi. A maioria dos meus dias eram tomados pelo trabalho voluntário numa ONG de crianças com deficiências físicas e mentais. Até que em um dia recebemos a visita de um padre. A figura do padre na África representava imenso respeito e autoridade. Sabendo da minha ânsia por aprender, a dona da escola comentou com ele o meu interesse em visitar a tribo Maasai. O padre, encantado com a minha coragem, me convidou para participar da cerimônia de batismo na tribo. Os Maasai, com relatos de sua existência na Bíblia, levam uma a vida independente das outras tribos, sem perderem suas raízes. Eles são cristãos e de acordo com sua crença, todos já nascem com o pecado do nascimento. Este pecado só pode ser eliminado com o sacrifício de um animal, onde o mais comum é o carneiro. O batismo na tribo ocorre aos 15 anos de idade, tanto para meninos quanto para meninas. Fui convidada para o batismo dos meninos, uma celebração pública, onde eles são circuncidados como símbolo de libertação dos pecados.

 

A comunidade ficava bastante afastava do centro de Moshi. Ao chegar próximo ao local da cerimônia, o padre com muita humildade, me mostrou sua igreja, sua casa, seus familiares e ainda me ofereceu comida. Deixamos o carro e fomos a pé em direção à tribo. Eu era a única branca e estrangeira entre todos, mas isso não foi motivo para ser tão bem recebida. No meio de tantos olhares curiosos, eu fui recebida por lindos sorrisos e gestos de “seja bem-vinda”. Fomos então convidados a nos sentar na maior casa da tribo. Eu vestia minha roupa mais simples, mas ainda estava muito diferente de todos dali. Uma hora depois começou a cerimônia...

 

Tudo se iniciou aos cantos e danças das mulheres da tribo, eles vestiam roupas muito coloridas e alegres. Sentamos ao chão para escutar o líder, uma figura de maior autoridade que o padre, e foi ele que deu todo o discurso. Eu podia ficar horas ali apreciando a beleza daquele ritual. Depois do discurso veio o coroamento dos meninos de 15 anos, e logo em seguida, eles sumiram para serem circuncisados em privacidade. Voltaram ao som principal da tribo, que representava a vitória e início de uma nova fase. Esse momento foi o mais importante da cerimônia, todos rezavam e algumas mães choravam muito. Foi então que houve o sacrifício do carneiro, onde agradecemos pela comida e após os aplausos começamos o banquete e a grande festa. Eu pude sentir uma enorme paz naquele momento, todos tinham um semblante tranquilo e festivo. Os meninos agora já passavam a serem vistos como grandes homens, elegíveis de grandes tarefas.

 

        Ao observar todo aquele turbilhão de emoções, envoltos por suas roupas coloridas, pude de fato ter a certeza do real significado Maasai, que em Inglês significa: ‘I don’t do anything’; em português: ‘Eu não faço nada’. Essa é uma das principais filosofias da tribo e sua maneira de viver. Em seu lado mais profundo significa a aceitação da cultura, de seus rituais e de tudo que a vida lhes oferece. Mas além de aceitar, o segredo era ser feliz com tudo isso e amar a vida mesmo assim, sem relutar. Ao aceitar a sua própria realidade, com muita resiliência e força, nos tornamos mais íntegros; e por consequência, conseguimos sentir a felicidade em seu estágio mais puro. O sorriso sincero de cada um deles, desde o momento que cheguei até o meu último segundo na tribo, expressava o amor deles ao próximo. Esse foi meu maior aprendizado com a tribo, o de saber ser feliz e amar a todos come se tudo fosse um grande presente da vida.

Tatiana Garcia

Coluna Volunturismo

Além de empresária e empreendedora ela promove o Volunturismo no Brasil, uma prática de viajar com propósito! Porque não unir o útil ao agradável, não é verdade? Ela fez isso sozinha durante 2 anos consecutivos, e acabou realizando o grande sonho de dar a volta ao mundo. Conheceu 5 continentes, mais de 25 países, trabalhou em 10 ONG’s e teve sua vida totalmente transformada.  Durante sua viagem ela ajudou muitas crianças, comunidades e conheceu suas histórias; hoje ela se realiza compartilhando-as com o mundo. Instagram e Facebook: VoltaaoMundoPro e Site: tatianagarcia.com.br