No segundo dia, antes de chegar na região dos leões, o guia foi nos contando os “causos” que acontecem na savana. E foi aí que descobri a quantidade de turistas que já morreram ao descer do jipe para fazer um xixi ou esticar as pernas. É assustador. No segundo dia, há apenas 2 metros do acampamento avistei alguns búfalos, e eles ficavam soltos.
Eu jurava que tinha uma cerca ou algum tipo de proteção ao redor das tendas, mas não. Os animais ficavam soltos. Parece óbvio né, mas quando está por lá, é cruel dormir sabendo que eles estão todos passeando ao seu redor. Nesse dia, corri para a minha tenda, rezei e tentei dormir. Confesso que foi mais difícil dormir sem o banho, a sujeira já me incomodava bastante. Acabei me limpando com panos e tentei não pensar nisso para conseguir relaxar.
No terceiro dia passamos por inúmeros animais selvagens e leões; foi quando vi que a viagem passou a ser uma aventura radical. É impressionante a distância entre o jipe (literalmente aberto) e os animais. Eles te olham assustados diretamente nos olhos. Meu coração disparou e achei até a aventura um tanto quanto imprudente, uma vez que os animais são tão imprevisíveis. Somo nós que estamos invadindo seu território. Acredito que se qualquer coisa acontecer, não daria nem tempo de fugir. Mas, depois de toda essa adrenalina, fomos para o último dia de acampamento.
Achei que toda essa loucura estava chegando ao fim, até que no topo da Cratera de Ngorongoro, antes de entrar nas tendas o guia nos dá um aviso: pediu para guardas todos os cremes e produtos com cheiro. Isso para nenhum animal selvagem chegar. Nessa hora, senti o drama de estar acampando sozinha. Senti um calafrio, mas não tinha outra opção. Não conseguia relaxar; tive que ser forte, mas mesmo exausta não conseguia dormir. Escutava gritos de outros turistas, mas não sabia porque gritavam.
Comecei a falar sozinha para não enlouquecer, até que eu escuto uma respiração de um animal bem do lado de fora da tenda. Parecia ser grande, ele tentava cavar algo. Que desespero, um porco selvagem dormindo comigo do lado de fora? O animal mais perigoso da região. Alguns podiam até rasgar suas tendas em busca de comida.
A minha tenda era minúscula, tinha espaço apenas uma pessoa, eu podia sentir ele encostando em mim. Escutei-o por horas, e não dormi mais. Chorava de pavor e estresse pela aventura; quando vi já tinha amanhecido. Fomos para mais um dia de safari, dessa vez sem ter dormido, mais 10 horas de estrada e a aventura acabou. A primeira pergunta que escutei ao voltar, foi: “E aí, você gostou?”