Com A Idade Dourada, criador de Downton Abbey desbrava a Nova York do século 19
À primeira vista, A Idade Dourada (The Gilded Age), que estreia nesta segunda-feira (24) na HBO e na HBO Max, traz traços inconfundíveis de Downton Abbey: a trilha sonora suave, os figurinos e a direção de arte caprichados e os personagens que ou pertencem a uma distinta elite, ou orbitam em torno dela. Natural, já que a nova série tem o mesmo criador de sua antecessora, Julian Fellowes. Agora, no entanto, o showrunner deixa de lado a tradicional aristocracia britânica para acompanhar as altas classes da Nova York do fim do século 19.
“Me interessei por essa época mesmo antes de pensar em uma série de TV”, diz Fellowes em entrevista ao Omelete. “Pensava nesse fenômeno extraordinário das famílias que chegaram à Nova York depois da guerra civil, com suas fortunas em ferrovias, cobre e aço. E elas tentavam redefinir não só Nova York, mas redefinir como ser rico de uma forma americana, não pseudo-europeia. Eles conseguiram, e foram os precursores de homens como Jeff Bezos, que vão para a lua em seu próprio foguete”.
Esse embate entre a elite tradicional e a chegada dos “novos ricos” é um dos fascinantes conflitos centrais de A Idade Dourada, que se inicia com a jornada da jovem Marian Brook (Louisa Jacobson). Após a morte de seu pai, ela deixa a Pensilvânia para morar em Nova York com suas tias, a gentil Ada (Cynthia Nixon) e a ferina Agnes (Christine Baranski). Enquanto se adapta ao seu novo lar, Marian aos poucos vai aprendendo (e questionando) as regras da alta sociedade local, que torce o nariz para a chegada do empresário George Russell (Morgan Spector) e sua mulher, Bertha (Carrie Coon, fantástica).
Em meio a isso, Marian precisa pensar em seu futuro – o que significa pensar, também, em quem será seu futuro marido. “A coisa mais radical que ela precisa fazer é escolher quem ela quer ser e quem seu par será”, nota Louisa (que é filha de Mery Streep). “Era muito importante para as mulheres deste círculo se casarem bem para garantir uma vida estável, com oportunidades. Mas sabemos que isso trazia muitas limitações”.
Representatividade
O embate entre as elites, no entanto, não é o único foco de A Idade Dourada. Acompanhando uma tendência reforçada por Bridgerton e Dickinson, a série também abre espaço para personagens afro-americanos e suas experiências. É o caso da coprotagonista Peggy Scott (Denée Benton), uma jovem negra que aspira a ser escritora e que se torna amiga de Marian
“Senti que precisávamos de uma história afro-americana. Seria errado não abordar isso, já que estamos falando dos Estados Unidos apenas 14 anos após o fim da escravidão”, afirma Fellowes. Para tanto, ele fez uma parceria com a coprodutora e corroteirista Sonja Warfield, uma mulher afro-americana que já trabalhou em séries como Will & Grace e She-Ra e as Princesas do Poder. “Ela colaborou comigo em várias das tramas que criamos”, conta Fellowes.
E foi a partir das referências históricas trazidas pelos roteiristas – e de suas próprias experiências – que Denée criou sua Peggy Scott. “É como se ela fosse uma mulher da renascença, que usa a caneta como seu poder. Eu me conectei muito com ela assim”.
“Peggy acaba sendo essa ficção histórica de mulheres negras que navegavam por aqueles mundos na época. Eu me sinto muito emocionada por ser parte dessas vozes, porque não costumamos ver as histórias delas retratadas com frequência”, completa a atriz.
Os desafios de uma série de época
Ao Omelete, Christine Baranski diz que trabalhar na série foi “deliciosamente desafiador”. “É uma era muito rígida, na forma que as pessoas se comportavam e falavam. Então foi necessário fazer muita pesquisa para entender a época, o que eu recebi muito bem. Eu amo história, então amei adentrar aquela época”.
Para Cynthia Nixon, que também está no ar como a Miranda de And Just Like That, o revival de Sex and the City, o mais difícil foi achar o ponto certo dentro da ostentação que era vigente na época. “Hoje, uma das pessoas mais ricas do mundo é o Mark Zuckerberg, que usa camisetas. As pessoas têm muito dinheiro, mas tentam fingir que não têm; já na série, tudo está à mostra. Tivemos que aprender bastante esses costumes, para reproduzi-los de uma forma que ainda pareça humana”.
A Idade Dourada vai ao ar às segundas, às 23h, na HBO e na HBO Max.